Faz este mês 82 anos que Cesária Évora, nasceu no Mindelo, cidade que emprestou o nome ao festival de Jazz, cujo coração palpita a cerca de 500 metros da casa Cize.
E foi precisamente Sodade, música com a qual Cesária se notabilizou além-fronteiras, que se destacou na primeira noite do Mindel Summer Jazz, evento que este ano rende homenagem ao falecido artista plástico mindelense Alexandre Silva Barbosa Andrade (Alex Silva).
Não foi apenas em um, mas em dois momentos. O primeiro, protagonizado pelo guitarrista alemão Lulo Reinhardt Project junto com os instrumentistas cabo-verdianos Bau e Voginha e o segundo pelo baixista brasileiro Munir Hossn, em parceria com o Sexteto Temperado, dos Estados Unidos.
Lulo Reinhardt, que diz participar no Mindel Summer Jazz instigado pelo seu amigo e compatriota Markus Leukel, revelou que foi dele “a ideia de introduzir o tema Sodade, no repertório do show” e sentiu-se “surpreendido” com a recepção do público, mas também “contente e grato” por actuar “pela primeira vez com músicos cabo-verdianos”.
“Eu me senti confortável ao actuar com eles, são óptimos músicos. Tive apenas bons sentimentos e é por isso que quero voltar”, afirmou o guitarrista que também teve na sua banda suporte a participação de dois jovens artistas cabo-verdianos Kalin e Rony.
Foi um encontro de sonoridades que deixou Bau rendido. Homem de poucas palavas, o instrumentista revelou que o “entrosamento” com o guitarrista alemão e a “junção de linguagens” lhe trouxe uma “inspiração diferente”, principalmente pelo impacto que causou no público, porque conseguiu introduzir Sodade no repertório, que “não é usual” no seu show.
Além de Cabo Verde, Lulo Reinhardt, que é originário de uma família de músicos e sobrinho-neto da lenda do Jazz Django Reinhardt, foi beber nas múltiplas influências do mundo fazendo incursões às suas raízes ciganas, passando por Marrocos, pela Espanha e Brasil, entre outras para explorar e executar fusões de estilos.
Se para a cantora Bertânia Almeida, o espectáculo foi “audacioso pelas fusões que apresentou” e também por integrar na banda suporte, jovens artistas que têm feito um “belo trabalho na música” em São Vicente na visão do guitarrista Vamar Martins, conhecido por fazer uma síntese entre a música cabo-verdiana e o jazz, a actuação foi “excelenete” tanto pela junção de influências como pela forma como o Voginha reagiu no palco.
O segundo show foi do baixista brasileiro Munir Hossn, junto com o Sexteto Temperado, que apresentou uma viagem de Mindelo para o mundo, com partida e regresso, mas com escala em Salvador da Bahia (Brasil), na sua terra natal, passando pelo continente africano, pela Carolina do Norte (Estados Unidos da América), pela Bélgica, Cuba e Guadalupe.
O jazzista, que em 2008 fez parte da turnê da artista cabo-verdiana Mayra Andrade, actuando como produtor de alguns dos discos da cantora, revelou que saiu do show com uma impressão, uma lembrança muito bonita de muitos olhares, muitos sorrisos e muita energia.
“É muito fácil para mim tocar para vocês, porque eu tenho um avô de Angola que conheceu uma indígena do Amazonas e outro avô libanês que conheceu uma italiana. Ou seja, tenho uma salada na família impressionante e eu venho desta escola da música que é o Salvador da Bahia que é o estado mais negro fora da Africa” destacou, notando que tem mais costumes, hábitos e semelhanças com os africanos do que com os europeus, pelo que, “foi fácil escolher o repertório sentindo a energia” de Mindelo.
Logo mais à noite, o Mindel Summer Jazz reserva actuações de Vamar Martins Project, de Cabo Verde, com Karamo, do Senegal, Pret e Bronk, de Cabo Verde, com Jessica Bongos e o guitarrista Bakare Opeyemi, da Nigéria.
Está prevista ainda a actuação do maestro cubano Ivan Melon, que venceu o Grammy de música latina do ano passado.