Novo Campus traz outras perspectivas ao ensino superior público

PorSheilla Ribeiro,23 jul 2021 11:00

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Projectado para acolher 4.890 estudantes e 476 professores em 61 salas de aulas, o edifício do novo Campus da Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), que será entregue pelo governo chinês hoje, traz novas perspectivas e desafios de gestão.

Localizadas na zona do Palmarejo Grande, as novas instalações têm cinco auditórios com capacidade para 150 lugares, oito salas de informática, oito salas de leitura, 34 laboratórios, salão multiusos com para 654 lugares, refeitórios, biblioteca, dormitórios e espaços desportivos.

Em declarações ao Expresso das Ilhas, a reitora da Uni-CV, Judite Nascimento, avançou que a partir do dia 23, em função daquilo que for decidido pelo governo de Cabo Verde, a universidade poderá iniciar imediatamente a transferência para o novo campus de modo a ali garantir o inicio das aulas do próximo ano lectivo.

Mudanças

Para Judite Nascimento, o novo campus vai trazer mudanças de perspectiva e nova visão do ensino superior público.

“Porque nós estamos disseminados no polo I da Universidade de Cabo Verde, que é o polo maior, disseminado por vários edifícios na cidade da Praia e, portanto, agora vamos todos estar concentrados num único espaço”, realça.

Nos outros polos como Mindelo e Assomada, prossegue, “a coesão é maior” porque está tudo muito próximo enquanto na Praia, as unidades orgânicas estão distribuídas em bairros distantes.

“Há um distanciamento físico e isso pode repercutir num distanciamento das próprias unidades e dos serviços. Com a passagem para o novo campus vão estar todos concentrados no mesmo espaço, o que certamente irá influenciar a própria visão e a nossa própria perspectiva de abordagem do funcionamento da universidade”, salienta.

Além de mudanças no funcionamento, a Uni-CV vai desenvolver a economia fiscal, posto que haverá mais sinergias entre os serviços, as unidades de formação, as unidades de extensão universitária e as unidades de investigação.

Por outro lado, conforme a reitora, o facto de a universidade estar concentrada num mesmo espaço poderá haver uma maior redinamização tanto da investigação como da extensão universitária.

“Agora estaremos todos juntos e poderemos pensar melhor o nosso plano de extensão, formando uma agenda fixa da inspecção universitária. Mas também poderemos formar uma agenda específica para a investigação e intensificá-la na Uni-CV. Para além do impacto que isto vai ter também a nível das ofertas formativas”, admite.

Aumento de ofertas de cursos

Este ano, prevendo a transferência para o novo campus, Judite Nascimento revela que a instituição aumentou o número de ofertas de cursos estando eles em processo de acreditação.

Algumas ofertas são específicas, desenhadas para dar resposta a algumas necessidades do próprio estado como a demanda das empresas, da própria instituição e do ensino superior cabo-verdiano.

“De momento não posso avançar o número dos novos cursos porque enviamos um conjunto para acreditação e ainda não temos resposta em relação a todos. Posso dizer que lançamos algumas ofertas novas e quando houver a acreditação só então poderemos falar em números concretos”, informa.

Actualmente, a Universidade oferece 37 licenciaturas, 12 mestrados, três doutoramentos e cinco cursos profissionalizados. No caso de se conseguir acreditar todos os cursos, haverá a necessidade de contratar mais professores a tempo inteiro, no sentido de ter uma estrutura fixa de docentes e garantir a qualidade do curso.

Para além do aumento de ofertas de cursos, a Uni-CV pensa criar um conjunto de programas de cursos modulares que poderão também servir de atractivo aos estudantes. Entretanto, a instituição já tem em curso vários “programas inovadores” para redinamizar a extensão universitária.

“Refiro-me, por exemplo, ao Campus da Matemática que o grupo de matemática da Universidade de Cabo Verde está a desenvolver com o apoio da Fundação Gulbenkian, a formação dos professores de francês que está a decorrer com o apoio da embaixada da França, a própria formação do Instituto GeoGebra da Uni-CV que tem estado a capacitar os professores de matemática por todo o país, a semelhança do que acontece no campus de matemática”, exemplifica, acrescentando que há vários outros cursos modelares e programas de formação especial a decorrer e outros em carteira.

Quanto à pesquisa, a reitora descreve que o novo campus oferece salas para grupos restritos, salas para grupos maiores, centros de investigação e um ecossistema que irá permitir ter uma sala onde estará o núcleo duro de investigação.

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O núcleo duro do ecossistema de investigação, por seu turno, irá permitir melhorar a gestão dos projectos de investigação.

“Projectos, temos muitos. Temos muita gente envolvida em investigação, são projectos que estão dispersos pelas unidades orgânicas. Agora está criada a estrutura central de gestão e de organização de todo o ecossistema de investigação que já está regulamentado. Já temos identificado dirigentes provisórios, iremos promover eleições assim que estiverem criadas as condições e estivermos no novo campus e instalados nos espaços destinados a essas estruturas”, garante.

Alojamento

Sendo o alojamento um elemento novo, Judite Nascimento anuncia que a Uni-CV está a preparar um sistema de gestão para tal.

“Vamos ter espaços para estudantes cabo-verdianos que tenham interesse em se alojar no campus, mas a prioridade será certamente para os estudantes que vêm de outras ilhas e de outros municípios”, declara.

Os estudantes internacionais que vêm por um longo período serão alojados juntamente com os estudantes nacionais. Já para aqueles que chegarão para períodos curtos, no quadro de programas de mobilidade, a Universidade está em processo de identificação de espaços específicos.

Haverá ainda espaços reservados aos professores visitantes que, em mobilidade académica, colaboram com a Universidade de Cabo Verde, de acordo com aquela responsável.

Expectativas e desafios

“As nossas expectativas são de que toda a nossa comunidade adquira a consciência de que estamos a dar um salto positivo no sentido da excelência e da sustentabilidade da nossa Universidade. Esse salto só será verdadeiramente significativo se cada um dos membros da comunidade académica tiver a consciência que também temos de, individualmente, fazer um upgrade da nossa postura, da forma como damos as aulas, da forma como estamos na academia, da forma como nos relacionamos entre nós, promovendo a consolidação do espírito académico, da cultura universitária”, expecta.

Relativamente aos desafios, Judite Nascimento correlaciona-os com o aumento de despesas na manutenção, na conservação e no funcionamento de um campus universitário dessa dimensão. Nesse sentido, continua, espera ter o suporte necessário do estado para evitar dificuldades em gerir as despesas que a ele estarão associadas.

“O Campus é grande, as despesas de manutenção, de limpeza, segurança, electricidade e conectividade serão elevadíssimas e estamos com expectativa de virmos a merecer o apoio necessário, condizente com o investimento que o estado de Cabo Verde e o estado Chinês fizeram a nível dessa estrutura”, almeja.

O Governo já começou a trabalhar na ideia do projecto de transformar o actual Campus da Uni-CV em um Campus da Justiça, conforme revelou a ministra que tutela o sector da Justiça, no passado dia 23 de Junho.

Joana Rosa explicou que o executivo vai adaptar o espaço de forma a que os Tribunais possam ter salas de audiência, espaços de acolhimento das partes e possam melhor prestar serviço às pessoas.

A ideia é instalar num mesmo espaço todos os juízos cíveis e crimes que estão dispersos para que os tribunais possam funcionar num espaço com “melhores condições” e, desta forma, ter “melhores resultados”.

“Sabemos que melhores condições de trabalho e mais pessoal terá certamente reflexo a nível daquilo que é a produtividade dos tribunais”, fez saber a governante, afirmando não saber se o Campus de Justiça será uma realidade ainda este ano.

Entretanto, avançou que já se criou uma comissão para trabalhar a ideia de um projecto e a equipa terá que se deslocar a Portugal para constatar ‘in loco’ como é que funciona o Campus de Lisboa para que se possa ter melhores condições de albergar os Tribunais e criar melhores condições para o bom desempenho do sector da Justiça. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1025 de 21 de Julho de 2021.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,23 jul 2021 11:00

Editado porAndre Amaral  em  6 mai 2022 23:20

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