Uma semana depois de conhecido o parecer favorável do comité técnico independente, Moacyr Rodrigues alerta que o país tem responsabilidades a cumprir.
“É [necessário] provar que a morna é dançada, cantada, que tem um centro, uma Casa da Morna ou, se quisermos, uma espécie de museu”, exemplifica.
“É preciso saber que a morna tem jogado um papel importante na integração dos cabo-verdianos em certas zonas na diáspora”, acrescenta.
A preocupação é partilhada pelos peritos que avaliaram a candidatura e que recomendaram ao governo a aposta na conservação e inventariação do estilo musical.
“Estamos a perder os valores. Os músicos estão a fazer música a correr. Estão a fazer musicas, como diz o cabo-verdiano, encostadas, quer dizer, plagiando certos aspectos da música estrangeira, por exemplo o samba, e não sabem fazer mornas. Não sabem fazer versos”, lamenta o autor do livro O papel da morna na construção da identidade nacional de Cabo Verde, lançado em 2017.
Para o etnomusicólogo, avançar com a candidatura à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi uma decisão “corajosa”, uma vez que existem “correntes contra”. Por isso, espera que o actual titular da pasta da Cultura e Indústrias Criativas, Abrãao Vicente, se mantenha em funções, para dar continuidade aos esforços de valorização.
“Eu não sou do partido que está no poder, mas [espero] que o ministro continue no poder, para poder levar a bom termo aquilo que tem a fazer (…) é um entusiasta e é um artista”, deseja.
O dossier da candidatura da Morna a Património Imaterial da UNESCO foi elaborado ao longo dos últimos anos e entregue em Paris, a 27 de Março de 2018. A decisão final deverá ser conhecida entre 09 e 14 de Dezembro, em Bogotá, na Colômbia.
O ministro da Cultura disse à agência portuguesa de notícias, Lusa, que acredita que a elevação é praticamente certa e que “só se acontecer algo muito estranho aos procedimentos da UNESCO” é que a morna não será classificada.