Desde Novembro do ano passado, altura em que foram detectados os primeiros casos de dengue, as autoridades de saúde já registaram “cerca de 2000 casos da doença” em seis das nove ilhas habitadas do país, referiu, esta terça-feira, a Directora Nacional de Saúde, Ângela Gomes, após uma reunião com as estruturas de saúde, onde foi feita a actualização do Contexto Epidemiológico Nacional.
Santiago, e especialmente a Praia, concentra a maioria dos casos com mais de 1300 casos registados, mas há também transmissão da doença nas ilhas do Maio, Fogo, Brava e Boa Vista.
“Desde meados de Novembro do ano passado, começamos a ter notificação de casos de Dengue nas ilhas do sul, iniciando na cidade da Praia, concretamente nos bairros norte da cidade como Ponta d'Água ou Safende”, explicou, por sua vez, António Moreira, coordenador do programa de luta anti-vectorial, em entrevista ao Expresso das Ilhas.
Este responsável assegura que as autoridades de saúde têm vindo a actuar na prevenção da propagação da dengue e que o Ministério da Saúde elaborou um plano de contingência para evitar a propagação quer da doença quer dos mosquitos que a transmitem.Um plano que passa pela formação dos agentes de saúde, mas também pela informação da população quanto às formas de combater e prevenir o surgimento de mosquitos transmissores da doença.
“A parte da vigilância tem vindo a actuar, a notificar casos suspeitos e também casos confirmados”, assegura António Moreira.
Depois de os primeiros casos terem sido registados na capital, “houve uma deslocação da epidemia da doença para a Ilha do Fogo, concretamente São Filipe, depois para Mosteiros. Actualmente, também temos tido alguns casos na Ilha Brava e neste momento, eu diria que o epicentro se encontra aqui na Praia, com aproximadamente de 30 a 40 casos confirmados nas últimas semanas”, refere António Moreira.
Prevenir, prevenir, prevenir
A prevenção é “sem dúvida” a melhor forma de evitar a doença, referem tanto a Directora Nacional de Saúde, como o coordenador do programa de luta anti-vectorial.
“Nós temos feito várias campanhas. Campanhas de sensibilização, de proximidade com a população, com as associações, formamos também 23 associações na cidade da Praia, houve também formações na Ilha do Fogo, houve supervisões, houve deslocações, inclusive esteve cá um perito da OMS nessa matéria, que fez uma visita integrada com os profissionais de saúde e várias formações”.
Além disso, a aposta nas campanhas de pulverização tem sido constante, assegura António Moreira. “Nós temos um plano elaborado, que é um plano para a época da chuva, para ver as acções antes, durante e depois, tudo na vertente da luta anti-vectorial, também na componente do diagnóstico e do reforço dos recursos humanos, porque sabemos que durante e depois da chuva vai haver mais viveiros criadores de mosquitos e, consequentemente, haverá mais mosquitos”.
As campanhas de limpeza são, por isso, essenciais, para evitar o crescimento das colónias de mosquitos. Um trabalho que, assegura este responsável, já tem vindo a ser feito em todo o país.
“Fizemos campanhas integradas de limpeza pelos municípios, porque sabemos que o ambiente é muito importante, sobretudo os recipientes que se encontram abandonados no meio ambiente. Também fizemos uma campanha de recolha de pneus, porque estes constituem um autêntico viveiro durante a chuva e depois da chuva”, aponta António Moreira, destacando que na Praia, durante os 10 dias que durou a campanha, as autoridades de saúde conseguiram recolher “aproximadamente 1.500 pneus que se encontraram no meio ambiente”.
Dentro de casa, tendo em conta que o mosquito que transmite a dengue é domiciliar, a prevenção é simples. “É necessário manter a casa limpa, e, lá onde é possível, colocar redes nas janelas”, diz António Moreira, que exorta igualmente a que se evite deixar depósitos de água descobertos e pratos de vasos de plantas com água.
Resistência
A luta anti-vectorial tem, no entanto, enfrentado algumas dificuldades.
António Moreira refere que o facto de haver muitas casas fechadas contribui para o surgimento de zonas de criação de mosquitos. Além disso, “há também a recusa das pessoas no acesso das equipas de pulverização às suas casas” nos diferentes bairros da cidade. E, recuperando a campanha de recolha de pneus, lembra que a população alega que precisa deles pelos mais variados motivos, o que acaba por tornar estes objectos possíveis criadouros de mosquitos transmissores da dengue.
“Tentamos informar muito bem [as pessoas] de que é preciso saber dar seguimento a esses pneus, cobri-los ou enchê-los com terra para evitar a criação de mosquitos”, aponta António Moreira.
“Não há mosquitos sem água”, acrescenta.
Evolução
Como já foi referido, o país conta, até agora, com cerca de 2000 casos confirmados de dengue.
A questão agora é se a tendência será para o número continuar a crescer ou se já dá sinais de diminuição no ritmo de crescimento.
“Eu acho que já atingimos um número razoável de casos, mas, como ainda estamos num período quente e também de alguma chuva”, a tendência deverá ser manter o ritmo de surgimento de casos, até porque a chuva, mesmo que fraca como tem acontecido, traduz-se no aumento da densidade da população de mosquitos. “Provavelmente esse plateau vai se manter. Ddepois, se tudo correr bem, no final de Agosto e nos meses de Setembro e Outubro, a diminuição da temperatura vai-nos ajudar e, provavelmente, haverá uma queda no número de casos. Mas, para já, certamente vamos manter o número”.
Malária
Não é apenas a dengue que é transmitida por mosquitos. Também a malária é uma doença com a mesma forma de transmissão.
A ausência continuada de casos autóctones valeu, recentemente, a certificação de Cabo Verde pela OMS como sendo um país livre da doença.
“Fomos certificados em Janeiro deste ano pela Organização Mundial da Saúde como um país livre do paludismo. A responsabilidade é ainda maior, sobretudo para prevenir a reintrodução da doença. Então, nós temos os projectos, as chaves estratégicas que estamos a implementar no sentido de prevenir a reintrodução”, aponta António Moreira, que destaca que Cabo Verde tem um plano de prevenção da reintrodução do paludismo no país para 2023- 2025.
Um programa que tem vários eixos. “Um dos principais tem a ver sobretudo com a parte da vigilância epidemiológica, ou seja, vigilância relacionada com casos importados. Teremos de diagnosticar rapidamente, tratar correctamente e fazer o seguimento de acordo com o protocolo”, explica.
Uma das melhores formas de prevenir a propagação de uma doença é através da vacinação da população. No entanto, no caso da malária, esta não é para já uma iniciativa que as autoridades tenham previsto realizar.
“Pelo conhecimento que tenho, a vacinação ainda está em uma fase muito inicial. No nosso plano de prevenção da reintrodução, não está prevista a introdução da vacina. Mas vamos acompanhar, vamos actualizar, vamos fazer as análises do levantamento e ver se há ou não a necessidade o fazer”, conclui António Moreira.
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Cabo Verde com capacidade de despistagem da Mpox
Directora Nacional de Saúde assegurou esta terça-feira, em conferência de imprensa, que no país há capacidade para fazer testes de despistagem de casos suspeitos da nova variante do vírus Mpox.
“Em 2022, já nos tínhamos preparado para uma possível entrada [do vírus], devido ao alerta da OMS [Organização Mundial da Saúde], e já temos algum trabalho feito”, assegurou, esta terça-feira, Ângela Gomes após a reunião para actualização do Contexto Epidemiológico Nacional.
“Estamos a fazer todas as diligências para que as condições estejam instaladas o quanto antes”, reforçou, dizendo igualmente que as autoridades de saúde nacionais irão seguir todas as recomendações feitas pela OMS não só aos países que enfrentam surtos da doença, mas também a outros países, aos quais apelou a que façam melhorias na coordenação da resposta de emergência, na vigilância e tratamento médico.
De recordar que, na sexta-feira, a ministra da Saúde, Filomena Gonçalves já tinha anunciado que as autoridades de saúde vão aumentar a vigilância nos portos e nos aeroportos para detectar “rapidamente” casos suspeitos da nova variante do vírus Mpox e apostar na comunicação e sensibilização.
“Isso envolve muitas actividades, nomeadamente a formação dos profissionais de saúde na identificação e notificação de sintomas, e o aumento da capacidade diagnóstica laboratorial”, indicou Filomena Gonçalves, em declarações à Rádio de Cabo Verde (RCV).
A ministra avançou ainda que as autoridades vão “aumentar” a comunicação e sensibilização pública, considerada “crucial” para informar as pessoas sobre sintomas, modos de transmissão e medidas de prevenção, acrescentando que Cabo Verde já está em contacto com a OMS e outros parceiros para apoios técnicos, tratamentos e vacinas.
A OMS declarou no sábado o surto de Mpox em África como emergência global de saúde
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601 casos de covid-19 em todo o país
Ângela Gomes, Directora Nacional de Saúde, lembra que ainda estão em vigor as medidas de prevenção de propagação da doença como a obrigatoriedade de usar máscaras nas estruturas de saúde.
A Directora Nacional de Saúde anunciou, esta terça-feira, que há actualmente no país 601 casos activos de covid-19 sem que, no entanto, haja casos graves da doença ou mortes associadas à mesma.
Ângela Gomes, no entanto, lembrou que pessoas com comorbilidades devem fazer uma vacinação de reforço para evitar situações graves que possam levar a internamentos ou óbitos.
“Nas nossas bases de dados do sistema de vigilância da Direcção Nacional de Saúde, temos registrado 601 casos, sendo que a cidade da Praia, detém mais de 80% dos casos e estamos a fazer esse monitoramento, não só para as doenças respiratórias, onde está incluído o SARS-CoV-2 como, também, para outras arboviroses”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1186 de 21 de Agosto de 2024.