O Poder Local é melhor representação desse bem maior que os políticos têm a obrigação de aspirar. Em nenhuma outra eleição a proximidade é tão relevante, tão sincera e tão direta. Quando votamos numas eleições autárquicas, votamos no nosso vizinho, naquela pessoa que conhecemos, que nos conhece, que conhece os problemas do nosso bairro, da nossa rua e da nossa casa. Não há momento político mais marcante que conhecer os nossos eleitores pelo nome e nos emocionarmos com as suas vidas. Saber ouvir, saber estar na pele dos outros e saber que, no final, podemos fazer algo que mude de forma relevante as suas vidas, deve ser a ambição de todos aqueles que irão a votos no próximo dia 1 de Dezembro.
Uma história de liberdade
Quando há trinta e três anos, Cabo Verde assistiu às primeiras eleições autárquicas em liberdade, o país era muito diferente. No entanto, o espírito de umas eleições autárquicas mantêm-se igual. Parece-me importante olhar para a nossa História. Cabo Verde não existe apenas desde a independência e os nossos municípios também não. Ainda o Mundo vivia no século XV e já Cabo Verde via nascer o seu primeiro município. Na Ribeira Grande de Santiago nascia uma história que sempre se ligou às comunidades e às suas individualidades.
A defesa da comunidade foi, durante séculos, um garante de liberdade e de direitos para aqueles que viviam e partilhavam problemas e ambições comuns. É factual que os problemas vividos por uma determinada comunidade, podem ter (e muitas vezes não têm) muita relação com os problemas de outras comunidades. E para os temas que são transversais existia o governo central.
Durante o Estado Novo português, esta liberdade e autonomia foi perdida em grande parte. Um poder centralizado e ausente das vidas locais, asfixiou as autarquias e em muito explicou o declínio das populações e da sua qualidade de vida e aspirações. Um poder local fraco, empobrece as populações e desequilibra uma sociedade.
A I República não alterou isso, e com a propaganda da independência manteve a ausência de liberdade. Não existia poder local, mas apenas uma fraca delegação do poder centralizado de que mantinha um país vergado e empobrecido. Com o final da década de 80, Cabo Verde lutou pela criação das bases para as Autarquias municipais, as normas para as eleições Municipais, e ainda o funcionamento e organização dos municípios. O caminho era longo, mas valia a pena pelas pessoas, as tais sem as quais nada mais faz sentido.
Finalmente, em Dezembro de 1991, os nossos pais e avós levaram de volta a liberdade às cidades, aos bairros e às ruas, e uma história de cinco séculos pode voltar a ser escrita por aqueles que vivem, trabalham e sonham todos os dias no nosso país. É por esta história de liberdade, é por este legado de dedicação ao mais próximo que é importante honrar com o nosso voto o momento eleitoral do próximo dia 1 de Dezembro.
As eleições de 2024
Como já tive a oportunidade de expor anteriormente, umas eleições autárquicas devem servir para as populações votarem nos projetos locais que melhor representam as suas ambições e a resolução dos seus problemas. A política local é aquela que lida com maior proximidade, e que mais impacto pode ter, na resolução dos problemas quotidianos dos cidadãos e na criação de comunidades mais fortes.
Existe a tentação de em momentos como este de projetar no voto os possíveis descontentamentos com políticas nacionais. O voto de protesto assume, por vezes, o fator motivador na decisão de voto de um cidadão. Este é um risco perigoso e que pode gerar consequências contrárias aquelas que quem o pratica tem como objetivo.
A escolha deve ser no melhor projeto para o meu município e não na decisão de castigar um candidato do partido no poder nacional, mesmo que ele tenha o melhor projeto para a comunidade, apenas porque estamos insatisfeitos com o rumo nacional do país. Para isso existem eleições legislativas e presidenciais. O impacto de uma má escolha para o nosso bairro é muito maior nas nossas vidas do dia a dia, e um mau candidato não se torna num bom candidato apenas porque queremos castigar determinado partido.
Não sou comentador, nem analiso sondagens ou estados de espírito. Tenho responsabilidades políticas e afiliações conhecidas e vincadas. Não me compete comentar fins de ciclos ou projeções futuras. Importa-me lutar para que todos os nossos cidadãos tenham uma vida melhor, uma rua melhor, um bairro melhor e uma cidade melhor. Para isso, levanto-me para que todos possam ser incentivados a usar o seu direito de voto e que o façam pela positiva, pela escolha do candidato e do projeto que melhor defenda o seu bairro.
Acredito que a política é feita de pessoas para pessoas. Acredito numa Visão em que cada casa, cada cidadão têm a importância máxima. Acredito que nestes momentos devemos defender cinco séculos de um povo que é único e que merece ser livre, próspero e respeitado.
Termino com um apelo. No próximo dia 1 de Dezembro vamos todos fazer ecoar bem forte a liberdade pela qual os nossos pais e avós lutaram. No próximo dia 1 de Dezembro vamos dizer presente nas mesas de voto e vamos votar, vamos mostrar que os nossos direitos conquistados são nossos e os usamos para os nossos filhos e netos também possam ter um Cabo Verde melhor. Nós os políticos estaremos à altura desse voto, saberemos ouvir esse voto e acredito que só assim podemos aspirar a um país projetado no futuro, que respeita o seu passado e que honra as suas pessoas no presente.
A viagem tem sido maravilhosa e promete ser longa e linda, o destino é um Cabo Verde de liberdade, de igualdade e de felicidade, mas a companhia, essa é a mais importante de todas e faz-se de todos e reforça-se em momentos como este. A quem vai votar o meu obrigado, a quem pensa em não votar peço-lhe que não deixe nas mãos dos outros as decisões do seu destino e que confie que só com o voto o futuro será uma realidade.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1200 de 27 de Novembro de 2024.