As tardes de domingo costumam ser muito silenciosas no Plateau, só se ouvindo ao final da tarde a ladainha dos cânticos da missa das seis. A última semana foi excepção foi excepção, com o Palácio da Cultura Ildo Lobo ao rubro com os festejos do aniversário de Bitori Nha Bibinha, senhor do funaná e mestre do acordeão (gaita).
Muito funaná mas também tabanca e batuco marcaram a festa dos 81 anos desta lenda viva da música cabo-verdiana que há alguns anos viu relançada a sua carreira, agora sobretudo nos palcos da Europa.
Gil Moreira, Victor di Bitori (o filho do homenageado, acompanhado de sua banda), jovens da Tabanca da Várzea e Teresa Fernandes e o seu grupo de batuco, Tradison di Terra, foram dar os parabéns ao músico e fizeram uma grande festa dos ritmos tradicionais típicos de Santiago.
O público respondeu com grande entusiasmo e não faltou quem se tenha juntado aos dançarinos do espectáculo para um pé de dança. Alguns turistas também marcaram presença no recinto, curiosos com a música e as danças que presenciavam.
Antes da tarde musical houve tempo para um almoço especial em honra do aniversariante, que contou com a presença do Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, do vice-primeiro ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia, e do Ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente.
Bitori Nha Bibinha teve ainda direito a soprar as velas do bolo de aniversário. Foi o próprio, acompanhado da banda, a encerrar a festa em palco, com a sua gaita afinada e em grande forma a dar música e a fazer dançar os presentes.
Ao Expresso das Ilhas o artista revelou-se “muito feliz por ter aqui reunidos os meus familiares e amigos”.
“Tenho andado pelo mundo a tocar a minha música mas, estava muito frio lá e vim para cá, esperar passar o frio para depois voltar”, contou-nos.
Na breve conversa possível em meio de tantas solicitações,o músico revelou-nos ainda que, aos 81 anos, continua a trabalhar e a ter projectos para o futuro. Inclusive um novo disco onde diz que irá gravar não apenas funaná mas "também mornas e coladeiras".
“Este eu vou gravar para deixar. É para ficar”, explicou, referindo-se a uma espécie de legado, ele que só veio a gravar um disco em nome próprio – “Bitori Nha Bibinha & Chando Graciosa”, em parceria com Chando Graciosa –em 1998, já com 60 anos de idade. Este mesmo disco veio a ser reeditado há poucos anos pela editora europeia Analog Africa com o titulo “Bitori, Legend of Funaná”, que desde então tem promovido a carreira internacional do autor santiaguense.
Vitório Tavares nasceu em Milho Branco, São Domingos, e com 6 anos mudou-se para a cidade da Praia. Muito jovem, aprendeu sozinho a tocar funaná. Segundo contou em entrevista à investigadora Gláucia Nogueira, foi em São Tomé, para onde foi trabalhar nas roças, que se encantou com o acordeão (gaita) e decidiu juntar dinheiro para comprar um.
De regresso a Praia, poucos anos depois, convites para tocar gaita vão aparecendo. É já depois do êxito bandas como Bulimundo e Finason com o funaná “eletrónico”, com os Ferro Gaita a colocar a gaita e o ferrinho novamente na moda nos anos 90 – sendo que o músico tem aqui um papel importante, já que foi com ele que Eduíno aprendeu a tocar a gaita – que Bitori grava pela primeira vez, em parceria com o já referido Chando Graciosa. Em 2003 os Ferro Gaita gravariam no CD “Bandera Liberdade” as suas composições “Cabalo” e “Carrera Burro”.
A reedição de “Bitori nha Bibinha” pela Analog Africa catapultou a lenda do funaná para a ribalta e trouxe vários convites para actuar em palcos estrangeiros e nacionais. Em 2015 chamou muita atenção a sua actuação na Atlantic Music Expo. Também regressou ao palco do Festival da Gamboa e, em 2017, foi homenageado nos Cabo Verde Music Awards onde recebeu prémio de carreira pelas mãos do Presidente da República.