Há mais cabo-verdianos fora de Cabo Verde do que no arquipélago. A frase batida encontra, de facto, eco na realidade observada. Estima-se que só nos Estados Unidos vivam mais de 750 mil cabo-verdianos de quatro gerações. Segue-se Portugal, onde se acredita morarem mais de 360 mil cabo-verdianos. E depois França, Angola, São Tomé e Príncipe…
Estes são dados que foram, inclusive, recentemente avançados pelo Ministro das Comunidades, Jorge Santos. Existe pois esta estimativa. Mas Cabo Verde quer dados mais concretos, aprofundados, sistematizados e permanentes das suas gentes espalhadas pelo mundo.
O que se quer
O Plano Estratégico do Desenvolvimento Sustentável (PEDS II) assume uma “nova visão sobre a diáspora” e dita o seu Objectivo Estratégico 4 a implementação, entre outros, do programa “ Diáspora Cabo-verdiana – Uma centralidade”.
Ora, “uma das metas prevista no âmbito deste programa é”, precisamente, ”estudar e conhecer o perfil das comunidades cabo-verdianas no exterior”, como explica Elga Tavares, coordenadora da Divisão do Recenseamento e Inquéritos Especiais do INE.
Nesse sentido, em Junho passado foi publicada no B.O. uma Resolução que aprovou o início de um processo de mapeamento, onde estão definidas as características do mesmo e a qual confere ao INE, enquanto órgão produtor de estatísticas oficiais no país, poderes para executar este projecto.
“O que é que se pretende é escolher dados para a produção de estatísticas oficiais no âmbito do Sistema Estatístico Nacional, de forma a permitir conhecer o perfil sociodemográfico, económico e a distribuição geográfica da diáspora cabo-verdiana em todos os países de acolhimento, isto tendo em vista a sua integração no processo de desenvolvimento sustentável de cabo verde”, cita a técnica, que é também a responsável pela proposta Metodológica para o Mapeamento da Diáspora.
Primeiro passo assente, começou-se então a desenhar como seria levado a cabo este complexo processo.
Spadjado na mundo
Outros países já realizaram iniciativas de mapeamento da sua diáspora e até de recenseamento. Contudo, esta é a primeira vez que o INE de Cabo Verde realiza uma empreitada deste tipo.
Sendo um trabalho estatístico inédito, o instituto não dispõe, pois, de uma base de dados preliminares. “O que temos são dados, alguns dos quais públicos, que podem ser encontrados nos sites de várias instituições estatísticas e que dão conta do número de cabo-verdianos recenseados em determinado país. Acredito, porém que esses dados nunca dão a real dimensão da comunidade existente”, considera Elga Tavares.
Entretanto, embora o mapeamento, conforme definido na referida resolução, pretenda atingir todos os países que acolhem a diáspora, de momento é quase impossível fazê-lo, face à vasta diáspora.
“Então, por questões metodológicas, vamos iniciar pelos países onde temos a noção que existe maior comunidade” e a partir daí traçar o perfil , explica. Posteriormente, o mapeamento será alargado a outras paragens.
Recolha de dados
Olhando o exemplo de outros países, a recolha online tem sido a norma. Porém, o INE de Cabo Verde prevê usar duas fontes de recolha de dados neste Mapeamento.
“Além da recolha online, teremos os recenseamentos dos países de acolhimento. Vamos aproveitar os dados já existentes e ver [a possibilidade de] parcerias com outros Institutos de Estatística para incluir uma outra variável no recenseamento que eles estão a fazer”, explica Elga Tavares.
Nesta combinação de fontes, além das parcerias com os INE, representações diplomáticas de Cabo Verde e outras instituições que trabalham com estatísticas, serão estabelecidos contactos mais directos com as comunidades, nomeadamente através de Associações cabo-verdianas no estrangeiro.
“Acreditamos que cada país tem a sua particularidade e para que a recolha online tenha sucesso é preciso conhecer bem estas comunidades e ver as melhores estratégias a serem traçadas em termos de divulgação do projecto, para levar as pessoas a aderirem e preencherem os seu registo online”, refere.
Quanto aos dados, o mapeamento vai permitir, além de saber quantos são os cabo-verdianos na diáspora, conhecer algumas características básicas como o sexo e a profissão. Pretende-se também saber, por exemplo, se o emigrante “tem intenção de fazer, ou já fez, algum investimento aqui no país”.
Etapas
Embora o lançamento oficial do projecto só tenha tido lugar quarta-feira, 24 de Janeiro, os trabalhos já começaram há algum tempo. No ano passado foi elaborado o documento metodológico e, assim, identificadas as fontes de dados a utilizar.
Quanto ao próximo passo, segundo o cronograma e como acima referido, “é conhecer as particularidades de cada país.”
“Portanto, vamos em breve iniciar contactos com as Embaixadas e com as Associações”, revela a técnica, e, conhecendo as referidas particularidades, delinear as estratégia de divulgação e sensibilização para o Mapeamento.
Ao mesmo tempo, a equipa do INE está já a trabalhar o questionário que será aplicado na plataforma on-line que será desenvolvida.
No futuro, pretende-se pois ter um sistema de registro permanente, ou seja, uma base de dados a partir do qual seja possível traçar, como desejado, o perfil da diáspora cabo-verdiana.
O projecto conta com a colaboração do Banco Mundial, está orçado em cerca 230 mil contos, e tem como prazo de execução previsto o final de 2026. A previsão é que em Dezembro de 2025, sejam apresentados os primeiros resultados.
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CAIXA Quem é a “Diáspora”?
A Diáspora Cabo-verdiana são “as comunidades cabo-verdianas e seus descendentes que vivem fora do território nacional e que se encontram dispersas por várias regiões e países pelo mundo, que preservam, através de suas expressões cultural e identitária, o afecto, a língua e a ideia permanente de ligação e do regresso a Cabo Verde”, define a Resolução n.º 44/2023, de 15 de junho, que aprova o início do processo de mapeamento para fins de Produção de estatísticas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1156 de 24 de Janeiro de 2024.