José Luís Neves falava durante uma conferência sobre “Que futuro para a economia de Cabo Verde pós-covid-19”, promovida pela Associação dos Jovens Economistas (AJECON) na plataforma Zoom.
O economista disse que depois do período de bloqueio de confinamento, o momento agora é de reabrir a economia sem perder o controlo da pandemia, salientando que é fundamental o país ter um plano de estabilização económica e social, que deverá cobrir quatro dimensões.
“Como o FMI disse, as políticas a serem adoptadas serão decisivas a nível do futuro que teremos tanto na economia mundial como na economia nacional. Desde já, eu penso que é fundamental termos um plano de estabilização económica e social, que deverá cobrir quatro dimensões”, anotou.
De entre essas dimensões destacou a dimensão política e institucional, ou seja, o papel fundamental do governo e das autarquias locais, mas também a dimensão empresarial e todas políticas para evitar a falência das empresas, bem como a dimensão do emprego e rendimento.
Igualmente importante é a dimensão sanitária e social. A este nível, afirma o economista, haverá a necessidade de fortes investimentos.
“Haverá sempre a necessidade de estarmos atentos aos novos surtos, mas a dimensão social será fortíssima porque prevemos que com as dificuldades as despesas sociais deverão aumentar. Portanto, nós pensamos que os próximos tempos vão exigir um super governo e super banco central”, disse.
“Há que agir através dos programas de investimentos públicos, através das compras públicas do Estado, das políticas sectoriais e das despesas sociais, da diminuição dos impostos e também do reforço das medidas de mitigação dos impactos da covid-19”, acrescentou.
Em relação ao banco central disse que este poderá actuar através da política monetária com a redução das taxas de juro, o reforço da liquidez dos bancos comerciais, o reforço das medidas de mitigação, como por exemplo o prolongamento das moratórias.
Por outro lado, José Luís Neves defendeu a necessidade de se apostar numa “forte mobilização” de parcerias de desenvolvimento para a obtenção da ajuda orçamental directa, acesso ao crédito concessional e a reestruturação e perdão das dívidas e os donativos.
Igualmente, recomenda uma “forte aposta” na melhoria do ambiente de negócios através da redução da burocracia com foco na economia digital.
“Nós vimos como é que a burocracia e a falta de integração dos serviços públicos criaram muitas dificuldades durante o tempo de bloqueio. Fundamentalmente é acelerar a adopção das novas tecnologias e passarmos do e-gov para i-gov, ou seja, passarmos não só para governação electrónica como para governação integrada”, explicou.
“Portanto, o Estado é um, o Governo é um e não faz sentido que todos os serviços públicos não estejam integrados e que as pessoas e os empresários tenham que estar a dirigir para vários departamentos estatais para tratar dos seus assuntos”, acrescentou.
Na perspectiva do economista, o futuro da economia de Cabo Verde pós-covid-19 muito vai depender também da resiliência dos gestores empresariais, que adianta, devem fazer uma análise económica e financeira criteriosa dos seus negócios em toda a sua dimensão e elaborar um plano de recuperação e reestruturação empresarial.
“O diálogo social deverá também representar um papel extremamente importante. Estou a falar do diálogo tripartido entre o governo, o patronato e o representante dos trabalhadores. Portanto, vai ser fundamental para a paz social nos próximos tempos”, sustentou.
Na conferência promovida pela AJECON, em parceria com a Escola de Negócios e Governação da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), participou também como conferencista o economista Paulino Dias.