O mapa municipal alterou-se nas últimas décadas na Turquia, com o conservador e islamista Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), liderado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, a dominar o centro e norte do país, enquanto o principal rival Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e nacionalista) -- que apresenta à reeleição em Istambul Ekrem Imamoglu, 52 anos -- prevalece na parte ocidental e mediterrânica.
Nas últimas eleições municipais, em 2019, o AKP venceu em 740 municípios face aos 240 do seu rival, mas as vitórias decisivas centram-se nas zonas com maior população e peso económico, assinala a agência noticiosa Efe.
A conquista das câmaras municipais de Istambul e Ancara pelo CHP em 2019 significou um duro revés para Erdogan, que agora centra o seu discurso na reconquista de Istambul.
Com 16 milhões de habitantes, a cidade é o motor financeiro, social e cultural da Turquia, para além de possuir um valor simbólico: entre 1994 e 1994 Erdogan foi presidente da câmara municipal e foi nesta grande metrópole que iniciou a sua carreira política, num mandato algo turbulento.
As últimas sondagens forneciam uma vantagem de cerca de 02% a Imamoglu face ao seu principal adversário, o ex-ministro do Urbanismo Murat Kurum, 47 anos, a aposta do AKP que governa a Turquia com maioria absoluta há mais de 20 anos, incluindo com acordos parlamentares, quando necessário.
Nas eleições de 2019, Imamoglu contou com o apoio em Istambul de dois outros importantes partidos da oposição, o Partido do Bem (IYI) de centro-direita e o Partido Democrático dos Povos (HDP), atualmente Partido da Igualdade e da Democracia (DEM), que representa a esquerda pró-curda do país.
Para o escrutínio de domingo ambos optaram agora por apresentar candidatos próprios, apesar de as sondagens indicarem que muitos dos seus habituais eleitores vão optar por Imamoglu.
O islamista Yeniden Refah (Novo partido da prosperidade), também apresenta um candidato próprio em Istambul, e atrai votantes religiosos dececionados com Erdogan por manter relações comerciais com Israel, apesar do seu discurso crítico face ao conflito na Faixa de Gaza.
Caso Imamoglu consiga a reeleição, já está a ser apontado como potencial candidato à presidência da Turquia nas eleições de 2028, às quais Erdogan não pode teoricamente apresentar-se.
Em declarações no passado dia 08 de março, Erdogan admitiu pela primeira vez o fim do seu poder ao assegurar que as municipais de 31 de março seriam as suas últimas eleições.
"Continuo a trabalhar sem parar. Corremos sem respirar porque, para mim, é uma final. Com a autoridade que me confere a lei, esta eleição é a minha última eleição", anunciou na ocasião o chefe de Estado, 70 anos, no poder como primeiro-ministro e depois como Presidente desde 2003.
Os críticos interpretaram estas declarações como uma forma de garantir a simpatia de apoiantes confrontados com a crise económica e uma inflação descontrolada, ou ainda uma estratégia para impor emendas constitucionais.
Para as eleições de domingo não se preveem alterações na capital, Ancara, também conquistada pelo CHP em 2019 e onde o atual presidente camarário, Mansur Yavas, mantém uma enorme vantagem face ao concorrente do AKP.
A corrida eleitoral em Esmirna, terceira cidade do país e bastião do CHP, está mais disputada, com o candidato social-democrata, Cemil Tugay, a partir com uma vantagem de apenas 03%.
Uma derrota em Esmirna e Istambul seria um duro golpe para a oposição e permitiria a Erdogan reforçar a sua liderança, enquanto uma vitória do CHP nas duas grandes cidades fortaleceria o campo social-democrata e contribuiria para recuperar da sua derrota nas presidenciais e legislativas de maio passado.
A vitória do partido de Erdogan também poderia impelir o líder turco a promover novas alterações constitucionais que lhe permitissem concorrer para além dos limites legais, assinala a agência noticiosa Associated Press (AP).
Analistas locais têm admitido que uma vitória do AKP, sobretudo em Istambul, poderia impelir Erdogan, 70 anos, a introduzir uma nova Constituição que lhe permitisse concorrer para além de 2028, quando termina o seu segundo mandato.
Erdogan e seus aliados não possuem atualmente suficientes lugares no parlamento para impor uma nova Constituição, mas um triunfo eleitoral poderia alterar a posição de diversos deputados conservadores.
Nas regiões predominantemente curdas do sudeste da Turquia, prevê-se que o DEM conquista a maioria dos municípios. Resta saber se o partido será autorizado em mantê-los, assinala a AP.
Em anos anteriores, o Governo de Erdogan afastou os responsáveis municipais eleitos por alegadas ligações aos militantes curdos, banidos pelo regime, substituindo-os por funcionários estatais obedientes a Ancara.