Desenvolvido em Novembro de 2021, na ilha de São Vicente, este projecto tem como objectivo proporcionar aos participantes a liberdade de serem quem realmente são e sentirem o que têm dentro deles, e consequentemente, proporcionar um bem-estar físico e mental, através de sessões de dança e auto-descoberta.
Em entrevista ao Expresso das Ilhas, Whitney Inocêncio conta que este projecto surgiu num contexto informal, mas depois o mesmo chegou a diferentes pessoas em São Vicente, e posteriormente a instituições, tais como escolas, centro terapêutico ocupacional, cadeia e o Hospital Baptista de Sousa.
“Estava a dar aulas de dança em São Vicente e na época do Festival Mindelact de 2019 conheci umas amigas; sabendo que eu bailarina, mas que na altura estava parado, elas pediram-me para lhes dar aula de dança, mas estava numa fase de vida e não era aquilo que queria”, conta.
A bailarina disse que na altura estava à procura de algo que a fizesse feliz. “Estava em busca de algo que me poderia fazer feliz, daí fiz uma contraproposta para juntarmos um grupo de mulheres e usar a dança como forma de exprimir as nossas emoções. E a partir dali começamos a fazer encontros aos fins-de-semana e começamos a crescer”.
Mas foi através de uma amiga que Whitney descobriu que o que estava a fazer era dança terapêutica. “Uma amiga minha foi um dia ver uma das minhas aulas e disse-me que o que estava a fazer era dança terapêutica. Depois disso fui pesquisar e acabei por encontrar um curso intensivo de dança e movimento terapia, onde fui conhecer melhor esta modalidade e ganhar possíveis ferramentas que poderia usar no grupo com que estava a trabalhar”.
O projecto “Mundança”, conforme explicou, não é dança de palco com técnicas e coreografia, mas sim uma roda onde as pessoas vão falar de algo que estão sentindo ou a viver. “Com a dança e auto-descoberta faço sessões e encontros. Esta iniciativa está dividida em quatro sessões: o check in, onde nos sentamos em roda e partilhamos aquilo que estamos a sentir; depois vem a parte do aquecimento e de lá posso trazer o exercício de yoga do riso e do teatro. De seguida vem a dinâmica principal, onde escolhemos um tema que trabalhamos com ela e haverá dinâmicas diferentes só com aquele tema”.
Novos horizontes
Whitney Inocêncio está neste momento numa fase de descoberta, porque está com o projecto na Cidade da Praia com objectivo de crescer e abrir-se mais para o mundo.
“Aqui na ilha de Santiago, esse projecto vai permanecer algum tempo. Vai ser um estágio de vida, daqui quero que o projecto se expanda para poder levar esta iniciativa para fora do país”, revela a bailarina, para acrescentar que lá fora este tipo de trabalho é muito mais forte e aprofundado, “mas aqui ainda é uma novidade. Digamos que estou a ser pioneira com esta nova forma de dançar, então preciso abrir mais os horizontes e quem sabe de lá trazer mais bagagens para Cabo Verde”.
O projecto chegou à Praia no mês de Dezembro de 2022, através de uma parceria com a escola de dança Nicole. “Estou neste momento a tentar dar a conhecer o projecto e propô-lo a outras instituições, porque sei que é algo que fará a diferença na vida das pessoas”.
Na Praia, a bailarina quer implementar este projecto no Centro Educativo Miraflores e disse que gostaria de encontrar um parceiro para abraçar esta iniciativa para que possa dar o primeiro e depois levá-la a outros lugares”.
“O projecto é de extrema importância, principalmente porque vai ao encontro do conhecimento da própria pessoa, porque há pessoas com 50 anos de idade que ainda não sabem o que querem da vida. O foco principal deste projecto é trabalhar com adultos”.
Whitney quer também trabalhar com crianças e adolescentes, porque “infelizmente a pressão social tem vindo a começar muito cedo, ainda mais com as redes sociais, onde a dependência é cada vez maior”.
Whitney Inocêncio disse que com o projecto “Mudança” quer ainda levar essa iniciativa a mais instituições na ilha de Santiago, e “quando sentir que a ilha de Santiago já abraçou o projecto, pretende abrir novos horizontes e descobrir novas realidades.
“O meu objectivo é provocar mudança na vida das pessoas, fazer com que o projecto cresça cada vez mais e ganhar mais bagagens. A minha intenção é dar a conhecer este projecto e colaborar com as instituições que demonstrem abertura, para acolher este projecto, não só nas comunidades terapêuticas e de acolhimento, porque na verdade todas as pessoas estão a precisar desse autocuidado”, garante.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1103 de 18 de Janeiro de 2023.