A mesma fonte informa ainda que as autoridades portuguesas ainda esperam pela conclusão de todos os exames forenses, adicionais à autópsia, para esclarecerem as circunstâncias da morte e, assim, prosseguir com as investigações.
Entretanto, a PJ conseguiu identificar a maioria dos cerca de 15 homens que hipoteticamente participaram nas agressões a Giovani e alguns amigos deste.
O caso
Segundo noticiou a agência portuguesa Lusa, tudo terá começado num bar de Bragança, identificado por Lagoa Azul, situado no centro dessa cidade do norte de Portugal. Foi aí que, na noite de 20 de Dezembro, Giovani e três amigos, também cabo-verdianos, terão ido, para uma noite normal de diversão. Na fila para pagar o consumo, de acordo com declarações de um primo de Giovani, um dos rapazes deu um toque “não intencional” numa rapariga. O namorado dela, segundo relatam, não terá gostado e daí deu-se origem a uma confusão.
Dentro do bar, os empregados trataram de amenizar os ânimos e o grupo de cabo-verdianos ficou algum tempo a mais dentro do estabelecimento. Durante esse tempo, o outro grupo ter-se-á organizado e munido de cintos, paus e ferros para esperar pela saída dos estudantes de Cabo Verde.
Logo ao saírem, relatam as mesmas fontes, Luís Giovani dos Santos Rodrigues terá sido agredido por vários homens. Transportado para um hospital de Bragança, de onde foi evacuado para um outro na cidade do Porto, o jovem estudante acabou por morrer no dia 31 de Dezembro, segundo o comunicado da Embaixada de Cabo Verde em Lisboa.
Caso suscita reacções políticas
O Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, fez saber que está a acompanhar, através da Embaixada em Lisboa, os contornos da “morte brutal” de Luís Rodrigues. O primeiro-ministro, Ulisses Correia, classificou o caso de “lamentável”, mas indicou que o mesmo não belisca as relações entre os dois países.
O Governo português, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, reagiu lamentado a morte do jovem e deixando garantias de que os responsáveis serão identificados e levados à justiça.
A presidente do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), Janira Hopffer Almada, defendeu que sejam pedidas explicações ao Governo português sobre a “bárbara” morte de Giovani, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades, Luís Filipe Tavares, pediu “celeridade” no “esclarecimento cabal” pelas autoridades portuguesas.
A Embaixada de Cabo Verde em Portugal anunciou, na segunda-feira, através de um comunicado publicado na sua página na rede social Facebook, que vai comprometer-se a assumir os encargos com a contratação de um advogado especialista em direito criminal, para tratar do caso da morte de Luís Giovani dos Santos Rodrigues.
Vários representantes dos partidos políticos portugueses também já se manifestaram. Entre eles está Joacine Katar Moreira, deputada do partido Livre, que emitiu, no domingo (05), um comunicado de “consternação”, onde evoca uma “vida interrompida pela violência e pelo ódio, seja ele racial ou outro” e aponta a importância da luta contra o ódio, no reforço da democracia.
Homenagens à Giovani
A morte de Luís Giovani Rodrigues está a causar várias reacções de insatisfação no seio dos cabo-verdianos. Por vários pontos da diáspora e do país, estão a ser organizadas marchas silenciosas, a decorrer em simultâneo, para se fazerem sentir as vozes de indignação perante o caso.
Em declarações ao Expresso das Ilhas, um dos mentores da iniciativa, Júnior Lima, a iniciativa surgiu devido à “sede de justiça e de esclarecimentos” sobre o caso.
“Queremos que a justiça e o esclarecimento deste caso venham a público para que todos fiquem esclarecidos. Estamos indignados com a forma como este caso foi tratado. Vários dias se passaram e nada de justiça”, manifestou.
Em Portugal, estão confirmadas as marchas nas cidades da Guarda, Porto, Coimbra, Lisboa, Bragança, Évora, Braga e Covilhã no próximo sábado, 11, a partir das 14h (hora de Cabo Verde). Paris, Luxemburgo, Brockton, Londres e Genebra também aderiram à iniciativa.
Em Cabo Verde estão já previstas marchas nas ilhas do Maio, Fogo, Santiago (Praia e Assomada) e Boa Vista.
O bispo de Bragança-Miranda, José Cordeiro, fez saber que se vai associar à marcha solidária silenciosa em Bragança em homenagem ao estudante. Conforme a imprensa Lusa, o presidente do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Orlando Rodrigues, afirmou que toda a direcção daquela instituição estará presente na marcha de Bragança e o próprio só não estará se a data coincidir com o funeral do jovem em Cabo Verde, onde pretende deslocar-se para acompanhar as cerimónias.
Por cá, a direcção do Club Desportivo Juventude propôs à Federação Cabo-verdiana de Futebol (FCF) e às associações regionais de todas as ilhas que a jornada do próximo fim-de-semana seja uma homenagem ao jovem estudante dos Mosteiros, Geovani Rodrigues.
O corpo do estudante cabo-verdiano ainda está em Portugal à espera de ser trasladado, o que deverá acontecer quarta ou quinta-feira segundo o ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 945 de 08 de Janeiro de 2020.