O Expresso das Ilhas esteve no terreno para ouvir como será o Natal dos cabo-verdianos em tempos de pandemia, uma vez que devem reunir um máximo de 15 pessoas e evitar afagos.
Andreia Silva, da ilha do Maio, conta que normalmente, para o Natal, a família toda se reúne. A mãe, os 7 irmãos, os respectivos companheiros, filhos e mais alguns vizinhos. No total, são cerca de 30 pessoas para a ceia e depois para o almoço do dia 25.
“Não há troca de prendas, mas jantamos juntos e dançamos, por vezes até o dia amanhecer, se não, até cerca de 3 ou 4 horas de manhã, quando os mais jovens vão para uma discoteca”, descreve a jovem.
Este ano, entretanto, Andreia Silva afirma que cada irmão vai passar o Natal com a sua respectiva família, devido à restrição de reunir um máximo de 15 pessoas. Por isso, o Natal de 2020 da Andreia Silva vai ser com a mãe e a filha.
“Vamos ser eu, a minha mãe e a minha filha, a menos que a minha irmã nos chame para passar o Natal com a sua família e isto ainda não é certo. Este ano não gastamos tanto com o Natal, como sempre gastamos. Até porque os meus irmãos que vivem na Holanda e que sempre regressam para o Natal não vieram”, conta.
A jovem diz que se não houvesse a restrição do número máximo de pessoas para a celebração, o Natal continuaria a ser diferente devido à pandemia. Isto porque, conforme relata, os irmãos que vivem no estrangeiro não puderam vir a Cabo Verde celebrar o Natal como é costume todos os anos.
“A festa do Natal da minha família depende muito do regresso dos meus irmãos de Holanda e Luxemburgo, porque o que mais no une no Natal é a vinda deles que é sempre, todos os anos, nesta época. Nem imagino como vai ser o Natal deles”, lamenta.
Já Vandrulim Sequeira narra que a sua tradição é fazer a ceia no dia 24 com a esposa, filhos, irmãos e sobrinhos, enquanto no dia 25 o almoço decorre na casa da sua sogra em São Salvador do Mundo, interior de Santiago.
“No dia 24 somos nós, a família aqui de casa, meus irmãos e os nossos filhos, já que vivemos todos num mesmo prédio. No dia 25 vamos todos, incluindo meus irmãos, para a casa da minha sogra no interior, onde nos reunimos com todos os seus filhos e netos”, menciona.
Mas, lamenta Vandrelum Sequeira, devido à pandemia, este ano a família vai apenas fazer a ceia do dia 24, sem a habitual ida a São Salvador do Mundo.
“Este ano vamos fazer a ceia em casa, já que vivemos todos no mesmo edifício, mas não vamos para o interior. Se a minha esposa quiser pode ir ter com a mãe dela, mas não vamos todos como nos anos anteriores. Este ano o Natal está mesmo morno”, comenta.
“Eu vou cumprir a medida de não aglomeração, mas, não prevejo a maioria a cumprir esta medida de juntar no máximo 15 pessoas numa casa. Natal é uma festa familiar. Quanto à festa do final do ano, eu sei que vão cumprir porque não haverá lugares onde as pessoas possam ir dançar. Agora, Natal? Não há nenhuma hipótese das pessoas cumprirem as medidas”, pondera.
Na Praia Formosa, concelho de Nossa Senhora da Luz, o Expresso das Ilhas falou com Keila Gonçalves.
“Todos os anos, no dia 24, a minha família sempre faz uma grande ceia com trocas de presentes e definitivamente convívio familiar. Juntamos todos os familiares da minha mãe, estou a falar de cerca de 30 pessoas”, começa a dizer.
A ceia da família Gonçalves costuma terminar de madrugada, após muita comida e muita dança. Este ano, porém, Keila Gonçalves refere que a ceia foi cancelada.
“Vai ser um Natal totalmente diferente, vai ser a primeira vez que não vou passar o Natal com a minha família toda reunida, apenas as pessoas da minha casa. Penso que vai ser o meu primeiro Natal triste, cada filho da minha avó vai fazer a ceia na sua própria casa com os seus filhos. Vai ser um dia como outro qualquer”, lastima.
Para quem o Natal vai ser o mesmo
Idell Avelino, de Santa Catarina, caracteriza o Natal da sua família como sendo diferente da maioria das famílias cabo-verdianas. Isto porque, explana, não fazem a ceia no dia 24.
“Fazemos apenas o almoço no dia 25, com pratos típicos do Natal. Em termos de ornamentação, há sempre árvore de natal e luzes de guirlanda”, discorre.
Na casa de Idell Avelino, no almoço do dia 25 há sempre as mesmas pessoas, a avó, a mãe, o irmão, a tia e os dois primos. Por esta razão, Idell assevera que a pandemia “não vai mudar em nada” o seu Natal.
“O que aconteceu de diferente é que por causa da pandemia, fizemos as compras antecipadamente. Nos minimercados que frequentamos, lá dentro, as pessoas cumprem as suas medidas lá dentro. No entanto, não respeitam o distanciamento na fila da caixa, ou na rua antes de entrarem, além do uso inapropriado das máscaras”, aponta.
Idell Avelino assegura que por causa do não distanciamento nas caixas e nas portas dos minimercados, a sua família resolveu fazer as compras de Natal com um mês de antecedência.
“Não temos também o hábito de ir à missa, apenas a minha avó que vai a todas as missas. Para a festa de Santa Catarina ela não foi porque sabia que havia de lá estar muita gente, mas o Natal é sagrado para ela. Por isso vai à missa do dia 24, à meia-noite e ela já sabe como deve proceder. Esta é a diferença deste Natal”, garante.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 995 de 23 de Dezembro de 2020.