Ficou resolvida a questão matemática à volta dos grupos a desfilar no escalão oficial do Carnaval da Praia 2019. Conforme noticiamos há alguns dias, levantava-se um problema quanto ao número de grupos que este ano teriam acesso ao desfile no primeiro escalão ou escalão oficial do Carnaval da Praia.
Isso porque, embora o regulamento estipulado pela Câmara Municipal da Praia e divulgado através de um comunicado definisse o máximo de seis grupos a serem contemplados com o financiamento para preparar o desfile oficial do Carnaval 2019, havia a expectativa do grupo Maravilhas do Infinito – que em 2018 desfilou pela primeira vez, e em outro escalão, tendo contudo causado boa impressão pela qualidade apresentada – de participar este ano no concurso dos grupos oficiais, que já são seis: Vindos d’África (da Achadinha/Bairro Craveiro Lopes, tetra-campeão), Intervila (Vila Nova), Afro Abel Djassi (Achada de Santo Atónio), Estrelas da Marinha (Terra Branca), Vindos do Mar (Achada Grande Frente) e Samba Jó (Palmarejo).
“No ano passado ganhámos prémios para rei, rainha, mestre-sala e porta-bandeira: é justo subirmos para o escalão oficial”, defende Anita Faiffer, representante do Maravilhas do Infinito, que diz ter uma comissão organizadora composta por dez pessoas, sendo metade oriundas de São Vicente.
Com este impasse na agenda fez-se, na quinta-feira (17), a reunião entre representante da Câmara Municipal da Praia e os representantes dos grupos e, conforme o vereador para área da Cultura, a situação acabou por ser ultrapassada ao constatar-se a impossibilidade do grupo Estrelas da Marinha desfilar este ano, por razões de ordem interna.
Ficou assim aberto o caminho para o Maravilhas do Infinito (também da Achada Grande Frente) desfilar e competir no escalão principal.
“Tudo se resolveu a bem. Vamos desfilar sim”, reagiu Anita Faiffer ao Expresso das Ilhas, manifestando-se satisfeita com a informação avançada pela edilidade da capital em como a primeira tranche do financiamento de 500 contos reservada a cada grupo estaria disponível ainda esta semana.
A representante daquele grupo carnavalesco avançou então que os preparativos já decorrem a bom ritmo, inclusive os ensaios das coreografias.
“Vamos ter cerca de 300 pessoas na avenida, em seis alas. A nossa batucada – os Soldados da Percussão - é formada por 50 pessoas. Já temos música, criada pelo compositor Jorge Tavares, e vamos gravá-la para podermos tê-la a passar nas rádios na altura do carnaval”.
Anita Faiffer revela ainda o enredo do grupo para este ano – “Rota do Oriente: as especiarias” - e promete um desfile alegre e com muita qualidade.
Entretanto, a resolução pacífica desta situação não implica a satisfação de todos os envolvidos. Para o representante da associação dos grupos de Carnaval da Praia, José Fernandes, a situação deveria ter ficado esclarecida logo que o Maravilhas do Infinito manifestou a pretensão de ascender ao escalão principal. Isto porque, a seu ver, não faz sentido Achada Grande Frente ter dois grupos a concurso nesse escalão.
“Nem acho que Praia deveria ter seis grupos a competir no concurso oficial. Deveríamos, à semelhança de São Vicente, ter apenas quatro grupos. Não temos condições para ter seis grupos a desfilar na terça-feira. Para além do desfile tornar-se muito longo, há o dinheiro que poderia ser melhor distribuído se houvesse menos grupos e assim conseguirmos maior qualidade”, defende o porta-voz da liga carnavalesca.
Este responsável diz ainda que deveria haver “coragem política” por parte da Câmara Municipal da Praia para definir melhores regras e fazê-las cumprir.
CMP quer liga com responsabilidades
A Câmara Municipal da Praia, pela voz do vereador da Cultura, António Lopes da Silva, reagiu ao Expresso das Ilhas sobre as críticas apontadas pelo representante da liga, não sem antes deixar claras as responsabilidades da autarquia no que toca ao Carnaval.
“Quanto ao carnaval, o que é responsabilidade da Câmara Municipal da Praia é conceder aos grupos a verba para financiamento dos desfiles, é a preparação do recinto principal dos desfiles – nomeadamente as bancadas na Av. Cidade de Lisboa -, é garantir a segurança, o som no local e acompanhar os grupos durante os preparativos”, elenca o vereador.
Quanto às reclamações da liga, António Lopes da Silva aponta o dedo ao mau funcionamento desta entidade que desde a sua criação “não foi capaz de aprovar um estatuto” e tem assim esquivado a assumir plenamente as suas responsabilidades. É que, conforme explica o autarca, nesse ponto deveriam já ser os próprios grupos, já associados e à semelhança do que acontece em São Vicente – a criarem um regulamento e a organizarem o Carnaval da Praia, com a edilidade a funcionar apenas como parceiro e facilitador.
“Os grupos sequer conseguem avançar com proposta de nomes para o júri do Carnaval. Devia ser sua responsabilidade mas, uma vez mais, continuamos a ser nós, na Câmara, a ter que nomear o júri”, exemplifica.
O responsável pelo pelouro da Cultura diz que a Câmara tem estado a acompanhar os grupos de perto e pode constatar que alguns estão bem organizados enquanto outros “continuam na mesma lenga-lenga”.
“Vamos apoiar naquilo que é nossa competência. Esta semana ainda vamos disponibilizar parte da verba e depois vamos acompanhar o trabalho que cada um for realizando para ver a qualidade” antes de avançar com outras parcelas do apoio financeiro.
Sobre a queixa de alguns grupos quanto a uma promessa de 700 contos para apoio aos grupos no ano passado, que acabou por ser de apenas 600 e este ano decaiu para 500 contos, o autarca diz que os 700 mil escudos não eram uma garantia e sim “uma possibilidade” que não se concretizou porque muitas das agremiações não cumpriram com o acordo de apresentarem os justificativos das despesas feitas na organização dos respectivos desfiles.
“A liga não pode ser um grupo que só funciona um mês antes do carnaval. Tem que se organizar e assumir os preparativos, assumir o carnaval como algo a preparar ao longo do ano. Nós já recomendamos mudanças, proporcionamos formações - trouxemos o Dudu Nobre aqui na Praia e também levamos representantes de grupos para formação em São Vicente - fazemos visitas aos grupos, e pensamos que já é hora de uma maior conscientização das pessoas envolvidas no Carnaval. É hora de empenharem-se em fazer do Carnaval da Praia aquilo que os praienses esperam. Mas, claro, é preciso cumprir um regulamento, ter um estatuto”, acrescenta o vereador que afirma que a capital já recebe um grande fluxo de pessoas que vêm especialmente para assistir ao carnaval.
A edilidade praiense está de acordo que ter seis grupos oficiais é muito para o Carnaval da capital e tem, há algum tempo, a intenção de diminuir os competidores nesse escalão, diz a nossa fonte.
“É algo que esperávamos que a liga, organizada, viesse a deliberar. Mas se não conseguem organizar-se e funcionar devidamente durante o ano todo, fica complicado”, insiste António Lopes da Silva.
E conclui, garantindo que este ano a CMP vai “acompanhar de muito perto” e ver se os grupos cumprem rigorosamente as regras, só liberando mais tranches dos 500 contos de apoio financeiro conforme o que os grupos forem apresentando.
“E se continuarmos a ter grupos desorganizados e aquém da qualidade esperada, para o ano vamos ser muito mais rigorosos e não permitiremos a sua participação”.
Quando faltam menos de 45 dias para o Carnaval 2019 – que acontece a 5 de Março - José Fernandes admite que alguns grupos ainda não iniciaram os ensaios das coreografias, atribuindo as culpas do atraso ao invulgar e intenso frio que se faz sentir neste mês de Janeiro. Sobretudo à noite, período em que os foliões têm disponibilidade para essa tarefa.
“Falei com pessoal do Carnaval de Mindelo e parece que por lá também estão com esse problema. Estamos a ver se até 5 de Fevereiro arrancamos efectivamente com os ensaios”, diz o representante da liga de grupos.
Contudo, circulando por alguns bairros da capital o Expresso das Ilhas pode constatar, pelo soar das batucadas, que o frio não conseguiu desencorajar a todos e alguns grupos já estão mesmo a intensificar os preparativos.