Estamos passando por um momento histórico das nossas vidas, atravessando uma das maiores crises deste século, com impacto imprevisível ao nível da saúde pública, social, económico e financeiro.
O momento é de mobilização onde todos, ou quase todos estão lutando pela sobrevivência e manutenção da nossa música que ficou pelo silêncio das noites, como imposição da Covid-19,sem meios para tal. Nestes últimos dias, venho reflectindo sobre o que a nossa classe vem passando nos últimos meses, anos e décadas e algumas perguntas devem ter respostas: quem são os principais sujeitos que fazem acontecer a música cabo-verdiana, ontem, hoje e de amanhã?!
Quem são os sujeitos que bem ou mal levaram a nossa Morna a ser considerada pela UNESCO como Morna Património Imaterial da Humanidade?
Quem são os sujeitos que bem ou mal cantaram, interpretaram com vários instrumentos musicais a nossa Morna, hoje conhecida mundialmente?
Somos nós artistas, músicos e autores que fazemos desta arte a nossa vida, conservamos e criamos os vários estilos, géneros e ritmos. Somos nós: sem músicos, não há música! A indústria de CDs, DVDs, as rádios não teriam tanto impacto; assim como os canais de televisão de todo o globo que são alimentados com shows de artistas: os festivais; os bailes e animações em casamentos; carnavais, etc..,etc.
Apesar do respeito aos que participam nesta luta, como sendo as entidades oficiais, os produtores veteranos e da nova geração, todos temos um discurso em prol de uma política cultural mais justa neste país, deparamos com a situação de serem poucos os que se preocupam com os nossos artistas. Como vivem o seu dia-a-dia, a sobrevivência, através da música seu “ganha-pão”, seu salário mensal, seu sustento familiar!
Ao ouvir a entrevista concedida à RCV (sexta-feira, dia 03 de Abril p.p.) pelo Senhor Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas Dr. Abraão Vicente (que subscrevo) concordo quando esclareceu sobre os fundos postos à disposição da Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA) e da Sociedade Cabo-verdiana de Música. Percebi a preocupação do governante, denunciando que essas organizações remetem as responsabilidades do sustento dos artistas, nesta crise, ao Estado, quando receberam milhões de escudos e não apresentam contas às entidades competentes na matéria. Fiquei de queixo caído, pois não acredito que isso esteja acontecendo! Doa a quem doer, as responsabilidades devem ser assacadas. Com o dinheiro do Estado (de todos nós) não se brinca! Que ninguém me peça ou me diga para não me pronunciar sobre esta matéria e deixar tudo como vem funcionando e de não dar razão ao Senhor Ministro da Cultura.
Como músico e percussionista, defendo sempre os nossos artistas e devemos todos estarmos solidários com, por exemplo o TOTINHO (saxofonista) BRUNO (baterista) JOSIMAR (vocalista) ALBERTINO (vocalista) INEIDA MONIZ (vocalista) NATÓ (vocalista) IVAN MEDINA (guitarrista) NHO NANI E BANDA. Enfim, vários outros vivendo exclusivamente da música, necessitam de apoio material, espiritual e de um fundo social contributivo dos nossos artistas no geral. Esse papel importante deve ser de todos nós, do Estado, através do Ministério da Cultura e das Indústrias Criativas, via ao Fundo Autónomo da Cultura, da SOCA, da SCM, das Câmaras Municipais, dos privados, enfim a Nação reconhece que os artistas são a classe que alimenta o espirito.
Bem-haja a música!
Com respeito, sou,
JORGE LIMA
Percussionista do conjunto Os Tubarões