A Educação Artística (EA) deve ser um elemento central no currículo escolar, promovendo um ensino dinâmico que integre cor, som e movimento. Mais do que uma disciplina complementar, as artes visuais, a música, a dança e o teatro enriquecem a experiência educativa, estimulando a criatividade, o pensamento crítico e a expressão individual.
No entanto, tal como o desporto e o contacto com a natureza, continuam frequentemente marginalizadas no ensino, limitando a capacidade dos alunos de interpretar o mundo e desenvolver a sua expressão criativa.
A Arte como Linguagem Viva
Desde sempre, a arte tem sido um meio essencial de comunicação e transformação social, alargando horizontes culturais. Através das diversas formas de expressão artística, os alunos desenvolvem uma percepção crítica da realidade, fortalecem a inteligência emocional e exploram diferentes linguagens culturais, promovendo a compreensão da diversidade.
Apesar do seu valor, a EA continua subestimada, inserida num modelo de ensino que privilegia a transmissão de conhecimentos e negligencia a expressão artística. A falta de investimento nesta área ignora o seu papel essencial na inovação e no desenvolvimento de competências fundamentais.
Estudos demonstram que a interacção com as artes potencia o desempenho académico, estimula a memória e favorece o desenvolvimento emocional e social. O teatro fortalece a comunicação e a empatia, a música aperfeiçoa a coordenação motora e a percepção auditiva, a dança promove a consciência corporal e as artes visuais incentivam a criatividade e a análise estética.
Espaços que Inspiram e Formam
O Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD), sediado em Mindelo, desempenha um papel fundamental na valorização da educação artística em Cabo Verde.
Como um espaço dinâmico de experimentação e formação, proporciona aos alunos e artistas oportunidades únicas de contacto com diversas expressões artísticas através de exposições, oficinas, residências e programas educativos.
Um papel semelhante poderia ser desempenhado na Praia pelo Palácio da Cultura Ildo Lobo.
Para além do desenvolvimento artístico individual, o CNAD também promove a formação de públicos, despertando o interesse e a sensibilidade estética na sociedade. Assim, fortalece a identidade cultural nacional e impulsiona a profissionalização do sector artístico, contribuindo para o crescimento das Indústrias Criativas como um eixo estratégico de desenvolvimento.
A Música como Expressão e Cultura
A música é um dos pilares da identidade cabo-verdiana, reflectindo o sincretismo cultural das ilhas. Géneros como a morna, a coladeira, o funaná e o batuque traduzem emoções e narrativas passadas de geração em geração. No entanto, apesar da sua riqueza, continua marginalizada no ensino formal, desperdiçando-se o seu enorme potencial educativo e cultural.
A integração estruturada da música no currículo poderia enriquecer significativamente a aprendizagem, promovendo o desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos alunos. Contudo, a falta de investimento na formação de professores especializados e a inexistência de programas consistentes dificultam a sua valorização como ferramenta pedagógica.
Superar Barreiras, Ampliar Horizontes
A visão restritiva do papel da escola na sociedade também contribui para esta marginalização. A priorização da preparação para um mercado de trabalho desactualizado penaliza a oportunidade de reconfigurar o modelo educativo e adaptá-lo às transformações contemporâneas. Num mundo onde a inteligência artificial e o acesso imediato ao conhecimento redefinem as competências necessárias, atributos humanos como a inteligência emocional, a imaginação e a cooperação tornam-se ainda mais valiosos. Assim, a criatividade e a inovação devem ocupar um papel central na educação.
Torna-se essencial redefinir a abordagem à Educação Artística, assegurando a sua presença estruturada e contínua nos currículos escolares. O Plano Estratégico da Educação e Ensino Superior 2022-2026 sublinha a necessidade de investir na formação de professores especializados, melhorar as infraestruturas e criar programas interdisciplinares que integrem as artes noutras áreas do conhecimento.
Para além disso, recomenda-se a expansão dos cursos técnicos e profissionais nas Indústrias Criativas, proporcionando novas oportunidades aos estudantes que desejam seguir carreiras no sector artístico. Estas medidas são fundamentais para construir um sistema educativo mais inclusivo, diversificado e alinhado com as exigências do mundo contemporâneo.
Educação com Ritmo, Cor e Movimento
Se o objectivo da educação é formar cidadãos críticos e criativos, a arte deve ocupar um lugar de destaque na escola. Mais do que ensinar técnicas artísticas, trata-se de proporcionar uma ferramenta para interpretar o mundo. A Educação Artística não é um luxo, mas uma necessidade para uma sociedade mais humanizada e inovadora.
Investir na arte no ensino fortalece uma cultura de sensibilidade, criatividade e diversidade. Para enfrentar os desafios do futuro, é essencial que os alunos desenvolvam a capacidade de pensar de forma original, comunicar com autenticidade e compreender o valor da arte como expressão universal da experiência humana. O reforço da Educação Artística deve ser uma prioridade, garantindo que todas as crianças e jovens tenham acesso ao vasto universo de possibilidades que a arte proporciona.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1239 de 27 de Agosto de 2025.