ANC quer Governo de Unidade Nacional para governar África do Sul

PorExpresso das Ilhas, Lusa,7 jun 2024 7:54

O Congresso Nacional Africano (ANC), que perdeu a maioria absoluta nas eleições gerais de 29 de Maio, anunciou hoje a intenção de formar um Governo de Unidade Nacional para os próximos cinco anos.

Em conferência de imprensa no final de uma reunião do Comité Nacional Executivo (NEC) realizada na noite de hoje, em Boksburg, arredores de Joanesburgo, o líder do partido no poder Cyril Ramaphosa, que é também Presidente da República, anunciou que o partido já manteve contactos com pelo menos cinco partidos.

"Já mantivemos discussões construtivas com vários partidos: os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), o Partido da Liberdade Inkata (IFP), a Aliança Democrática (DA), o Partido da Liberdade Nacional (NFP), e a Aliança Patriótica (PA)", anunciou.

"Também envolvemos os nossos parceiros de aliança tripartida [Partido Comunista da África do Sul (SACP) e confederação sindical COSATU] para informá-los sobre o processo e continuaremos a procurar as suas opiniões e orientações inestimáveis", adiantou.

Ramaphosa indicou que "um governo de unidade nacional é o mais viável, e eficaz para atender às expectativas de todos os sul-africanos neste momento" após as eleições mais contestadas dos últimos 30 anos na África do Sul.

O líder sul-africano, que enfrenta contestação pela ala interna mais radical do seu partido, e de Jacob Zuma - que recusa integrar uma solução de governação com "o ANC de Ramaphosa" -, avançou que "o ANC reconhece que atravessa um momento de consequência fundamental na vida da nação", acrescentando que "o nosso país requer liderança extraordinária, e coragem, para trilhar o caminho em frente".

"Temos que agir com rapidez, para salvaguardar a unidade nacional, paz, estabilidade, crescimento económico inclusivo, não racialismo, e não sexismo", apontou Ramaphosa, sublinhando que "o ANC irá garantir uma agenda progressista de transformação social e económica" na África do Sul.

"O Comité Nacional Executivo decidiu que o momento apela à cooperação multipartidária e colaboração multissectorial se quisermos ultrapassar os desafios severos que o nosso país enfrenta", adiantou.

Na óptica de Cyril Ramaphosa o "propósito" do modelo de Governo de Unidade Nacional "deve, acima de tudo, atender às expectativas dos sul-africanos, incluindo emprego, o crescimento da economia que seja inclusivo, o elevado custo de vida, serviços públicos, o combate ao crime e à corrupção", sem avançar detalhes.

"Estamos empenhados em garantir que um Governo de Unidade Nacional tenha as condições e a capacidade para construir uma economia inclusiva para criar postos de trabalho, combater o crime e a corrupção, e melhor a prestação de serviços para o nosso povo", reiterou.

"Qualquer acordo de trabalho com outros deve ser baseado num programa mínimo comum que se concentre em metas mensuráveis de crescimento económico e de inclusão, prestação de serviços e desenvolvimento, todos os partidos devem comprometer-se em partilhar a construção da nação e a coesão social", afirmou.

O líder sul-africano apontou que o "ANC tem diferenças ideológicas e políticas com vários outros partidos" no panorama político sul-africano, salientando que "todavia, não excluímos a possibilidade de trabalhar com qualquer partido no interesse público".

"A África do Sul precisa de um diálogo nacional", frisou.

Estas são as sétimas eleições democráticas desde o fim do regime segregacionista do 'apartheid', em 1994, ano em que Nelson Mandela foi eleito Presidente após a vitória do seu Congresso Nacional Africano (ANC), por 62,5%.

O ANC está no poder há 30 anos, mas perdeu a maioria absoluta nas eleições de 29 de Maio, caindo de 57,50% (230 deputados), em 2019, para 40,18% dos votos nacionais elegendo apenas 159 mandatos na Assembleia Nacional de 400 lugares.

O Aliança Democrática (DA), principal partido da oposição, obteve 21,8%, elegendo 87 deputados, mais 3 lugares do que nas últimas eleições com 20,77%.

O partido uMkhonto weSizwe (Partido MK) do ex-Presidente Jacob Zuma, que é também membro do ANC Governante, elegeu pela primeira vez 58 lugares no parlamento, sendo a terceira maior força política no país com 14,58% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral Independente (IEC).

O declínio do ANC é atribuído a "más políticas" do Governo, sobretudo depois de 2008, quando Thabo Mbeki, que sucedeu a Mandela, deixou a Presidência da República, dando lugar ao seu vice-Presidente Jacob Zuma, afastado, em 2018, pelo próprio partido devido a inúmeros casos de alegada corrupção.

No campo económico, dados oficiais indicam que a África do Sul, que registou um crescimento do PIB de 1,9%, em 2022, confronta-se com uma taxa de desemprego de 32,9% desde o primeiro trimestre de 2024, um dos principais temas eleitorais, a par da violência de género e da expropriação sem compensação da propriedade privada.

Actualmente cerca de 28 milhões de pessoas recebem subsídios sociais do Governo, e a sociedade sul-africana enfrenta também níveis de corrupção pública endémica, elevada pobreza, violência, e a degradação das principais infraestruturas e serviços públicos.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,7 jun 2024 7:54

Editado porAndre Amaral  em  26 jun 2024 12:20

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