Desde 2015 que Irlando Ferreira está à frente do CNAD que com a sua reestruturação passou a designar-se Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design. Com a publicação, no Boletim Oficial, no mês de Maio, dos novos estatutos, o CNAD ganha estatuto de Instituto Público dotado de autonomia administrativa, financeira e patrimonial.
A reestruturação do Centro, conforme o documento, visa cria reais condições jurídicas para o desenvolvimento do artesanato e do design e consequentemente da Indústria Criativa.
Além disso, os novos estatutos possibilitam também a criação de condições para a promoção do reconhecimento da importância do artesanato e do design para o desenvolvimento, social, cultural, turístico e económico de Cabo Verde.
O director do CNAD garante que a reestruturação restitui dignidade e permite ao Centro trabalhar de forma plena.
É que, como disse Irlando Ferreira ao Expresso das Ilhas, quando concluiu o mestrado, em Portugal, em Gestão e Estudos da Cultura e ingressou no CNAD, em 2015, encontrou o Centro com um conjunto de fragilidades que, no seu entender, se não fossem ultrapassadas, muito dificilmente seria possível alavancar o Centro Nacional de Artesanato e Design enquanto pólo de desenvolvimento do sector do artesanato e consequentemente das economias criativas. “Então fiz um projecto de 5 anos, em que um dos passos fundamentais era recuperar um estatuto para o Centro que lhe desse dignidade e estrutura jurídica para alavancar esse sector. Aí é que surge a proposta e que foi publicada a 28 de Maio de 2018 em que o Centro Nacional de Artesanato e Design passa a ser Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design, um instituto público com autonomia financeira, de gestão e patrimonial. Ou seja, aqui marcamos um momento muito importante na história deste sector em Cabo Verde. De uma estrutura frágil a todos os níveis, passamos a ter um instituto para cuidar a nível nacional do sector do artesanato e do design. Aí marcamos claramente um ponto de viragem. E esse ponto de viragem arrasta várias outras coisas. Se antes da criação do novo instituto não havia instrumentos para a materialização dos projectos, hoje o CNAD dispõe de um estatuto, de um quadro de pessoal e de um orçamento”, explica Irlando Ferreira.
De entre os projectos que o Instituto pretende desenvolver até 2020 constam a requalificação arquitectónica do Centro Nacional, o mapeamento e certificação do artesanato nacional já em curso, assim como a valorização e formação contínua dos artesãos, através da criação dos centros de produção e de formação a nível dos municípios.
A requalificação da sede do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design terá como ponto de partida a preservação desse património histórico situado na Cidade do Mindelo, cujas obras orçadas em 50 mil contos deverão decorrer entre 2018 e início de 2019.
Formação artística e académica
Irlando Ferreira, actual director do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design e Representante Regional Norte do MCIC nasceu, em S.Vicente, em 1981.
Iniciou no Mindelo como produtor de espetáculos de Dança, Música e outras atividades artísticas há 17 anos. Nos Estados Unidos/North Hollywood, colaborou com a companhia de teatro clássico - The Antaeus Company.
Em Portugal, além de outras casas de espetáculo, trabalhou no Teatro Nacional D. Maria II, no Teatro da Trindade e com os Artistas Unidos, entres outras colaborações. No campo da investigação científica, tem-se dedicado ao estudo das Economias Criativas e é autor do livro, “Cabo Verde, Economias Criativas, que Benefícios para o País?”. Irlando Ferreira foi um dos membros fundadores da Fou – Nána Projetos - Associação Cultural e fundou a produtora cultural - OI-ART Produções. Enquanto docente, lecionou no ISCEE – Instituto Superior de Ciências de Económicas e Empresariais, Cabo Verde. Tem um mestrado em Gestão e Estudos da Cultura – ramo de Gestão Cultural, pelo ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, e é licenciado em Teatro – ramo de Produção Teatral/Cultural, pela Escola Superior de Teatro e Cinema, de Lisboa.
Como disse a este semanário, a direcção do CNAD acaba por ser consequência da sua formação e experiência, pois além da formação base nas artes teve oportunidade de trabalhar em instituições culturais e artísticas de grande importância em Portugal e nos Estados Unidos.
“Digamos que a formação muniu-me de ferramentas para poder reflectir, projectar e gerir instituições de âmbito cultural e a experiência profissional abriu-me a visão e treinou-me para desafios que acarretam grandes responsabilidades, como é o caso do CNAD”.
O gestor cultural considera igualmente que o seu trabalho científico que culminou no livro, “Cabo Verde, Economias Criativas, que Benefícios para o País”, também foi fundamental para aperceber a importância da arte e da cultura naquilo que é tido como a economia do futuro e no qual o conhecimento é preponderante.
“As ferramentas de gestão cultural acabam por ser idênticas”
“Na base, um gestor cultural é treinado para gerir todo tipo de projecto ou instituição cultural, independentemente da vocação (artes performativas ou das artes visuais), desde que haja sensibilidade e amor pela arte e também estar em permanente diálogo e partilha com pessoas de grande conhecimento e valor, disponíveis a colaborar, pois um dos aspectos fundamentais na gestão cultural é a visão para projectar e a capacidade de identificar pessoas/profissionais competentes para dar corpo aos projectos. Em resumo, as ferramentas de gestão cultural acabam por ser idênticas, o que muda é o conteúdo”, sintetiza.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 873 de 22 de Agosto de 2018.