No passado 20 de Novembro, a sociedade cabo-verdiana ficou em choque com o caso que aconteceu no bairro da Várzea, na Cidade da Praia. Dois jovens, um da Achadinha e outro da Várzea, estiveram envolvidos numa briga, tendo um deles utilizado um “machim” para decepar uma das mãos do outro indivíduo. O agressor que foi identificado por “Ima” é um ex-presidiário conhecido da Polícia.
A onda de tragédias não parou por ali, a Cidade da Praia vive dias difíceis. A violência vem fazendo cada vez mais vítimas e instalando um clima de medo pelas ruas.
Assassinatos
No início da semana, o país deparava-se com mais um caso brutal de violência. Um jovem de 34 anos foi assassinado na sequência de um assalto que sofreu na madrugada de domingo,4 de Dezembro, no bairro de Achadinha, na Praia.
Juvelino Barros Fernandes, a vítima mortal desta tragédia sem explicação, era natural de Nossa Senhora da Luz, concelho de São Domingos, mais concretamente, da Praia Formosa. De acordo com testemunhas do ocorrido, “Lino” como era conhecido, foi assassinado na sequência de um assalto ocorrido por volta das 2 horas de madrugada, em Achadinha, onde morava.
O jovem, que era mecânico de profissão, deixou esposa e dois filhos menores.
Moradores revoltados com a onda de violência que se instalou nos últimos meses na capital pedem justiça e uma intervenção urgente por parte das autoridades competentes, uma vez que já não têm direito de sentar à porta da casa, por imposição dos grupos de delinquentes.
Alto da Glória
Já na quarta-feira, 7 de Dezembro, mais uma notícia chocou a sociedade cabo-verdiana, o brutal assassinato de Elisandro Varela (mcp “Jando”), de 38 anos, por suposto grupo de assaltantes em Alto da Glória, na Praia, na noite de terça-feira, 6 de Dezembro.
Um familiar da vítima relatou à Inforpress como tudo se terá passado. Um grupo de delinquentes atacou, primeiro, um sobrinho na rua perto da sua casa. Elisando saiu para ajudar o rapaz, capturou um dos atacantes e obrigo-o a entrar em sua casa. Os outros cinco arrombaram a porta e dispararam dois tiros contra Elisandro. Mesmo ferido, este saiu para a rua e o grupo de criminosos continuou a agressão com pedradas.
A violência do caso chocou uma comunidade já cansada de violência em todo o país. Este foi o segundo caso de assassinato que acontece na Cidade da Praia em menos de uma semana.
Outros acontecimentos recentes
Sexta-feira, 9 de Dezembro, a Cidade da Praia deparou-se com o caso de uma mulher que morreu ao saltar da viatura da Polícia Nacional, na localidade da Zona 4, em Ponta d’Água. Indira Teixeira, de 38 anos, não resistiu aos ferimentos e acabou por falecer no Hospital Central da Praia.
Segundo informações fornecidas à Inforpress pelo Director Nacional Adjunto da PN para a Área Operacional, Eugénio Fernandes, a Polícia Nacional está a investigar internamente o caso da mulher e realça que se está perante um caso que tem de ser “muito bem investigado”.
“Aqui não sabemos o que houve propriamente dito, temos de investigar para dar uma resposta. De antemão, sem ter nenhuma investigação apurada, não posso dizer nada mais a fundo”, disse.
Sabendo que a vítima estava ao lado do companheiro que, na sua óptica, talvez deveria ter impedido que esta pulasse do carro, entende Eugénio Fernandes que “há um conjunto de questionamentos que deverão ser feitos”. Indira Teixeira, era doméstica e deixa quatro filhos, sendo três menores.
A Cidade da Praia vem enfrentando uma onda de violência descomunal. Mortes, assaltos, kasubody, brigas, confrontos, entre outras barbaridades.
No final da tarde de 12 de Dezembro, segundo informações divulgadas pela TV Record Cabo Verde, um jovem foi morto com um tiro no peito ao tentar invadir uma casa, em Achadinha. A casa em questão, supostamente, foi atacada por ser residência de elementos do grupo rival.
De acordo com uma moradora da casa invadida, o jovem, baleado mortalmente, é conhecido por “Preto”, de 25 anos, pertence a um grupo de delinquentes que seria rival do grupo a que o seu irmão, já falecido, pertencia. A moradora contou que a vítima mortal, acompanhado de um primo, invadiu a residência e junto com outros elementos tentaram agredir um jovem residente na casa. Na sequência, aconteceram disparos que feriram mortalmente o jovem “Preto”, no peito, e o primo que o acompanhava foi atingido na perna por um disparo de arma de fogo.
A testemunha conta que desde a morte do seu irmão, aproximadamente há 10 meses, a casa vem sendo constantemente atacada por elementos de um grupo de delinquentes.
A falta de segurança tem assolado todos os bairros da capital. Só nas últimas semanas, a comunicação social relatou: troca de tiros entre grupos rivais em Achada Santo António; grupo de jovens invadiram moradias do complexo habitacional Casa Para Todos, em Achada Grande Trás e deixou os moradores amedrontados.; agente da Polícia Nacional baleado na sequência de brigas entre jovens de grupos rivais das zonas de Casa Lata e Fundo Tira-Chapéu. Assaltos à mão armada a estabelecimentos comerciais com reféns, tiroteios em plena luz do dia e veículos policiais sitiados são outras notícias da onda de criminalidade que se vive por estes dias na capital do país.
Para fazer face à onda de criminalidade que tem atingido a Cidade da Praia nestes últimos tempos níveis preocupantes, Eugénio Fernandes anunciou esta terça-feira que os planos de acção da Polícia Nacional para esta quadra festiva, serão tornados público a partir do próximo dia 20, estando a força policial “fortemente organizada” para manter a presença nas ruas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1098 de 14 de Dezembro de 2022.