O anúncio foi feito em conferência de imprensa conjunta pelo ministro da Administração Interna, Paulo Rocha, e pela ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, que destacaram as medidas urgentes e multissectoriais que estão a ser implementadas para conter a dengue.
O estado de alerta da Protecção Civil, em vigor desde 29 de Agosto, foi agora reforçado com a declaração do estado de contingência, permitindo a mobilização de mais recursos e meios de resposta à crise. Segundo o ministro da Administração Interna, esta decisão visa combater o aumento exponencial de casos que se verifica em várias ilhas do país, especialmente em Santiago e Fogo. Paulo Rocha sublinhou a importância da acção concertada entre as diversas instituições e os municípios.
“Entre as medidas adoptadas está a constituição de uma força tarefa de natureza multissectorial, composta por agentes da Protecção Civil e outras entidades, com o dever de apoiar as estruturas de saúde no reforço das acções de resposta. A elevação do estado de prontidão das forças de segurança já foi efectuada, e activámos os planos de emergência em todos os municípios. Esta é uma acção que requer envolvimento nacional, pois a acumulação de águas das chuvas e a insalubridade ambiental aumentam o potencial de multiplicação dos mosquitos.”
O governante apontou também a resposta insuficiente de alguns municípios, especialmente na cidade da Praia, onde se regista um nível elevado de insalubridade ambiental que contribui para a propagação do mosquito transmissor. Para combater este problema, estão previstas intervenções concretas ao nível da limpeza pública, com foco na eliminação de lixeiras e poças de água, locais propícios para o desenvolvimento das larvas.
Por sua vez, a Ministra da Saúde, Filomena Gonçalves, destacou a dimensão global do surto e o papel das condições climáticas na proliferação do vírus da dengue, afirmando que Cabo Verde não está isolado deste fenómeno mundial.
“Actualmente, mais de 90 países no mundo estão a lidar com a transmissão activa do vírus da dengue. Factores como as alterações climáticas, a urbanização descontrolada e as condições de saneamento precário têm favorecido o aumento da proliferação de mosquitos vectores. Este é um combate que se vence com pequenos gestos de cada um de nós, mas colectivamente podemos fazer a diferença. Estamos a mobilizar recursos nacionais e internacionais, e a reforçar a nossa capacidade de resposta a nível do sistema de saúde.”
A ministra apelou ao envolvimento activo da população na prevenção, alertando para a necessidade de eliminar criadouros de mosquitos, usar repelentes e manter os espaços limpos e livres de águas paradas.
A presidente do Instituto Nacional de Saúde Pública (INSP), Maria da Luz Lima, fez um ponto de situação sobre a evolução da epidemia, mencionando que, até ao dia 30 de Setembro, o país acumulava um total de 8.576 casos, com duas mortes registadas. A cidade da Praia é a mais afectada, concentrando 74,2% dos casos, seguida de São Filipe e Mosteiros no Fogo. Segundo Maria da Luz Lima, a disseminação do vírus alastrou-se a todas as ilhas do arquipélago, excepto o concelho de Paúl, em Santo Antão, e Tarrafal de São Nicolau.
“Estamos a trabalhar arduamente para controlar a situação. A nível dos grupos etários, notamos maior prevalência nos jovens de 5 a 19 anos e nos adultos de 25 a 39 anos. Há ainda dois serotipos do vírus em circulação, o serotipo 1 e o serotipo 3, ambos exigem muita atenção. A nossa expectativa é que possamos atingir o platô da curva nos próximos dias, mas isso depende de todos nós, especialmente agora com a chegada das chuvas, que representam um período crítico.”
O ultimo Boletim diário de dengue mostra que até a quarta-feira, 02, foram detectados no país 325 casos suspeitos, 207 casos confirmados. Há 5 pessoas hospitalizadas.
As autoridades reiteraram que, além das acções governamentais, a luta contra a dengue só será eficaz com a colaboração activa da população, sendo necessário manter as medidas de prevenção para evitar a propagação do vírus.