De acordo com o mais recente balanço daquela Organização Não-Governamental (ONG) moçambicana que monitoriza os processos eleitorais, com dados até ao final de quinta-feira, só em quatro dias morreram 36 pessoas na cidade de Maputo e 20 na província, sul do país, além de 34 em Nampula, no norte, e 33 em Sofala, centro.
Ainda desde segunda-feira, aquela ONG contabilizou 228 pessoas baleadas, das quais 62 na cidade de Maputo e 37 na província de Maputo, bem como 43 em Nampula e 65 em Sofala.
Desde 21 de outubro, quando começou a contestação ao processo em torno das eleições gerais de 09 de outubro, o registo da plataforma eleitoral Decide contabiliza 573 pessoas baleadas em todo o país, além de 261 mortos e seis desaparecidos.
Somam-se ainda 4.199 detidos desde o início da contestação pós-eleitoral, 161 dos quais desde segunda-feira.
Moçambique vive desde segunda-feira em tensão social na sequência do anúncio dos resultados finais das eleições gerais, marcados nos dias anteriores por saques, vandalizações e barricadas, nomeadamente em Maputo.
O Conselho Constitucional de Moçambique proclamou na tarde de segunda-feira Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 09 de outubro.
Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane - que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos - nas ruas, barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Pelo menos 1.534 reclusos evadiram-se na tarde de quarta-feira da Cadeia Central de Maputo, de máxima segurança, disse o comandante-geral da polícia, afirmando tratar-se de uma ação "premeditada" e da responsabilidade de manifestantes pós-eleitorais e em que morreram 33 pessoas.
"Esperamos nas próximas 48 horas uma subida vertiginosa de todo o tipo de criminalidade na cidade de Maputo", afirmou Bernardino Rafael, em conferência de imprensa na noite de quarta-feira, garantindo que entre os reclusos em fuga, dos quais apenas 150 foram recapturados, estão 29 "terroristas", alguns "altamente perigosos".
Segundo o comandante-geral da polícia, a evasão da Cadeia Central de Maputo, na cidade da Matola, a 14 quilómetros do centro da capital moçambicana e que contava com cerca de 2.500 condenados e detidos, resultou da "agitação" de um "grupo de manifestantes subversivos" nas imediações.
Contudo, antes desta conferência de imprensa, a ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, tinha garantido que esta fuga resultou de um motim no estabelecimento prisional e que não estava relacionada com os protestos pós-eleitorais.
Numa intervenção a partir da rede social Facebook, Venâncio Mondlane acusou, entretanto, as autoridades de terem propositadamente deixado sair estes reclusos, com o objetivo de manipular as massas e desviar o foco da sociedade.
"Foi tudo propositado. São técnicas de manipulação de massas à moda dos serviços secretos soviéticos (...) para que as pessoas parem de falar na fraude eleitoral. Querem desviar o nosso foco", declarou Mondlane, acusando também as autoridades de terem "sacrificado" alguns dos reclusos evadidos.
Mondlane afirmou que as manifestações não vão parar, pedindo aos seus apoiantes que "intensifiquem" os protestos, evitando, no entanto, a destruição de bens públicos e privados.
"O nosso foco não são os empresários e os seus estabelecimentos comerciais. O nosso foco são as instituições que fizeram esta fraude. É lá onde as manifestações devem ocorrer", disse.