Bala disparada na Esquadra de Achada Santo António atinge jardim infantil Pimpão

É mais um caso de disparo "acidental" por arma da Polícia Nacional (PN). Uma bala disparada por uma arma de fogo na Esquadra da PN, em Achada Santo António (ASA), na cidade da Praia, atingiu esta manhã o jardim infantil Pimpão, que fica atrás da esquadra. Não há vítimas a registar.

Em declarações à Radio Morabeza, a directora do Jardim Pimpão, Maria Rodrigues, disse que tudo aconteceu por volta das 8 horas da manhã, numa altura em que, "felizmente", ainda não havia crianças na sala que foi atingida pelo disparo.

"Eu tinha ouvido o disparo, mas não pensei que fosse aqui. Pensei que fosse dentro da esquadra de polícia", conta a directora. Após se ter apercebido que a bala atingiu o Jardim, Maria Rodrigues dirigiu-se à esquadra. Entretanto, também os agentes se dirigiram ao Jardim Pimpão.

"Quando sai da polícia, vim pela parte de trás da esquadra. Havia mais ou menos uns 20 policiais que estavam a preparar-se, penso eu, para ir fazer algum trabalho fora".  Na sua percepção, os agentes deveriam estar a arrumar as armas, ou a realizar algum tipo de treino. Pouco lhe foi explicado, mas o que é certo é que uma bala furou o portão traseiro da Esquadra, atravessou a rua, perfurou a parede (de contraplacado) do Jardim Infantil e veio cair "ao pé da pessoa que estava a fazer a limpeza da sala".

Maria Rodrigues critica ainda que o agente que foi até ao Jardim Pimpão estava preocupado essencialmente em encontrar o projéctil.

“Felizmente não havia nenhuma criança nessa sala porque era cedo, mas se fosse um bocadinho mais tarde podia haver crianças. O agente que veio ver o que estava a acontecer, a primeira coisa que ele fez foi apanhar o projéctil e metê-lo no bolso", diz, baseada em testemunhos, pois nesse momento encontrava-se na esquadra.

"Quando eu vim, comecei a falar com ele e ele estava mais preocupado com o furo que o projéctil tinha feito na tábua. Estava preocupado com a tábua, com a madeira! Eu disse: 'Senhor, neste momento não vamos preocupar-nos com a madeira, vamos deixar a madeira vamos tratar do que é que podia ter acontecido”, indigna-se.

A Directora do Jardim Pimpão, Maria Rodrigues, revela que vai fazer uma exposição ao ministro, para que casos do tipo não voltem a acontecer.

A nossa reportagem esteve na esquadra Achada de Santo António. O agente de serviço, na recepção, disse que a força policial nada tem a declarar sobre o caso.

Outros “acidentes” com armas de fogo da PN

No caso do disparo acidental desta manhã não houve vítimas. Mas nem todos os disparos “acidentais” da Polícia Nacional têm o mesmo desfecho. Recordamos aqui dois "acidentes" ocorridos, em outros contextos, em menos de um ano.

Em Abril do ano passado, um detido faleceu na esquadra de Achada Santo António, alegadamente vítima de um disparo acidental por parte de um agente.

O jovem, Odair “Oda” Ribeiro, de 23 anos, tinha sido detido durante uma rusga, no bairro de Achadinha. Já na esquadra, onde aguardava ser apresentado ao Ministério Público o jovem foi vítima de um disparo com arma de fogo pertencente ao agente Nuno Sequeira.

O detido e o agente eram conhecidos, uma vez que Odair já tinha tido sido detido várias vezes e actuava também na zona de Eugénio Lima onde o agente morava, avançou posteriormente a PN.

O agente, autor do disparo, foi encontrado morto na manhã do dia seguinte (17 de Abril), nas traseiras da escola Secundária Pedro Gomes, que fica localizada próximo da referida esquadra de ASA.

A versão oficial é que se trata de um suicídio. Terá, no entanto, havido falhas por parte da corporação, que não soube lidar com o acontecimento. Mandam os procedimentos, que quando há um homicídio envolvendo corpos policiais, estes devem ser imediatamente desarmados e encaminhados para narrar os factos a instâncias superiores.

Esses procedimentos, que não foram cumpridos, foram enunciados em conferência de imprensa, oentão Comandante Regional de Santiago Sul e Maio, Renato Fernandes. Durante a mesma, realizada no próprio dia 17 de Abril, o comandante avançou que tinha sido aberto um inquérito interno para apurar as circunstâncias da morte do detido Odair Ribeiro. A conclusão do mesmo deveria ter sido conhecido, no prazo de 20 a 30 dias. Contudo, nenhuma informação concreta sobre as conclusões do inquérito foi passada ao público. Entretanto, de acordo com a Polícia Judiciária, as investigações confirmaram que a morte do detido foi um acidente e que o agente envolvido se terá,de facto, suicidado.

Outro disparo “acidental” que resultou em morte ocorreu em Outubro. Noite de 28 para 29 de Outubro, um piquete da Polícia Nacional (PN) foi chamado ao bairro de Tira Chapéu, na cidade da Praia, em resposta a uma alegada ocorrência. Aí chegados, um dos agentes, Hamilton Morais, morreu, vítima de um tiro.

Logo após o óbito do agente, foi capturado um suspeito, apontado pela PN, que a Polícia Judiciária viria rapidamente a libertar por falta de provas. A PJ prosseguiu então as investigações e cerca de um mês mais tarde, a 22 de Novembro, deteve um agente da PN suspeito de ter assassinado o colega Hamilton Morais. O referido agente encontra-se em prisão preventiva. Dias depois, o director nacional da Polícia Nacional, Emanuel Moreno, afirmava à comunicação social que a morte do agente Hamilton Morais resultou de um “acidente”. A Polícia Judiciária continua a investigar este caso.

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Autoria:Ailson Martins, Rádio Morabeza, Expresso das Ilhas,17 fev 2020 16:43

Editado porSara Almeida  em  13 nov 2020 23:21

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