Volvidos 40 anos do primeiro caso no mundo e 37 anos do primeiro diagnóstico no país, a secretária executiva do CCS-Sida, Celina Ferreira, avançou que há sempre investigações relacionadas com o tratamento, mas que a vacina é uma realidade longínqua e que, por isso, é fundamental apostar no uso correcto dos meios de prevenção.
Actualmente, em Cabo Verde, 3.200 pessoas estão em tratamento de antirretroviral, tendo a faixa etária dos 40-45 anos com maior prevalência, das quais 60% são mulheres, espalhadas pela ilha de Santiago, São Vicente e Fogo, informou.
Celina Ferreira explicou que em média 70 a 80 pessoas morrem por ano devido ao vírus e mais de 70% são homens “porque demoram muito tempo a procurar os serviços de saúde e quando chegam a doença já está numa fase tardia”.
No caso das mulheres, revelou, são mais vulneráveis biologicamente e também as que procuram mais os serviços de saúde sexual e reprodutiva, e isso explica o facto de ter mais mulheres na vida activa das pessoas que vivem com a doença, o que na sua opinião, esclarece a prevalência dos casos, reiterando que “quando mais se procura, mais se encontra”.
“Hoje em dia estamos na estratégia diagnosticar, tratar, para poder não desenvolver a doença e manter ou ter a carga viral indetectável, ou seja, ter a quantidade de vírus num estado que não se transmite e nessa não transmissão que vamos eliminar o VIH”, disse, avançando que o País vai solicitar, em 2024, o certificado da eliminação da transmissão vertical de mãe para filho definida no Plano Estratégico Nacional do VIH/Sida 2022-20226.
É neste contexto, enfatizou, que o Governo e as instituições parceiras vêm trabalhando para alcançar a “grande meta” da eliminação da transmissão directa na população no horizonte 2030.
Um objectivo que Celina Ferreira considera “possível” visto que há acções a serem implementadas em todas as escolas, abordando conteúdos de prevenção para que o indivíduo desenvolva competências e “não deixar ficar infectado”.
Outra estratégia, explicitou, tem a ver com o apoio psicossocial das pessoas que vivem com o vírus e na inclusão e defesa dos direitos humanos, referindo, no entanto, a boa cobertura de tratamento antirretroviral estando, 78%, e cuja meta é chegar aos 95% até 2026.
“Estamos com boa adesão e há uma vasta equipa de saúde multidisciplinar que trabalha no acompanhamento e atendimento, e por detrás, está a rede das pessoas que vivem com VIH que tem uma equipa de pares educadores que acompanham essas pessoas num contexto um pouco complexo para poderem manter o tratamento”, indicou, apontando para uma inovação no tratamento, visto que maioria dos infectados toma apenas um comprimido por dia o que facilita no desenrolar das actividade diárias.
Gerir a sexualidade é uma tarefa individual, no entender desta responsável, salientando que a informação e conhecimento “não bastam” e que é necessário apropriar-se de hábitos e estilos de vida saudáveis e que cabe à própria pessoa “tomar a decisão acertada na gestão da sua saúde”.
A prevenção sistemática tem sido um dos métodos levado a cabo pelo comité, assinalando que tem trabalhado no uso correto do preservativo e oferta de testes com ênfase na população que apresenta comportamento de riscos, nomeadamente os usuários de álcool e outras drogas, homem que fazem sexo com homens e profissionais do sexo.
“A missão do CCS-SIDA é trabalhar a multisectorialidade. A saúde está em todos os sectores, na educação, nas entidade que lutam contra o álcool e outras drogas, que promovem o emprego, na justiça, nos direitos humanos, na comunicação social, nos decisores políticos porque o indivíduo é um só e tem as várias dimensões e é nesta dimensões que cada sector deve atacar”, notou, referindo que os impactos da pandemia e os conflitos mundiais provocaram retrocessos nos ganhos obtidos, mas que ainda assim Cabo Verde conseguiu manter disponíveis os medicamentos e tratamentos contra a doença.
“Primeiro que fizemos foi aumentar a comunicação de risco, o que uma pessoa que vive com VIH deve saber sobre a covid-19, com conjunto de etapas… um plano de contingência interno para gerir a vida, sobretudo, a desinformação e fornecer tratamento com acompanhamento ao domicílio” avançou, admitindo que com o Fundo Global tem sido possível gerir os desafios impostos pela covid-19.
Por seu lado, a presidente da Rede Nacional de Pessoas que vivem com VIH/Sida, Josefa Rodrigues, que convive com o vírus há 19 anos, disse que, até hoje, não houve caso de rompimento de stock de medicamentos, mas alertou para a falta de comunicação e informação e “aceitação” as pessoas diagnosticadas com a doença.
Na visão de Josefa Rodrigues, esta falta de informação leva as pessoas a não se preocuparem com a doença, advertindo que o tratamento de antirretroviral é “para vida inteira”, e alertando para os riscos ao falhar o tratamento.
A mesma fonte avançou que a maioria dos infectados vive em situações de vulnerabilidade, daí que precisam de apoios como cestas básicas para fazer face ao “mal-estar” causado pelo medicamento.
“Nós não temos financiamento, o que lamento, o meu desejo é a semelhança das outras associações ter um pequeno apoio para projectos e apoiar os mais vulneráveis”, reiterou apelando as instituições a ajudarem com materiais escolares e alimentos à comunidade.
Relativamente ao Dia Mundial da Vacina, pediu que sejam asseguradas melhores condições de investimentos aos cientistas para que consigam “combater” este vírus, e aos decisores políticos, exorta a melhoria das condições de trabalho dos profissionais de saúde.