Nadadores-salvadores da Praia exigem melhores condições de trabalho e apelam à prudência dos banhistas

PorSheilla Ribeiro,13 ago 2022 6:02

Entre Julho e Agosto, a Cidade da Praia registou várias mortes no mar, exigindo uma vigilância redobrada por parte dos nadadores-salvadores, que pedem melhores condições de trabalho. Por outro lado, pedem aos banhistas que sigam as orientações dos salva-vidas e que sejam responsáveis no tempo em que estiverem nas praias para evitar que tragédias aconteçam.

Ao Expresso das Ilhas, o Comandante dos Bombeiros da Praia informa que ao todo são 10 nadadores-salvadores distribuídos pelas praias de São Francisco, Prainha e Quebra Canela, de segunda a segunda, das 9h00 às 18h00.

Entretanto, Carlos Teixeira afirma que actualmente estes profissionais enfrentam vários desafios, sobretudo por ser época de grande procura das praias e porque o mar está agitado.

O Comandante dos Bombeiros da Praia aponta como outro desafio a falta de equipamentos e materiais, que são da responsabilidade do Instituto Marítimo Portuário (IMP).

“Houve uma época em que não havia nadadores-salvadores nas praias da capital, mas depois que me tornei comandante fui buscá-los às suas casas e começaram a trabalhar com os materiais que tinham, num estado muito precário. Há alguns dias o IMP disponibilizou alguns materiais, como por exemplo bóias, que é da sua responsabilidade, assim como estabelece o protocolo assinado”, refere.

Carlos Teixeira diz que, por enquanto, não culpa os nadadores- salvadores pelas mortes que têm ocorrido, já que têm acontecido em lugares de difícil acesso para eles, uma vez que trabalham apenas na parte balnear.

“A formação do nadador-salvador que o IMP oferece é básica, e é de resgate e prevenção na parte balnear, não é uma formação que abrange as áreas rochosas. Mas, tendo em conta os últimos acontecimentos, seria importante uma formação para essas áreas e equipamentos para tal”, considera.

Por exemplo, Teixeira explica que se os nadadores-salvadores da Praia tivessem pelo menos uma mota de água ou um bote, muitas situações poderiam ser evitadas, sobretudo nesta altura em que o mar está encapelado.

Assim, argumenta, se os banhistas se afastarem muito da costa, o nadador não perderia tempo em prestar socorro, que seria quase instantâneo.

Um outro apelo do Comandante é que o IMP trate das torres de vigia que declara estarem degradadas e bóias de sinalização que permitam aos banhistas terem a noção do limite até onde deve nadar.

Formação e novos profissionais

Para além dos equipamentos, Carlos Teixeira defende que é preciso formação para os nadadores-salvadores e reforma da classe.

Quanto à formação, ressalva que está prevista iniciar em Setembro e espera que, de facto, venha a acontecer dado que estava prevista para Maio, tendo sido cancelada.

Por outro lado, Carlos Teixeira considera ser “grave” existir apenas um técnico capacitado para tal em todo o país.

“Não se trata de um ataque ao IMP, muito pelo contrário, eu quero um «junta mom»”, enfatiza.

Quanto aos profissionais em causa, o Comandante aponta que já perderem a eficiência, tendo em conta a idade e que é preciso recrutar outros mais jovens.

“É preciso uma reforma séria nesta matéria e nem eu, nem a CMP temos poder para tal. Tem de ser o IMP a realizar esta reforma”, observa.

Nesta linha, o Comandante dos Bombeiros da Praia apela ao IMP que dê mais atenção à Praia. “Assim como dão mais ênfase a São Vicente, que dêem também à Praia que é capital. Basta ir às praias para ver que há uma necessidade enorme de materiais para o trabalho do nadador-salvador. Em São Vicente há mota de água e aqui não. Mas, se tivéssemos, teríamos uma segurança espetacular nas praias”, sustenta.

IMP afirma que CMP ainda não assinou protocolo

Em declarações ao Expresso das Ilhas, o capitão dos Portos Sotavento, Mário Ferreira, explica que o instituto assinou um protocolo de cooperação com todos os municípios e que na ilha de Santiago, Praia foi o único a não assinar.

No protocolo, conforme advoga, está explicitado qual a parte que cabe ao IMP, ao governo e às Câmaras Municipais.

“Entretanto, nessa questão de equipamentos de segurança nas praias balneares, oferecemos à Praia um leque de materiais. Quanto às torres estão todos confeccionados mas serão instalados depois, já que o processo é feito por fases. Em cada fase do financiamento vemos o que é possível fazer”, revela.

Nesta primeira fase, Mário Ferreira garante que o IMP optou pela distribuição de equipamentos como bóias circulares, bóias torpedos, placas informativas, entre outros.

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“Em termos de formação há um protocolo que a Câmara Municipal da Praia ainda não assinou, mas as outras câmaras já assinaram e já enviaram os dados dos seus nadadores salvadores. Inclusive, a formação está prevista para 16 de Setembro”, avança.

O IMP, segundo assegura, tem feito a sua parte e a Câmara tem de fazer a parte que lhe cabe.

“Nesta primeira fase estamos a apostar mais na formação e na requalificação dos nadadores-salvadores. Está tudo enquadrado no protocolo e já começamos a formar nadadores-salvadores na Boa Vista e Sal, em Setembro vai ser Praia”, frisa.

Salvadores e IMP apelam à responsabilidade dos banhistas

Tendo em conta os últimos acontecimentos, Carlos Teixeira afirma que os nadadores-salvadores sempre alertaram os banhistas, além das placas sobre os riscos e deveres colocadas nas praias recentemente, pelo IMP.

Contudo, lamenta que muitos não acatam as ordens dos nadadores-salvadores, esquecendo-se que estes conhecem bem o mar.

“Quando o nadador-salvador diz que o mar não está bom para o banho é porque não está bom. É por isso que há bandeira que alerta sobre o estado do mar, mas mesmo com bandeira as pessoas infringem, principalmente quando estão alcoolizadas e, das recentes mortes, houve casos em que as vítimas estavam bêbadas”, ressalta.

Um outro problema apontado por Teixeira, tem a ver com adultos que deixam de vigiar as crianças ou portadores de deficiência nas praias, alheios aos perigos do mar.

“É preciso prestar atenção às crianças e doentes porque o mar é muito traiçoeiro. Quando estão em grupo devem evitar levar bebidas alcoólicas. Tenho constatado que na maioria das vezes, quando estão em grupo grande, as pessoas levam para comer feijão pedra e congo, que quando associados ao álcool provoca congestão”, alerta.

Nesse sentido, Teixeira sugere que se opte por comidas mais leves como massa ou arroz, que não necessitam de três horas para fazer a digestão.

Para reforçar a sensibilização das pessoas, o Comandante informa que estão a elaborar um spot televisivo de alerta à população.

Na mesma linha, o capitão dos Portos Sotavento, Mário Ferreira, salienta que os banhistas não têm estado a seguir as orientações dos nadadores-salvadores e das bandeiras sinaléticas.

“É uma situação que tem de ser levada pelo lado pedagógico para que as pessoas se consciencializam de que se o nadador-salvador está na praia é para ajudar, que é a melhor pessoa para alertar sobre o estado do mar”, mostra.

Assim, Mário Ferreira apela aos banhistas que respeitem os sinais da bandeira, assim como as instruções do nadador-salvador e que evitem entrar na água menos de três horas após uma refeição.

“Também devem evitar afastar-se demasiadamente da costa, vigiar permanentemente as crianças nas praias, procurar nadar acompanhados”, concluiu.

De referir que, após um fim de semana marcado por quatro vítimas mortais, sendo três na Praia e um no Sal, o IMP, através de um comunicado assinado pelo Capitão dos Portos de Barlavento, Aguinaldo Lima, afirmou que se impõe uma reflexão “mais profunda” sobre o comportamento das pessoas relativamente ao mar.

“Nestes momentos, impõe-se uma reflexão mais profunda sobre o nosso comportamento relativamente ao mar, pelo que reforçamos o nosso apelo aos utilizadores das praias nacionais no sentido de uma maior prudência, devendo respeitar as recomendações de segurança das autoridades, respeitar as indicações dos nadadores-salvadores e as instruções da Polícia Marítima, bem como as orientações das placas sinaléticas nas praias”, lê-se.

O IMP alertou ainda que, por razões de segurança, deve-se evitar o uso de praias não vigiadas ou caracterizadas como não balneares e perigosas.

Quanto aos praticantes da pesca de lazer, recomenda precaução na prática da actividade, utilizando equipamentos de protecção e segurança como coletes e bóias, evitando pescarias em zonas de difícil acesso, sem rede de comunicação e, principalmente, em zonas de mar muito agitado.

Em menos de um mês já foram registados oito óbitos nas praias do país, sendo sete da Praia.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1080 de 10 de Agosto de 2022. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,13 ago 2022 6:02

Editado porA Redacção  em  12 mar 2023 23:28

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