Jorge Humberto de regresso à Praia para um concerto musical

PorAntónio Monteiro,3 out 2025 9:21

É já este sábado no restaurante Ipanema o aguardado concerto do cantor e compositor Jorge Humberto. Nesta conversa, o músico revisita a sua já longa carreira musical iniciada pouco depois da independência e coloca em expetactiva o seu próximo projecto musical que, nas suas palavras, vai depender de vários aspectos, já que nos dias que correm a gravação de um disco requer investimentos financeiros cujo retorno nem sempre cobre as despesas. “Se encontrar mais tarde algum parceiro, isso poderá mexer comigo e fazer-me avançar para o próximo disco”, revelou.

Já esteve em vários concertos na Praia, mas ainda é pouco conhecido do grande público. Porquê?

Acho que não tenho tido a sorte de ter um grande produtor para vender a música do Jorge Humberto e aquilo que eu faço. Agora recebi o convite do restaurante Ipanema para estar aqui e gostei imenso da iniciativa.

Das primeiras vezes que veio à Praia foi para participar no concurso Todo o Mundo Canta. Na altura um jornal escreveu que procurava fazer das suas canções mais do que um simples divertimento. Como analisa este comentário?

Eu próprio não vou dizer isso, porque seria um exagero da minha parte. Mas, entretanto, pode-se dizer que a minha música é uma forma de unir o útil ao agradável. Tem um aspecto social e é uma forma também de fazer Cabo Verde crescer à minha maneira.

O que trouxe de diferente na sua mensagem na música cabo-verdiana?

Eu não sei responder-lhe isso exectamente. É só o público é que vai dizer onde está a diferença. Mas uma coisa é certa: quando comecei a compor, os temas das minhas composições, porque comecei a compor pouco depois da independência, estavam ligados a essa tal ideia de fazer Cabo Verde crescer a nível cultural, social e terá marcado em mim a diferença. Porque eu não cantei muito os temas habituais como, por exemplo, a saudade, aquele que foi para terra longe e nunca mais voltou. Portanto, eu tentei fugir um pouco disso. Porque sentir-me-ia muito limitado se tivesse que percorrer o mesmo caminho, pois eu era na altura dos compositores mais jovens e então também já estava abrangido nessa onda da independência, daquela vontade de crescimento e essa coisa toda. Se calhar, por causa disso, a diferença, a meu ver, e comparativamente àquilo que os compositores têm feito, tem muito a ver com esses aspectos: mas compete ao público achar essa diferença.

No espectáculo deste sábado o que vai propor à plateia?

Eu vou propor as composições que eu próprio canto em qualquer concerto em que tomo parte. Eu sou um cantautor. Eu prefiro cantar aquilo que eu componho. Deverá saber que até este momento já gravei oito álbuns, na maior parte são canções minhas. O que penso levar para o concerto de sábado é um leque das minhas composições: morna, coladeira, portanto música tradicional.

Que público espera no seu concerto?

Eu gostaria de encontrar as pessoas que conheço mais de perto. Há muita gente aqui na Praia que são amigos meusde longa data, mas que não tenho tido oportunidade de encontrar nos meus concertos aqui na ilha de Santiago. Mas sei que tenho cá amigos e desconhecidos que gostam da minha música. Então, é esse público que eu gostaria de encontrar aí no Ipanema, ao qual, através deste jornal, convido para estarem presentes. De maneira que as pessoas que gostam da minha música e aqueles que gostam da minha música, mas que não estiveram ainda por perto para ouvir as minhas canções, é este público que eu gostaria de encontrar.

Um deles será o Hermano Lopes da Silva que através de várias publicações tem divulgado a sua obra musical.

O grande Hermano. É um indivíduo que eu aprecio muito e que toca um violão de grande classe e além disso é um grande poeta, um bom pintor e um grande escritor. Também gostaria de me encontrar com ele aí no Ipanema.

Num artigo de 2010, publicado neste jornal ele escreve: "É lamentável que, depois do tempo decorrido, haja cabo-verdianos, incluindo amantes da arte, que desconhecem a existência e obra deste Músico”. Volvidos 15 anos, as coisas estão agora melhor?

As coisas são assim. Para mim, a situação continua na mesma. Cabo Verde não é assim tão grande. Porém, hoje, com as redes socias e outras publicações as coisas melhoram um pouco. Mas para se conhecer a fundo um compositor, um escritor isso leva o seu tempo. Eu continuo sendo Jorge Humberto, mesmo que as pessoas apreciem ou ignorem a minha música.

Já gravou oito CDs. Qual deles considera o mais conseguido?

Olhe, eu gostei muito de Ar d'nha terra [Harmonia, SV, 2009]. Gostei muito muito daquele CD, mas gosto também desses outros nos quais fui eu próprio produtor. Mas eu gosto particularmente de Ar d'nha terra porque depositei muito de mim próprio neste CD, em termos de sentimento e de verdade interior. Coloquei muito de mim lá dentro desse disco apesar de não ter sido divulgado na medida que me permitisse resolver alguns problemas de ordem material. Não foi o caso, mas quis fazer justamente um disco para um bom auditório cabo-verdiano. Também gostei de Portexperimental [ Sonovox, Lisboa, 1998] e também, porque não, dos dois últimos discos que me custaram muito porque produzi-os eu próprio, ou seja, eu fiz de tudo um pouco dentro daqueles discos.

Qual é o seu próximo projecto musical?

O meu próximo projecto, como sempre, vai depender do aspecto financeiro, pois investir actualmente na música não é fácil. Pode-se investir muito dinheiro para gravar, mas depois o retorno não cobre as despesas. Hoje em dia os CDs vendem pouco: é preciso que haja expectáculos, concertos; é aí que artista, o compositor vai recuperar aquilo que investiu. De maneira que não sei dizer exactamente quando será o meu próximo trabalho discográfico, porque depende de vários factores. Se encontrar mais tarde algum parceiro, isso poderá mexer comigo e fazer-me avançar para o próximo disco.   

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:António Monteiro,3 out 2025 9:21

Editado porAndre Amaral  em  4 out 2025 7:17

pub.
pub
pub.
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.