Viver com Diabetes

PorSheilla Ribeiro,10 nov 2019 9:31

De acordo com a investigação da Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês), actualmente o mundo conta com 425 milhões de adultos diabéticos. A estimativa, segundo o relatório, é de que até 2045 a população com diabetes aumente em quase 50%, alcançando o total de 629 milhões. Em Cabo Verde, dados referentes a 2007 apontam para uma taxa de prevalência de 12,7%.

No ano passado, a coordenadora nacional do Programa de Prevenção da Diabetes, Emília Cristina Monteiro, em declarações à Inforpress fez saber que estava a ser projectado um novo inquérito para 2019. 

José Maria Vieira descobriu, enquanto trabalhava no interior da ilha de Santiago, que tinha diabetes. A vontade excessiva de beber água e de urinar alertava que sua saúde não estava “completamente perfeita”. 

“Descobri que sou diabético há 22 anos quando fui trabalhar no interior, tive um mal-estar e tive de vir para Praia fazer uma consulta. Entretanto, antes disso, sentia muita vontade de beber água e urinar”, narra. 

Por sua vez, Domingos Semedo, conta que há 27 anos, após notar que toda vez que ia a casa de banho as formigas aglomeravam nas gotas da urina, que ficavam na tampa, começou a desconfiar que algo não estava bem. 

“A minha mulher começou por alertar-me que toda vez que eu urinava as formigas aglomeravam-se e que eu podia estar doente. Mas nunca acreditei nisso e sempre dizia que podia ser ela a estar doente por causa da gravidez, até que num domingo por estar em serviço, sozinho, notei que de facto as formigas juntavam-se a volta da minha urina”, descreve. 

Ser diagnosticado com uma doença crónica como diabetes, segundo os relatos de José Maria Vieira e Domingos Correia Semedo, “muda a vida” da pessoa. Remédios, idas mensais ao hospital ou Centro de Saúde e restrições alimentares começam a fazer parte do seu quotidiano. 

Diabetes – o que é e quais os tipos? 

A médica Alice Teixeira explica que diabetes é uma alteração que ocorre no organismo, criando dificuldades em lidar com o açúcar.

“É quando comemos e temos dificuldades de colocar aquele açúcar dentro das nossas células”, clarifica, acrescentando que o açúcar, em jejum, vai até 110. Acima desse valor “é alteração”. 

Conforme a mesma fonte, para fazer o diagnóstico é necessário que se tenha, mais de uma vez, a glicemia do jejum alterado, além de fazer o exame da hemoglobina glicosídea, que mostra se há ou não alteração do açúcar no organismo. 

Alice Teixeira revela que há a diabetes tipo 1, tipo 2 e diabetes gestacional, que ocorre na gravidez. 

“Na gravidez a mulher pode contrair diabetes, mas, mão significa que seja diabética. Pode vir a ser, mais tarde, entretanto, normalmente é uma situação transitória e no pós-parto o açúcar volta ao normal”, aclara. 

Se depois do parto o nível do açúcar não voltar ao normal, é porque a pessoa já era diabética. Mas, às vezes, em conformidade com a médica, o que mostra que a mulher tem tendência a ser diabética, é o facto de dar a luz a um bebé de 4 quilos ou mais. 

Em relação aos diabetes tipo 1 e 2, a diferença, segundo a explicação da médica, ocorre no pâncreas. No tipo 1 verifica-se excesso de açúcar que circula no sangue, provocado pela secreção deficiente de insulina. Enquanto o tipo 2 é gerado pela resistência à acção da insulina. 

“Há diabetes que surgem com a idade e há aqueles que desde o início o problema é a insulina, que é o hormónio produzido pelo pâncreas. Quem tiver falta de insulina, não tem como colocar o açúcar dentro das células. Essa pessoa é diagnosticada com a diabetes tipo 1”, prossegue.

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Lidar com a diabetes 

Adaptar a uma nova dieta não foi uma responsabilidade difícil para José Maria Vieira, que nunca gostou tanto do sal nem de doces. 

“Para mim, não foi complicado, porque nunca fui uma pessoa de doces. Hoje eu como mais doces do que antigamente, porque quando a minha glicose está muito baixa, o açúcar vira remédio”, expressa. 

José Maria Vieira retrata que controla a diabetes medindo a glicose regularmente, além de se alimentar bem. Mesmo com esses pilares de controlo, José Maria Vieira conta que nem sempre é fácil por causa de outros factores físicos e emocionais. 

“Cansaço, stresse, ansiedade, uma gripe, por exemplo – afectam os nossos índices de glicose. Mesmo fazendo tudo certo e igual, todos os dias, a gente vive um dia de cada vez. Não dá para dormir no ponto, é necessário ter esses cuidados todos os dias”, narra, acrescentando que com o tempo acaba sendo algo natural. 

Por seu turno, Domingos Semedo menciona que há 10 anos teve os membros inferiores amputados por causa da diabetes, apesar dos cuidados com a alimentação. 

“Mesmo com os tratamentos para a diabetes tive uma borbulha no pé que resultou na amputação de um dedo. Após 35 dias não melhorei, então, resolvi ir para Portugal por conta própria e lá os médicos disseram que eu tinha de escolher entre a minha vida e o meu pé”, relata. 

Alimentar bem tornou-se, de acordo com Domingos Semedo, “ainda mais fundamental”. Por isso, evita muitos alimentos como carboidrato, por exemplo. Além disso, procura comer de três em três horas. 

“O facto de a minha mulher também se preocupar com a alimentação saudável, facilita e muito. Acabamos por falar a mesma língua, por assim dizer, os nossos filhos também comem da mesma forma, então a alimentação é saudável para toda a família”, refere.

Mensalmente, quer José Maria Vieira, quer Domingos Semedo, devem ir ao Centro de Saúde para controlar a diabetes. Domingos Semedo diz que é preciso dedicar a vida a controlar o nível da glicémia e mantê-los dentro de um limite aceitável. 

“Tomar uma injecção de insulina se a glicose estiver muito alta, ou comer um doce, um copo de sumo ou qualquer coisa doce se estiver muito baixa”, conta. 

Sintomas de diabetes

Sentir muita sede ou então muita fome, vontade de urinar diversas vezes aos dias e até a visão embasada são, consoante Alice Teixeira, sintomas “clássicos da diabetes. Sintomas de que houve alterações do açúcar no organismo. A médica recomenda aos pais cuidar da alimentação dos filhos e evitar fast food e farináceo.

“Por vezes, por se falar em açúcar, toda gente preocupa-se com a ingestão do açúcar. Sim, há que ter cuidado com o açúcar, é prejudicial, mas também, quando na nossa dieta há o excesso de farináceos, ficamos propensos a alterações de açúcar”, esclarece.

Fundamentando, Alice Teixeira afirma que é necessário ter uma dieta balanceada, sem excesso de carboidratos. A farinha, conforme esclarece, só causa diabetes quando consumida de forma “descontrolada”. 

“A pessoa pode ter diabetes hereditário, então não foi o açúcar e nem a farinha que lha causou, ainda assim, tem de controlar a ingestão desse tipo de alimentos para que possa ter a glicémia compensada dentro dos parâmetros da normalidade”, reitera. 

Em relação à alimentação, a médica recomenda ter um plano orientado por um nutricionista, ensinando os tipos, a quantidade dos alimentos e o horário das refeições para os diabéticos, de forma a manter o açúcar dentro do parâmetro da normalidade e assim “viver normal com a sua situação de ser diabético”.

“A diabetes é das doenças crónicas com as quais é possível viver bem se a pessoa conseguir controlar a sua alimentação, sua actividade física (que é importante) para manter o açúcar num nível que não lhe provoca danos”, informa.

A atenção à sola dos pés é “fulcral para os diabéticos. Segundo Alice Teixeira por causa das alterações nos nervos, a sensibilidade do paciente na sola dos pés do paciente acaba sendo alterada. Com isso, a pessoa pode machucar-se e não dar por isso quando já é tarde. 

“Por isso é necessário que o diabético esteja sempre a olhar para a sola dos pés, cuidar bem dos seus pés porque as vezes é ali que reside o problema. Pode ter um machucado e não se aperceber e que pode resultar na perda dos membros inferiores”, adverte.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 936 de 06 de Novembro de 2019. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,10 nov 2019 9:31

Editado pormaria Fortes  em  29 jul 2020 23:20

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