“Vamos acabar com a impunidade”

PorDulcina Mendes,16 abr 2021 6:57

Fundado em 1992, pelo actual presidente João Além, o PSD está mais uma vez a participar nas legislativas em Cabo Verde. O Partido Social Democrático concorre nas eleições do dia 18 de Abril em quatro dos 13 círculos eleitorais – Santiago Sul, Santiago Norte, América e África. Para estas legislativas, o partido tem como lema “Mudar Cabo Verde e dignificar o homem”. Está é a quinta vez que o PSD vai participar nas legislativas, com João Além na liderança do partido. Em entrevista ao Expresso das Ilhas, o líder e cabeça-de-lista para Santiago-Sul falou das propostas do PSD para a segurança, saúde, justiça, educação, turismo e transportes.

Como avalia a actual governação?

Para lhe dizer a verdade, este governo tem nota negativa. Na perspectiva do meu partido a governação tem sido péssima, por várias razões e uma delas é que a impunidade está por todos os lados, esta é uma das razões. As outras razões têm a ver com a evolução social. A evolução social precisa de uma economia e os economistas do nosso país, desde independência a esta parte trabalham para o indesenvolvimentismo não para o desenvolvimento. Isso quer dizer que estamos a fazer uma economia de caranguejo. É sempre a recuar para trás em vez de avançar para frente. E quem sofre com isso são as famílias, as futuras e a presente geração que está agora a viver sempre em crise. De maneira que é uma estúpida governação, com uma administração desorganizada, sem ética moral, moral no sentido em que não respeita as ideias dos outros. Para o meu partido, se continuarmos assim vamos para o fundo do mar, porque com o travão que se tem imposto à nossa economia, nós nunca mais sairemos da crise e precisamos trabalhar isso. Precisamos combater em primeiro lugar a corrupção para podermos servir às famílias, para o trabalho e preparar uma geração para o futuro. Uma geração que possa ter e dar dignidade aos os que estiveram para vir.

Qual a visão do seu partido para os próximos 5 anos?

A visão é esta: saúde, educação, trabalho, mas com produção, produtividade para que haja crescimento. Sobre o crescimento já vamos falar, porque fala-se muito de crescimento, mas o crescimento é para as famílias, para os trabalhadores mais nunca com todos estes crescimentos que dizem que temos ou vamos ter, as famílias viram os seus salários crescer, nunca viram a saúde em condições de poder ter uma saúde digna e todas as pessoas andam por aí a mendigar. Quando não se trabalha, mendiga-se ou pede-se perdão da dívida e é o que os governos têm feito depois da independência. Não ensinam a trabalhar, porque não sabem ensinar, não sabem para eles muito menos para ensinar. É preciso saber e, saber ensinar como fazer, isso o governo não tem feito. De maneira que vamos acabar com a impunidade, organizar a vida em todos os concelhos do país e nas ruas para acabar com a violência, assaltos e o desrespeito que há pelo outro. O desrespeito pelo próximo está a incidir com mais força.

Em relação à segurança, qual a proposta do seu partido?

Eu digo que a segurança está na desorganização da administração, porque se a administração for devidamente organizada não haverá violência e insegurança. Dizer que temos polícia, isso temos a valer, se dizemos que vamos pôr mais agentes podemos transformar todos os homens e mulheres em Cabo Verde em polícia, mas a desordem continuará, porque a desorganização é tal e tanta que não se pode dar um passo sem ser incomodado no meio da rua. Em casa é pior, então onde é que nós vamos? Se não podemos estar na rua e em casa por causa dos assaltos que há, para onde é que vamos? Estamos a bradar aos céus. Em Cabo Verde precisamos de organização, acabar com a impunidade, aquilo que estou a dizer é aquilo que farei sendo governo. Acabar com a impunidade, obrigar os homens a trabalhar e, acabar com a mendicância, porque toda a gente anda por aí a pedir em vez de trabalhar. Quem trabalha não é pobre, quem trabalha tem sempre forma de resolver a sua vida. Acabar com a mendicância e ao governo para deixar de fazer dívidas e pedir depois perdão da dívida. É não fazer dívidas, porque isso é vergonhoso, porque nós sabemos trabalhar e temos condições para trabalhar em Cabo Verde. Se trabalhássemos, não precisaríamos de estar a pedir às nações para perdoarem as nossas dívidas, porque elas quando são perdoadas depois essas nações começam a tirar contrapartidas e as contrapartidas são caras para toda a gente. Este indesenvolvimento continuado que temos acaba por deixar o país à mercê de todos os outros países que quiserem entrar aqui e fazer o que quiserem.

Qual a proposta do seu partido para a justiça?

A justiça, devido à desorganização do governo ou da administração, ela não existe e parece que as instâncias superiores não têm mão sobre a justiça, porque por mais que a gente peça que se faça, as queixas vão e ficam arquivadas. Nós temos aqui casos idênticos: há cinco anos enviamos um processo para o tribunal, não fomos ouvidos, não há resposta de nada e continuam a brincar com tudo isso, isso é impunidade. Isso permite que um indivíduo que cometa hoje um crime volte amanhã a cometer o mesmo crime, por isso não temos justiça e não tendo justiça não podemos exigir isso a ninguém. Esse governo invade tudo o que é defeso até parece impossível, o que não é de fazer e é proibido fazer é que o governo faz. Aquilo que não é proibido fazer, ele faz possível de perseguir,porque pelo menos ao meu partido eles têm-no perseguido sempre, de maneira que digo que a impunidade campeia, se nós continuarmos dessa forma mais tarde cada um tem que sair com uma arma e matar os outros na rua. Nós não queremos que isso venha a aconteça, por isso o povo terá que pensar e saber votar para que este governo se afaste. E não é só este, porque este é igual ao outro que esteve anteriormente, são dois governos da mesma raiz do PAIGC. Do PAIGC já sabemos que a morte de Amílcar Cabral anda por ia a badalar, José Maria Neves disse que foram os próprios dirigentes do PAIGC que mataram Amílcar Cabral. Quer dizer, isso já vem de longe e tudo o que têm trazido para aqui é mentira e a mentira propaga-se por todos os lados e cria revolta, violência e toda a espécie de crimes possíveis e imagináveis.

Como pretende o seu partido pôr cobro à violência e criminalidade de que fala?

É a instrução, temos que ir para a instrução, nada na vida se faz sem a instrução, mas os nossos meninos na escola não têm instrução. Eles são ensinados, mas como é que se pode ensinar sem instruir. Eles não sabem o que andam a dizer, dizem uma coisa a querer significar outra, isso não pode ser. Eles têm que compreender que há três fases do conhecimento que é preciso reconhecer: instrução, educação e ensino. A instrução é a base sobre a qual vai incidir a educação e o ensino, porque o ensino já é o esclarecimento. No meu tempo, os alunos saiam da escola primária preparados, sabiam como fazer, o que fazer e tinham educação, respeito e sabiam respeitar aos outros, porque eram ensinados, instruídos, educados e esclarecidos, mas hoje não, um menino sai da primária e vai para o liceu e depois para universidade e sai da universidade não conhecendo nada. Então, outros vão estudar fora do país e trazem um diploma, mas não percebem nada daquilo que versa o diploma. Então, em que país estamos, como é que podemos viver e como é que podemos desenvolver o nosso país se estamos a andar para trás em tudo.

Já que falou na educação. Qual a proposta do seu partido?

Eu disse que tudo na vida depende da instrução, se não há instrução não pode haver educação, se não houver instrução não poderá haver ensino. O nosso mal está precisamente na instrução, os indivíduos não estão preparados para dar respostas aos desafios do governo. Nós precisamos de preparar os nossos jovens para que deem resposta aos desafios do Governo para que haja desenvolvimento. Sem instrução nós estamos todos os dias a andar para trás, é isso que chamo de indesenvolvimentismo que esses partidos têm estado a votar, para enganar o povo cabo-verdiano.

Em relação ao turismo, qual a proposta do seu partido, tendo em conta que estamos no meio de uma pandemia que paralisou tudo?

Fala-se da pandemia e ouve-se muito do que se passa lá fora, mas não é o que se passa aqui. A pandemia lá fora tem medicamentos e tudo. Aqui qual é o medicamento, a COVID-19 começou na Boa Vista, muitos indivíduos ficaram dentro de um hotel para não terem que passar o vírus a outras pessoas, nenhum daqueles que lá estavam receberam medicamentos e depois de tanto tempo mandaram sair, porque já estavam todos curados, sem medicamentos, sem nada, nunca tiveram nada. Mas agora saíram porque já estavam curados, como é que se pode acreditar num Ministério de Saúde que faz o teste e manda as pessoas ficarem em casa. Além da Boa Vista está a acontecer aqui na Praia: faz-se o teste e manda-se a pessoa para casa 14 dias depois. Mas as pessoas nem ficam em casa, eles saem e ficam a andar para todos os lados. 14 dias depois as autoridades sanitárias telefonam às pessoas dizendo: você já está curado. Isso é brincar com a pandemia e, depois estão a dizer que a pandemia está a crescer todos os dias. Eu não acredito que está a crescer. Aqui há qualquer coisa que não está bem, há mafia a funcionar, mas a mafia da pandemia, não é o vírus, é mafia que eles estão a fazer para receber dinheiro.

Sendo governo como é que faria a gestão dessa pandemia?

Vou pôr os pratos limpos na mesa. Os médicos não sabem curar esta doença. Em Portugal nunca conseguiram saber qual é o mal que essa pandemia trouxe. O mal é espiritual, eles não conseguem curar depois estão a dar vacinas, mas essas vacinas vão até uma certa altura: uma doença desaparece e aparece outra. Já estão a sentir isso e disseram mesmo que os indivíduos mesmo vacinados estão a transmitir o vírus a pessoas que ainda não foram vacinadas. Isso quer dizer que a vacina não cura tudo. É uma panaceia, de maneira que tem que se fazer uma distinção entre a doença espiritual e material ou corporal. A pandemia é uma doença espiritual, é um malefício lançado no mundo por homens por causa da corrupção.

Qual a proposta do seu partido para os transportes, tanto aéreo como marítimo?

Os sucessivos governos do PAICV e do MpD são responsáveis por tudo o que está a acontecer com os transportes em Cabo Verde, porque tínhamos aviões e barcos, mas eles venderam tudo, dizendo que havia má administração. A má administração está no próprio governo, porque se o governo sabe alguma coisa instrui, passa circulares, manda instrução de toda a espécie e mostra como é que se faz e tem lá indivíduos que sabem fazê-lo. Eles puseram os afilhados do partido nessas administrações e eles suprimiram tudo o que lá estava e não tiveram mão forte para exigir desses indivíduos que tiraram o dinheiro esse dinheiro de volta. Os responsáveis para o desaparecimento de tudo isso são os dois partidos PAICV e MpD. E estão a jogar um como o outro fazendo o povo de bola. Nós somos ping-pong, porque Janira disse há dias que “se os cabo-verdianos votaram em mim, eu vou reaver os transportes aéreos e marítimos”. Ora a administração do seu partido é que deu cabo disto e veio o outro e deu cabo também. Então onde é que está o dinheiro? O dinheiro está nesses dois partidos. O dinheiro poderá estar na Cidadela, nos Bancos, na Bolsa de Valores e nas empresas, porque ninguém tinha nada e hoje são riquíssimos. De onde é que essa riqueza veio? Veio do dinheiro que os governos roubaram a este povo e estão a viver boa vida, enquanto o povo está a sacrificar-se sem nada ter. É preciso que o povo reveja isso e compreenda quem nos tem nesta situação periclitante, sofredora – O PAICV e o MpD. O Ministério Público terá que ir investigar e ver onde é que está esse dinheiro, porque o dinheiro não desapareceu de uma hora para outra, tudo isso tem que voltar. Caso o meu partido ganhar, vamos repor e renovar a frota e temos que preparar gente para essas coisas. Mas digo com franqueza, se eu for governo vou exigir de volta todo esse dinheiro e vamos renovar a nossa frota e desenvolver o nosso país.

Está é a quinta vez que o seu partido participa nas legislativas. Por que é que os cabo-verdianos devem votar no seu partido?

Nós temos muitas entraves que os outros partidos nos põem, agora estamos a ver o quê que tem estado a acontecer. O meu partido não foi convidado para o debate e dizerem que nós não quisemos aparecer, por isso já metemos uma queixa contra a RTC. Durante as eleições há gente para roubar votos e passar de uma coisa para outra, por isso estou sempre de fora e não é só eu sozinho, há outros.

 Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1011 de 14 de Abril de 2021.

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Autoria:Dulcina Mendes,16 abr 2021 6:57

Editado porAndre Amaral  em  21 jan 2022 23:20

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