Duas semanas antes tinha feito um atelier na colonia de férias da Academia Cesária Évora, onde tentamos viajar pela música, mostrando às crianças os diferentes géneros musicais: da erudita ao Jazz, do Rock à World-music…etc.
Em parceria com a professora Betty Gonçalves, fizemos audições com as crianças, conversas, imagens nas quais elas tentavam passar para as cores e pastas de papel as sensações que lhe foram invadindo ou os instrumentos que iam conhecendo.
E assim passamos duas semanas.
Há dias, ligou-me uma das mães de um dos alunos a contar-me que o bocadinho que passamos para o Bruno de música, cantada e contada, desenhada e moldada ficou nele gravado, tendo continuado a falar de música nas semanas que se seguiram.
Pois, o nosso pequeno Bruno apaixonou-se … ou melhor…foi buscar a paixão latente, as notas que nele descansavam e reativou-as.
Porque?
Porque a música escolheu-o.
Ao longo dos meus anos de contacto com esta arte, muitas estórias fui ouvindo, de idosos que se ligam fortemente à música, sem o ter feito antes, de adultos que de repente com ela se envolvem e sobretudo a parte mais preciosa: a das crianças que escolhem violões, violinos, baterias ou pianos para seus “brinquedos”. Muitos enamoram-se e seguem vida fora de mãos dadas.
Música…
Repare-se que não falo aqui de academia (sem desvalorizar – de todo - esta parte), mas sim daquela parte que não vem nos livros.
A tal que Bruno redescobriu, pois acredito que tudo já la estava com ele.
Na sexta-feira, o Bruno vai ser convidado para um espectáculo do qual farei parte da produção.
O espetáculo chama-se ALMA e acredito que o Bruno vá sonhar a ver os seus amigos instrumentos. … todos os Brunos…todas as Amas…todas as músicas…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1034 de 22 de Setembro de 2021.