PR vê lacunas de financiamento como motivo para atrasos de metas ambientais

PorExpresso das Ilhas, Lusa,23 set 2024 7:29

O Presidente da República defendeu este domingo que a mitigação e a adaptação a eventos climáticos extremos “não têm sido inclusivas" e têm ficado "aquém das metas traçadas", responsabilizando a “persistente” lacuna de financiamento por esses atrasos.

José Maria Neves discursou hoje na "Cimeira do Futuro", na sede das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, onde saiu em defesa da necessidade de uma reforma da Arquitetura Financeira Internacional.

"A realização dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), incluindo a mitigação e a adaptação aos eventos extremos associados às mudanças climáticas, não tem sido inclusiva, no sentido de 'não deixar ninguém para trás', e, ao mesmo tempo, tem estado aquém das metas traçadas", avaliou.

Uma causa essencial que tem impedido a aceleração dos resultados nesse âmbito, indicou José Maria Neves, "é o persistente 'gap' de financiamento entre os anúncios feitos e os desembolsos efetuados", "o que justifica plenamente uma reforma da Arquitetura Financeira Internacional, consentânea com o imperativo de financiamento ajustado às necessidades globais e diferenciadas do desenvolvimento".

Pedindo "ambição" para a Cimeira do Futuro, o líder cabo-verdiano observou que a humanidade tem vindo a enfrentar desafios "cada vez mais globais" e com impacto mais significativos, particularmente nos países mais vulneráveis.

Além das guerras e conflitos ao redor do mundo, José Maria Neves alertou igualmente para o aumento dos casos de tensão governativa, subversão da ordem constitucional com recurso à força e violações dos direitos humanos.

"O acesso aos benefícios da ciência, da tecnologia e da inovação, principalmente por parte do Sul global, os riscos associados à cibersegurança e à militarização das tecnologias, incluindo da Inteligência Artificial, assim como a capacidade de resposta aos questionamentos e sonhos dos jovens e das futuras gerações, são outros desafios globais e que tornam imperioso um quadro mais eficaz de cooperação internacional", acrescentou.

O chefe de Estado advogou que o desafio da governança global impõe a revisão do sistema multilateral nos três eixos da ONU: paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável.

Virando as atenções para o Conselho de Segurança - o órgão mais poderoso da ONU e cujas decisões têm caráter vinculativo -, José Maria Neves defendeu uma reforma que contemple a expansão do número de membros, o equilíbrio de representação regional e uma menor interferência do veto no processo de decisão.

Frequentemente considerado obsoleto, o Conselho de Segurança da ONU já é alvo de pedidos de reforma e expansão há décadas, com países emergentes como a Índia, África do Sul e Brasil a pretenderem juntar-se aos cinco membros permanentes.

Em geral, quase todos os países da ONU consideram necessário reformar o Conselho de Segurança, mas não há acordo sobre como fazê-lo, com diferentes propostas na mesa há anos, sendo que algumas englobam uma representação africana permanente no Conselho.

"Todavia, importa sublinhar que a aposta na reforma da governança multilateral, não pode nem deve desobrigar-nos daquilo que devemos fazer, nos planos nacional e regional, no atinente à consolidação do Estado de direito democrático, a afirmação de sociedades inclusivas e de plena vivência democrática, bem como ao desenvolvimento das experiências de integração e complementaridade regionais", acrescentou o Presidente, segundos antes de ter o seu microfone silenciado após ter ultrapassado o limite de tempo para a declaração.

José Maria Neves foi um dos líderes mundiais a discursar hoje no arranque da "Cimeira do Futuro", logo após a adoção de três acordos históricos que visam construir um futuro melhor para a humanidade: "Pacto para o Futuro", "Pacto Digital Global" e a "Declaração sobre as Gerações Futuras".

Após a intervenção na Cimeira, o Presidente cabo-verdiano reuniu-se com o secretário-geral da ONU, António Guterres, e discutiram os planos de Cabo Verde para sediar a quinta Conferência Internacional sobre Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, assim como a primeira cimeira das nações crioulas, segundo um comunicado oficial.

"O secretário-geral da ONU elogiou o Presidente Pereira Neves pela sua liderança e pelo seu papel como um apoiante proativo da agenda global dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento", indicou o gabinete de António Guterres em comunicado.

"Eles trocaram opiniões sobre o Índice de Vulnerabilidade Multidimensional como uma ferramenta importante. O secretário-geral e o Presidente trocaram opiniões sobre a 'Ocean Decade Alliance' e os planos para a próxima Conferência dos Oceanos da ONU em 2025", acrescentou.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,23 set 2024 7:29

Editado porAndre Amaral  em  25 dez 2024 23:28

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