Numa ronda pelas praias balneares da capital do país, o Expresso das Ilhas falou com alguns nadadores-salvadores que se encontravam de serviço e indicaram, de entre os vários contrangimentos, a falta de equipamentos, de pessoal e de consideração para com a classe.
Um dos profissionais, que pediu anonimato, diz que a maior falta nas praias balneares é o problema de embarcações de apoio para qualquer eventualidade de maior perigo com os banhistas. Além do problema de embarcação e outros equipamentos, este profissional diz que a precariedade laboral é algo que necessita de urgente intervenção.
“Faltam várias coisas, como podem notar. Esta torre destinada aos salva-vidas precisa de intervenção, como por exemplo, a falta de degraus nas escadas. Precisamos de equipamentos, temos uma prancha que é improvisada para salvamento, mas não é a indicada. Arriscamos as nossas vidas para proteger as pessoas e o mínimo que poderiam fazer é ter mais respeito para com a nossa classe”.
Um outro profissional, abordado pela nossa equipa, reforça que os equipamentos precisam urgentemente de substituição e que é necessário investir em motos-de-água e bóias de motor para se poder garantir que, em situação de perigo, o profissional possa salvaguardar a sua vida e a da pessoa em perigo.
“Estamos cientes dos perigos para a nossa própria vida, então temos que estar com o mínimo de equipamentos adequados para dar resposta. Já houve situações onde a corda de um equipamento arrebentou numa situação de resgate e tivemos que “ir na coragem” para prestar socorro à vítima. Nessas situações não temos nenhuma garantia, não temos seguro de vida, não temos INPS, embora na folha de pagamento conste que é feito desconto para estes fins. Hoje estamos a trabalhar em meio de uma grande precariedade laboral”, considera.
Estes profissionais relataram ainda que o principal desafio da segurança é a falta de cumprimento das regras por parte dos frequencatores das praias. Há vários registos do consumo exagerado de bebidas alcoólicas, falta de atenção com crianças e até mesmo adultos que mesmo sendo aconselhados a ter atenção aos limites da parte segura da praia, optam por frequentar zonas de maior perigo.
Instituto Marítimo Portuário (IMP)
Em declaração a este jornal, o presidente do IMP, Seidi Santos, informou que há um Projecto de Segurança nas Praias que é implementado anualmente e que se enquadra dentro do Plano Nacional de Segurança e Salvamento Aquático, desenvolvido pelo IMP. Esses dois instrumentos, como explica Seidi Santos, fazem a montagem das estratégias e actividades visando a promoção da segurança nas Zonas Marítimas Balneares e praias de Cabo Verde, no intuito de dotá-las de mais meios de salvamento eficazes, numa tentativa de diminuir o número de acidentes e incidentes.
O monitoramento e a fiscalização são coordenados pelas Capitanias dos Portos (Barlavento e Sotavento) e estruturas de representação do IMP, que são as Delegações Marítimas, existentes nas ilhas. O Instituto reforça que anualmente são realizados estudos, levantamentos e monitorização de todas as Zonas Marítimas Balneares e praias a nível nacional.
“Por exemplo, são identificadas as necessidades a nível de balizamento marítimo das praias nacionais, as prioridades de formação de nadadores-salvadores e de colocação de placas informativas, etc. Todo o trabalho desenvolvido pelo IMP exige e depende de uma articulação constante com outras instituições nacionais, como as Câmaras Municipais, e, em grande parte, a Polícia Marítima”, explica Seidi Santos.
Equipamentos
Designado por “Posto de Praia”, o IMP assegura investimentos na aquisição e disponibilização aos nadadores salvadores, através das câmaras municipais, dos recursos mínimos recomendados. Desde bóias torpedo, bóias circulares, cinto de salvamento, vestuário completo (boné, calção e t-shirt), bandeiras de sinalização, mala de primeiros socorros, máscaras de reanimação, pranchas de salvamento aquático, barbatanas pés de pato, apitos, etc.
“Para além desses materiais, o IMP vem investindo em torres de vigia, placas sinaléticas/informativas, materiais de balizamento e sinalização das praias, entre outros. Trata-se de um esforço financeiro grande que o IMP tem feito, e numa conjuntura de enorme dificuldade em encontrar esses equipamentos disponíveis no mercado nacional, tendo, na maioria dos casos, de serem importados, com custos bastante avultados”, informou o presidente do IMP.
Em relação à periodicidade do Curso de Nadador Salvador, a lei estipula que os certificados/credenciação têm a duração de três anos, é essa a baliza temporal que conforma o Plano de Formação/Curso de Nadador Salvador que é anualmente preparado, homologado e implementado pelo IMP.
Tendo em conta o estado de alguma degradação das torres de vigia para os nadadores salvadores nas duas praias balneares da capital, o IMP avança que em Novembro do ano passado contratou uma empresa para a construção de duas torres, para substituição das mesmas, mas a empresa contratada incumpriu, não tendo fornecido nenhuma das torres até então, deixando o instituto num impasse e que, no entanto, devido à indefinição da resolução da situação, o IMP já tomou providências com vista à substituição dessas duas torres.
“Não se entende como é que os nadadores salvadores das praias balneares da cidade da Praia continuam a reclamar da falta de equipamentos. O IMP tem guias de entrega de todos os equipamentos entregues ao Comando dos Bombeiros da Praia para distribuição aos nadadores salvadores. O problema não está no IMP, de certeza, que tem cumprido o seu papel. Talvez seja uma questão a ser colocada à Câmara Municipal, mais concretamente ao Comando dos Bombeiros da Praia. Em 2022 o IMP fez a entrega de equipamentos no Comando dos Bombeiros da Praia”, assegurou Seidi Santos.
O IMP garante que irá tomar providências no sentido de se certificar de que os equipamentos disponibilizados pelo instituto estão a ser, efectivamente, entregues aos nadadores salvadores. No entanto, o IMP nega a existência da falta de entendimento com a Câmara Municipal da Praia em relação aos nadadores-salvadores e esclarece que os nadadores salvadores são trabalhadores da Câmara Municipal da Praia e caso haja algum conflito laboral, “será sempre entre eles e a Câmara Municipal”.
“No relacionamento com a CMP relactivamente à questão da segurança balnear temos a lamentar o facto de, desde 2021 até à presente data, não termos tido nenhuma reacção da CMP, apesar das inúmeras tentativas sobre a assinatura de um protocolo de cooperação proposto pelo IMP, cujo objectivo é o estabelecimento de uma parceria de colaboração entre o IMP e os municípios na prestação dos serviços de segurança, vigilância e salvamento no meio aquático. Já assinamos esse protocolo com vários Municípios nacionais, com excelentes resultados. Lamentavelmente, não foi possível com a CMP. Aliás, nem tivemos qualquer resposta”, esclareceu Seidi Santos.
Bombeiros da Praia
O comandante dos Bombeiros da Praia e da Protecção Civil Municipal, Carlos Teixeira, informou que nesta época balnear estão disponibilizados dez nadadores-salvadores, para fazer a cobertura das praias da Prainha, Quebra-Canela e nos fins-de-semana fazem a cobertura também na praia de São Francisco, sendo que o horário da cobertura das praias é das 09 até às 18 horas. Este responsável sublinha que os nadadores-salvadores são profissionais formados, “completamente munidos” de informação e instrução para passar aos banhistas e colaborar para a segurança nas praias.
“Podemos dizer que o principal obstáculo ao trabalho dos nadadores-salvadores é a imprudência dos banhistas, há uma falta de colaboração muito grande por parte dos utentes das praias. Temos a consciência de que muitas vezes os profissionais salva-vidas trabalham em completa insegurança, estão sujeitos a passarem por situações de conflitos, por não serem reconhecidos pelos banhistas como uma autoridade. Também já depararam com situações de conflitos entre grupos rivais (grupos de Thugs), que se encontram nas praias e iniciam combates com recurso a pedras, garrafas e outros objectos de perigo”, testemunhou Carlos Teixeira.
Outra situação desagradável que ocorre nas praias, apontada pelo comandante dos bombeiros, está relacionada com o uso abusivo de bebidas alcoólicas que acaba por desencadear comportamentos perigosos. O comandante dos bombeiros reconhece que as coisas deveriam estar melhor, com mais equipamentos como as motos-de-água, botes motorizados para dar mais apoio em situações de perigo, mas garante que as equipas estão bem preparadas para dar resposta em qualquer situação de perigo.
“Em situações de perigo, podemos garantir que os bombeiros da Praia estão muito bem preparados, não a 100%, porque há sempre onde melhorar, mas temos uma excelente capacidade de resposta. Temos uma equipe bem preparada, temos seis enfermeiros que fazem parte da corporação e sempre que há uma ocorrência com recurso a ambulância temos um profissional enfermeiro para acompanhar a situação. Temos ainda um conjunto de materiais preparados para cada tipo de situação, as equipas, também adequadas para dar resposta a cada ocorrência, temos desfibrilador cardíaco e temos pessoal formado para manusear os equipamentos. Realizamos manutenção e actualização tanto das equipas como dos equipamentos”, garantiu Carlos Teixeira.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1130 de 26 de Julho de 2023.