Médicos cabo-verdianos residentes nos EUA em missão médica a Cabo Verde

PorAndré Amaral,10 abr 2022 9:54

Missão de médicos cabo-verdianos residentes nos EUA trouxe equipas especializadas nas áreas de oftalmologia, ginecologia e cirurgia geral entre outras e já conseguiu evitar necessidade de evacuar pacientes para o estrangeiro. Associação trouxe donativos no valor de 500 mil dólares.

“O impacto é enorme e o estímulo profissional que estamos a dar aos nossos colegas também”, considera Júlio Teixeira, presidente da Associação dos Médicos Cabo-verdianos nos Estados Unidos que está em Cabo Verde numa missão médica.

Segundo explicou ao Expresso das Ilhas, este grupo de médicos trouxe “mais de 500 mil dólares em equipamentos e materiais que foram doados por várias empresas dos EUA. Trouxemos quatro equipas cirúrgicas, uma equipa oftalmológica que está em São Vicente, temos aqui na Praia uma equipa especializada em cabeça e pescoço, uma equipa de ginecologia e uma equipa de cirurgia geral. Para além disso temos uma equipa de saúde mental que se está a focar na área da violência sexual contra crianças”.

“É um projecto abrangente e com sustentabilidade a longo prazo”, acrescenta Júlio Teixeira.

Objectivo da missão

O objectivo, explicou em conversa com o Expresso das Ilhas, é, em primeiro lugar, “fazer um intercâmbio cultural e científico com os nossos colegas daqui”.

Em 2020, com o começo da pandemia, Júlio Teixeira sentiu a necessidade de contribuir “para o nosso país e nessa altura comecei a procurar colegas cabo-verdianos médicos a residir nos EUA”.

O passo seguinte foi a criação da associação e daí “começamos a fazer seminários mensais onde falávamos de vários temas na área da saúde com prevalência para os problemas de Cabo Verde. Convidávamos sempre colegas daqui de Cabo Verde para podermos aprender mais sobre a realidade do sector da saúde no país”.

“Depois disso, percebemos que a melhor maneira de aprender era vir cá e ter uma imersão clínica com os nossos colegas. Entrar em contacto directo com eles e com os pacientes de cá e participar em actividades clínicas, como cirurgia e começar a compreender quais são as necessidades em termos de formação académica e profissional, necessidades e desafios em termos de recursos, a questão das evacuações. Os problemas aqui são muitos”.

Para Júlio Teixeira já não é a minha primeira experiência profissional em Cabo Verde, “mas muitos dos meus colegas, alguns já de terceira e quarta geração nunca tinham estado em Cabo Verde. Tem sido uma experiência fenomenal”.

Diferenças entre sistemas de saúde

Questionado sobre as diferenças que encontrou entre trabalhar em Cabo Verde e nos EUA, Júlio Teixeira reconheceu que “são sistemas diferentes, de facto” e recordou que já tinha tido a experiência de trabalhar junto do Serviço Nacional de Saúde em 2004 e 2008 quando esteve no país a fazer cursos de laparoscopia. “Mas para muitos dos meus colegas poderá ser surpreendente”.

“O facto é que Cabo Verde é um país com recursos limitados, tanto tecnológicos como materiais, mas também humanos. Cabo Verde não tem aquele leque de especialistas e quadros que cobrem todas as áreas da medicina”, destaca. “Muitas vezes os pacientes são transferidos não só por falta de equipamentos. A nossa missão é também elevar a qualidade do serviço oferecido de maneira a que os resultados sejam os melhores para a população, aumentem a qualidade de vida, reduzam o período de ausência de participação na vida económica, são questões de qualidade de vida que são extremamente importantes. É nisso que temos a intenção de continuar a contribuir para elevar a cultura da prática da medicina aqui em Cabo Verde”.

Valorizar quadros

Em declaração à imprensa, após um encontro do grupo com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, o presidente da associação, Júlio Teixeira, disse que essas missões são um intercâmbio, tanto cultural, como científico, que vêm “valorizar” os quadros em Cabo Verde, e que serve também para a troca de experiência.

“Fomos bem recebidos, do ponto de vista social, cultural e psicológico, tivemos um bom ambiente de recessão para o nosso projecto”.

Teixeira afirmou ainda que o principal desafio dessas missões é a sustentabilidade, visto que já desenvolveram projectos do género em vários países, como Nicarágua, Peru, Chile, Argentina e Mongólia, e que para se ter sucesso é necessário continuar a avançar e retornar em missão para esses países até se mudar a “cultura” como a medicina é praticada, defendendo a necessidade de haver maior “insistência” da parte dos médicos em continuar.

Por vezes, quando só uma pessoa é que faz, acaba por se cansar e frustrar, mas quando há uma equipa, com outros colegas para apoiar, dá-nos mais oportunidade de se ter uma sustentabilidade a longo prazo”, ressaltou.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1062 de 6 de Abril de 2022.

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Autoria:André Amaral,10 abr 2022 9:54

Editado porSheilla Ribeiro  em  24 dez 2022 23:27

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