Isto implica de definir e por em prática um novo paradigma de desenvolvimento económico uma vez que a graduação significaria o escassear de recursos financeiros a baixo custo e outros donativos [2] que tem vindo a constituir uma viga maior na arquitetura económica da maioria dos países pobres, em particular os de África subsariana.
Com efeito, hoje em dia o cenário da cooperação internacional já mudou radicalmente e demonstra um cariz de maior propensão a relações meramente comerciais entre economias, em vez de ajuda ao desenvolvimento de estado a estado.
Por este motivo, já passou a ser quase antiquado e, de certa forma, impudente, falar em relações de doador a recipiente de ajuda ao desenvolvimento, tendo mais proeminência e relevância os conceitos de investimentos direito estrangeiro, cooperação técnica bilateral, empréstimos a taxas de mercado e por ai fora.
Esta contextualização da cooperação internacional coloca, de forma brutal mas também oportuna, a questão duma afirmação económica descomplexada dos países africanos, em particular subsarianos, no cenário internacional como única saída para a sua sobrevivência como nações independentes e que pudessem gozar de algum prestígio.
Este artigo pretende, a luz do caso admirável da Singapura principalmente, contribuir à reflexão sobre a melhor forma de acelerar o dinamismo de desenvolvimento das economias de África subsariana.
Singapura, um pais pequeno e sem recurso que se tornou rico em 50 anos
Singapura é o caso emblemático de país pequeno, sem recursos naturais e sem mercado doméstico significante que conseguiu desenvolver sua economia de forma espetacular.
Foi estabelecida como uma cidade portuária em 1819 pelo Reino Unido e a funcionar como uma economia de entreposto de comércio, o que também tem ocorrido com Hong Kong. Este país situado na Ásia do sudeste, na extremidade da península da Malásia, tem uma área total de apenas 719,9 Km 2[3].
A partir da sua independência em 1965 o desenvolvimento de Singapura aconteceu em mais ou menos 50 anos, o rendimento per-capita atingindo US$ 57.714 em 2017 a partir dum nível de US$ 516 em 1965 [4]. Hoje em dia Singapura é um dos quatro tigres asiáticos com a região administrativa especial de Hong Kong, a Coreia do Sul, e Taiwan província de China.
O progresso económico de Singapura aconteceu por cinco fases que respondiam a uma estratégia global de fazer avançar a industrialização criando rapidamente novos postos de emprego.
A primeira fase, durante os anos 1960s, foi de estabelecimento de indústrias de alta intensidade de mão-de-obra tais como fábricas de vestidos, têxteis, brinquedos, bobinas de mosquito, produtos de madeira e perucas. Na segunda fase, a partir dos anos 1970s, Singapura diversificou a sua economia apostando em quatro setores industriais estratégicos – eletrónica, engenharia de precisão, química e ciências biomédicas – que tem servido como âncoras para o desenvolvimento industrial. Na terceira fase (anos 1980s), na quarta fase (anos 1990s) e na quinta fase (a partir de 2000s) Singapura apostou em fomentar investimentos de grande envergadura e adotou políticas encorajadoras do uso intensivo da tecnologia e das atividades de pesquisa e inovação [5].
Hoje em dia, sem possuir nenhum poço de petróleo, Singapura é um dos três maiores centros múndias para refinação e exportação deste commodity tendo passado do simples comércio do petróleo para um processo de geração de valor acrescentada [6].
Nas áreas das ciências biomédicas e farmacêuticas Singapura se ilustra por ter apostado na atracão de empresas qualificadas e na formação de quadros locais. As empresas locais foram fomentadas através de empréstimos e incentivos, e a este propósito tem de se destacar o papel fundamental do EDB ( Economic Development Board,www.edb.gov.sg), organismo estatal que continua a ter por missão de levar a cabo a planificação industrial, o desenvolvimento, e a promoção de investimentos.
Assim de país pobre em 1965, Singapura tornou-se hoje em um “ Total Business Center” – um paradigma que combina a presença de indústrias e de know-how técnico com oportunidades de criar laços de negócio estratégicos – e foi identificada como a segunda economia mais competitiva do mundo em 2018, apenas atrás os Estados Unidos da América [7].
Joseph Martial Ribeiro é cabo-verdiano, residente em Luanda, representante do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Ph.D. em hidrologia (Ecole Polytechnique de Montreal, Canada, 1994); MBA (University of Cumbria, Reino Unido, 2017); Diplomado em ciências políticas (Universidade de Londres, Reino Unido, 2014); e Engenheiro Civil (Ecole Polytechnique de Thiès, Senegal, 1989). É autor de três livros em Gestão de projectos e de vários artigo de natureza científica no domínio da hidrologia). O artigo reflecte apenas as opiniões pessoais do autor.
[1]A avaliação é feita todos os três anos pelo Committee for Development Policy das Nações Unidas. Cabo verde foi retirado da lista dos países menos desenvolvidos e graduou para o patamar de país em desenvolvimento em 20 de dezembro de 2007, a seguir o Botsuana que graduou em 1994. As Ilhas Maldivas, Samoa e a Guiné-Equatorial graduaram respetivamente em 2011, 2014 e 2017. Estão previstos a graduação de, entre outros países, Angola em 2021 e São Tomé e Príncipe em 2024. (Ver Committee for Development Policy. Review of the list of Least Developed Countries, New York, 16-17 January 2011: http://www.un.org/en/development/desa/policy/cdp/...
[2] A graduação assente na avaliação favorável de três critérios – rendimento nacional per-capita; desenvolvimento humano e resiliência a choques económicos externos – e implica que o país perca acesso a determinados apoios internacionais tais como nas áreas do comércio, da ajuda ao desenvolvimento e da luta contra as mudanças climáticas. (Ver UN Office of the High Representative for the Least Developed Countries, Landlocked developing countries and small island developing states, http://unohrlls.org/about-ldcs/criteria-for-ldcs/...
[3]Britannica . (2018, 12). Britannica.com. Retrieved from Singapore: https://www.britannica.com/place/Singapore
[4]Banco Mundial. (2019). GDP per capita (Current US $). Retrieved from The World Bnak Data: https://data.worldbank.org/indicator/NY.GDP.PCAP....
[5]Fundo Monetário Internacional. (2016). Breaking the oil spell - the gulf's falcons path to diversification. Washington D.C.: Fundo Monetário Internacional - Cherif, R.; Hasnov, F.; Zhu, M. Editors.
[6]Ibidem
[7]World Economic Forum. (2018). The global Competitiveness Report 2018. Geneva: World Economic Forum. Editor Prof. Kalus Schwab.