Hamilton Jair Fernandes falava em entrevista à Inforpress, por ocasião da celebração do Dia Nacional da Morna, que se assinala hoje, com diversas actividades por todo o país.
Faltando algumas semanas para que se conheça a decisão da Unesco sobre o processo de candidatura da morna a Património Cultural Imaterial da Humanidade, este responsável disse que o maior desafio é após a classificação, sublinhando que embora seja possível cumprir com os compromissos na íntegra, há a necessidade de implementar o plano de salvaguarda.
“O plano de salvaguarda tem o seu custo e é necessário alocar recursos para o efeito. É necessário mobilizar a sociedade civil em torno da implementação da convenção, particularmente do plano da salvaguarda. É preciso apostar na questão da formação, na investigação, na criação de centros de estudo ligados a temática, neste caso a morna”, vincou.
Uma questão “importante”, segundo o presidente do IPC, é a internacionalização da morna, isto é, ajuntou, cabe aos artistas que, de uma forma especial, têm este papel de protagonista na internacionalização deste género.
Afirmou ainda que é preciso trabalhar na questão do turismo cultural, ou seja, é preciso trabalhar na casa da mora, no museu da morna, envolver os hotéis, restaurantes e bares, que, a seu ver, acabam por ser promotores e beneficiários dessa inscrição da morna a património mundial.
Segundo Hamilton Jair Fernandes, o Ministério da Educação e as escolas também são “actores importantes” neste processo de salvaguarda, pois cabe a eles assumir o papel pedagógico de ensinar aos alunos a cultura cabo-verdiana no seu todo e, neste caso, em especial a morna, que poderá, entre os dias 09 e 14, ser proclamada Património da Humanidade, durante a reunião do Comité do Património Cultural Imaterial da Unesco, em Bogotá, Colômbia.
Com tudo isso, defendeu que o Estado de Cabo Verde não pode “baixar os braços”, porque a partir de agora há “mais trabalho e responsabilidade” na materialização do plano de salvaguarda.
Instando a fazer uma avaliação da cota da audiência das músicas cabo-verdianas, em especial a morna, nos meios de comunicação social no país, Jair Fernandes afirmou que nos últimos anos tem havido uma inversão das tendências, isto é, cada vez mais as músicas tradicionais estão ser passadas nas emissoras nacionais.
Entretanto, defendeu que é possível ter um espaço especial da morna e, quiçá, passar a representar pelo menos 60 a 70% do que são as músicas que passam diariamente nas rádios nacionais e nas televisões públicas e privadas.
“É preciso educar para a cultura e nada melhor que a comunicação social, tendo em conta o seu alcance, mas julgo que agora, com a inclusão da morna na lista do património da humanidade, creio que essa tendência vai fazer valer, ou seja, deparamos hoje em dia com mais pessoas que querem a morna e querem fazer morna, seja cantores, compositores, músicos, e há uma camada juvenil muito mais preparada para assumir e consumir a cultura cabo-verdiana, particularmente a música e a morna”, considerou.
O Dia Nacional da Morna foi instituído em 2018 e a escolha recai para o dia 03 de Dezembro, data em que nasceu Francisco Xavier da Cruz, mais conhecido por B. Léza, considerado um dos maiores compositores deste género musical.