Com um cartaz preenchido por filmes inéditos em Cabo Verde, a curadoria de Rui Simões, da produtora portuguesa Real Ficções, escolheu para a abertura, esta sexta-feira, dois títulos ligados a Moçambique.
“Sou autor do meu nome. Mia Couto”, realizado pela luso-sueca Solveig Nordlund, passou no inicio deste mês nas Sessões Especiais do festival Indie Lisboa. Solveig Nordlund tem no currículo outros documentários sobre escritores, como António Lobo Antunes, Marguerite Duras ou J. G. Ballard. Desta vez acompanha com a sua câmara o dia-a-dia de Mia Couto ao mesmo tempo que o filme revisita a carreira literária do escritor moçambicano a partir de conversas sobre as suas memórias e afectos.
Também uma história passada em Moçambique "Pele de Luz", de André Guiomar, fez parte do cartaz do Doc. Lisboa 2018. Aborda os preconceitos e as superstições que cercam os albinos em Moçambique, a partir das experiências de duas irmãs de Maputo que vivem permanentemente com medo.
O Maio.Doc tem este ano como destaque a actual situação política e social do Brasil. Três filmes “de grande impacto e actualidade sobre o tema” podem ser vistos nos dias 27, 28 e 29: “Alma Clandestina” de José Borahona , “Excelentíssimos” de Douglas Duarte e “Operações de Garantia da Lei” de Júlia Murat, respectivamente.
Alma Cladestina , que estreia em Portugal hoje, é descrito como um “híbrido”, “um documentário que recorre ao arquivo, mas com uma ponta de ficção e registo teatral”. Com a ditadura militar brasileira como pano de fundo, o filme chamou atenção nos festivais por onde passou e recebeu boas críticas pela sua qualidade e também pela pertinência do resgate da memória, num tempo em que tenta-se rescrever a história .
Já “Excelentíssimos” faz o caminho oposto e abusa do realismo ao mostrar um registro ao pormenor dos momentos vividos no congresso brasileiro ao longo dos meses em que se processava o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Um pouco mais antigo é “Operações de Garantia da Lei” de Júlia Murat. O documentário de 2017, a obra retrata inúmeras manifestações ocorridas no Brasil entre Junho de 2013 e Julho de 2014, com recurso apenas a materiais de arquivo publicados nas TVs, internet, rádio, e outros.
Na quinta-feira, dia 30, a Polónia marca presença no Maio.Doc com “Mais um Dia de Vida”. Filme de Raul de La Fuente e Damien Nenow , é uma animação que adapta o livro homónimo do polaco Ryszard Kapuscinski. A fechar, dia 31, será a vez de “Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos de João Salaviza e Renée Nader Messora”, premiado pelo júri do Un Certain Regard , mostra paralela à selecção oficial do Festival de Cannes, no ano passado.
Maio Doc é organizado e produzido pelo Centro Cultural Português Polo do Mindelo.