Tanto as competições milionárias, como as mais modestas, diria-se que em igualdade de circunstâncias, tiveram que parar perante o perigo do avanço do “bichinho”. É claro que não foi bem uma igualdade, já que grande parte dos torneios milionários foram simplesmente suspensos, enquanto que os outros, os mais modestos, decidiam-se pelo cancelamento e anulação do que já estava feito.
O certo é que, com mais ou menos polémica, durante o mês de Março, assistimos á paragem da actividade desportiva mundial.
O xadrez, embora com alguma relutância, também foi atingido por esta onda paralisadora. E digo com relutância, pois mesmo com os perigos já eminentes, a FIDE (Federação Internacional de Xadrez), teve a coragem e a ousadia de em 16 de Março iniciar o Torneio de Candidatos de 2020, envolto na polémica da recusa de Teimour Radjabov em jogar o torneio, exactamente por causa do COVID. É claro que depois de jogadas algumas rondas, a FIDE teve de dar o “braço a torcer” e acabou suspender a continuidade da competição.
Muitos acharam que isto seria “sol de pouca dura” e que o “bicharoco” desaparecia rapidamente. Bastaria uma “quarentenazita” e já estava enganado o coronavírus. Erro total, como a realidade o veio a provar para quase todas as modalidades desportivas.
O xadrez, agarrando-se ao online, ainda foi conseguindo manter competições em movimento, algumas delas bem atractivas devido aos seus prémios chorudos.
Mas ficar sem desporto, e acima de tudo sem forma de cumprir os contratos das competições milionárias, é que também não parecia ser a solução para a situação criada pela pandemia. Assim, enquanto os mais modestos iam cancelando e anulando as suas competições, os mais ricos e os mais atrevidos iam criando condições para regressarem à actividade. Com uma nova roupagem se fosse necessário, mas o que era preciso era dar algum cumprimento aos contratos assinados antes do aparecimento do coronavírus.
É assim que, algumas modalidades foram ensaiando o seu regresso à actividade: sem público, com cuidados redobrados de higienização, mantendo distâncias, usando máscaras, etc., etc, etc.
Com maior ou menor aplauso, aos poucos, lá fomos assistindo ao regresso de algumas actividades, inclusivamente, no futebol, uma compactada Champions League de bancadas despovoadas, mas milionária ainda.
Sem fugir à regra, em algumas partes do mundo, o xadrez foi anunciando o seu regresso ás actividades presenciais. Aqui o curioso é a utilização da palavra presenciais, pois o xadrez, durante todo este tempo de pandemia não deixou de estar em actividade, só que na sua forma on-line, pelo que se justitica plenamente a sua empregabilidade.
Obedecendo ás rigorosas regras emanadas pelas autoridades de saúde, lá foram surgindo algumas competições presenciais. A FIDE até já projecta a continuação do Torneio de Candidatos, interrompido exactamente a meio da competição. É claro que com um fundo de prémios de 500.000 euros, o maior de sempre para um torneio de Candidatos, não é de se deitar fora.
O certo é que não são conhecidos casos de COVID-19, originados nas competições presenciais de xadrez já realizadas.
Em Portugal, no passado dia 22 iniciou-se o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, naquele que é, penso eu, em terras lusas, o torneio de regresso à competição presencial. Os ecos que me chegam é que esta competição está a seguir as regras de segurança sanitárias e que estas em nada impedem o normal desenrolar das partidas. Pelo que me consta, os participantes estão agradados com as condições apresentadas e asseguram não haver motivos para preocupações acrescidas relativamente à proliferação do vírus.
É claro que as condições de segurança sanitária diferem de país para país, mas estou crente que Cabo Verde também já começa a reunir condições para que brevemente nos possamos olhar olhos nos olhos tendo entre nós, um tabuleiro de xadrez.
Por acreditar nisso, a Federação Cabo-verdiana de Xadrez (FCX), já agendou, para 15 a 18 de Outubro, a realização da prova rainha do xadrez Nacional: o Campeonato Nacional Individual Absoluto. Esta 4.ª edição do CNIA, que provavelmente, poderá ser, a única competição desportiva de nível nacional, a realizar-se no ano de 2020 em Cabo Verde, está prevista acontecer na cidade do Mindelo.
Brevemente esperamos divulgar boas notícias do xadrez nacional bem como, toda a regulamentação do CNIA 2020.
Até lá vamos continuando competindo online.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 978 de 26 de Agosto de 2020.