Em conferência de imprensa no final de uma reunião do Comité Nacional Executivo (NEC) realizada na noite de hoje, em Boksburg, arredores de Joanesburgo, o líder do partido no poder Cyril Ramaphosa, que é também Presidente da República, anunciou que o partido já manteve contactos com pelo menos cinco partidos.
"Já mantivemos discussões construtivas com vários partidos: os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF), o Partido da Liberdade Inkata (IFP), a Aliança Democrática (DA), o Partido da Liberdade Nacional (NFP), e a Aliança Patriótica (PA)", anunciou.
"Também envolvemos os nossos parceiros de aliança tripartida [Partido Comunista da África do Sul (SACP) e confederação sindical COSATU] para informá-los sobre o processo e continuaremos a procurar as suas opiniões e orientações inestimáveis", adiantou.
Ramaphosa indicou que "um governo de unidade nacional é o mais viável, e eficaz para atender às expectativas de todos os sul-africanos neste momento" após as eleições mais contestadas dos últimos 30 anos na África do Sul.
O líder sul-africano, que enfrenta contestação pela ala interna mais radical do seu partido, e de Jacob Zuma - que recusa integrar uma solução de governação com "o ANC de Ramaphosa" -, avançou que "o ANC reconhece que atravessa um momento de consequência fundamental na vida da nação", acrescentando que "o nosso país requer liderança extraordinária, e coragem, para trilhar o caminho em frente".
"Temos que agir com rapidez, para salvaguardar a unidade nacional, paz, estabilidade, crescimento económico inclusivo, não racialismo, e não sexismo", apontou Ramaphosa, sublinhando que "o ANC irá garantir uma agenda progressista de transformação social e económica" na África do Sul.
"O Comité Nacional Executivo decidiu que o momento apela à cooperação multipartidária e colaboração multissectorial se quisermos ultrapassar os desafios severos que o nosso país enfrenta", adiantou.
Na óptica de Cyril Ramaphosa o "propósito" do modelo de Governo de Unidade Nacional "deve, acima de tudo, atender às expectativas dos sul-africanos, incluindo emprego, o crescimento da economia que seja inclusivo, o elevado custo de vida, serviços públicos, o combate ao crime e à corrupção", sem avançar detalhes.
"Estamos empenhados em garantir que um Governo de Unidade Nacional tenha as condições e a capacidade para construir uma economia inclusiva para criar postos de trabalho, combater o crime e a corrupção, e melhor a prestação de serviços para o nosso povo", reiterou.
"Qualquer acordo de trabalho com outros deve ser baseado num programa mínimo comum que se concentre em metas mensuráveis de crescimento económico e de inclusão, prestação de serviços e desenvolvimento, todos os partidos devem comprometer-se em partilhar a construção da nação e a coesão social", afirmou.
O líder sul-africano apontou que o "ANC tem diferenças ideológicas e políticas com vários outros partidos" no panorama político sul-africano, salientando que "todavia, não excluímos a possibilidade de trabalhar com qualquer partido no interesse público".
"A África do Sul precisa de um diálogo nacional", frisou.
Estas são as sétimas eleições democráticas desde o fim do regime segregacionista do 'apartheid', em 1994, ano em que Nelson Mandela foi eleito Presidente após a vitória do seu Congresso Nacional Africano (ANC), por 62,5%.
O ANC está no poder há 30 anos, mas perdeu a maioria absoluta nas eleições de 29 de Maio, caindo de 57,50% (230 deputados), em 2019, para 40,18% dos votos nacionais elegendo apenas 159 mandatos na Assembleia Nacional de 400 lugares.
O Aliança Democrática (DA), principal partido da oposição, obteve 21,8%, elegendo 87 deputados, mais 3 lugares do que nas últimas eleições com 20,77%.
O partido uMkhonto weSizwe (Partido MK) do ex-Presidente Jacob Zuma, que é também membro do ANC Governante, elegeu pela primeira vez 58 lugares no parlamento, sendo a terceira maior força política no país com 14,58% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral Independente (IEC).
O declínio do ANC é atribuído a "más políticas" do Governo, sobretudo depois de 2008, quando Thabo Mbeki, que sucedeu a Mandela, deixou a Presidência da República, dando lugar ao seu vice-Presidente Jacob Zuma, afastado, em 2018, pelo próprio partido devido a inúmeros casos de alegada corrupção.
No campo económico, dados oficiais indicam que a África do Sul, que registou um crescimento do PIB de 1,9%, em 2022, confronta-se com uma taxa de desemprego de 32,9% desde o primeiro trimestre de 2024, um dos principais temas eleitorais, a par da violência de género e da expropriação sem compensação da propriedade privada.
Actualmente cerca de 28 milhões de pessoas recebem subsídios sociais do Governo, e a sociedade sul-africana enfrenta também níveis de corrupção pública endémica, elevada pobreza, violência, e a degradação das principais infraestruturas e serviços públicos.