A festa final foi realmente bonita, mas para se chegar lá, teve que haver um princípio e um meio, tal qual numa partida de xadrez em que passamos pela abertura, meio-jogo e final.
Com isto quero dizer que para se chegar a este fim houve muito “caminho” percorrido, muitos obstáculos contornados e algum suor escorrido.
Para haver esta festa, foi necessário, acima de tudo, competência: na concepção da prova, na apresentação da competição, na captação de aderentes, na organização e acompanhamento das diversas provas regionais, na escolha das parcerias, no cuidado da divulgação mediática, na gestão financeira, etc.
Muitos dos que participaram na festa nem se aperceberam do quão difícil foi organizar e realizar esta Taça de Cabo Verde.
E, para a existência das dificuldades, muito contribuiu o facto de estarmos a atravessar por uma grave pandemia, sendo grande parte da competição jogada em tempos de “Estado de calamidade”.
A situação dos transportes inter-ilhas foi uma dor de cabeça a acrescentar complexidade a toda a operação da Fase Nacional da novel competição.
Falhas? Também as houve! Numa realização desta natureza, acontecem sempre falhas, que vamos colmatando, conforme podemos, tentando não repeti-las em ocasiões futuras, onde outras falhas certamente surgirão.
Mas, no final, em clima de festa, a satisfação do dever cumprido era mais uma vez o sentimento que me dominava, enquanto percorria o filme destes 5 meses em que a Taça de Cabo Verde ocupou grande parte do meu tempo (desde a sua concepção até ao regresso a casa de todos os intervenientes).
Nesse filme, passou o momento em que, durante as inscrições, fui pressionando os líderes das Associações Regionais para se associarem a este retomar das competições presenciais nas suas regiões; passou o momento da surpresa de quem tinha projectado 40/50 inscrições e acabou recebendo 93; passou o momento da maratona que foi a planificação e realização do sorteio da Fase Regional; passou o momento das decisões relativamente à realização e organização da Fase Nacional e muitas outras cenas de agradável memória, como o convívio que foi proporcionado aos intervenientes e convidados durante a fase Nacional, em Santo Antão.
Assim como Roma e Pavia não se fizeram num dia, também para levarmos a efeito eventos desta natureza é conveniente não estar só e, contar com a colaboração de terceiros.
O enorme sucesso desta competição não seria possível sem o trabalho e colaboração das associações regionais e sem a prestimosa parceria do Município da Ribeira Grande de Santo Antão, que esteve com a Taça de Cabo Verde desde o início, primeiro através do vereador do Desporto, Paulo Rodrigues e depois, também, através do próprio presidente, Eng. Orlando Delgado.
As condições oferecidas pela autarquia santoantonense foram de excelente qualidade, elevando a fasquia das competições xadrezisticas nacionais, para patamares que não nos envergonhariam em lado nenhum do mundo, bem pelo contrário, há muitas competições do jogo dos reis, por esse mundo fora, que não conseguem chegar aos calcanhares do que assistimos, em Santo Antão, de 29 de Maio a 1 de Junho.
Uma palavra de apreço para todo o Staff que nos acompanhou, permitindo que fossem cumpridos os procedimentos sanitários de forma a mitigar o risco de contágio da COVID-19, bem como prevenir qualquer tentativa de utilização de meios ilícitos que defraudassem a verdade desportiva, pois é bom lembrar que a competição final foi transmitida, via internet, para todo o mundo, sendo assim possível que, qualquer telemóvel com um engine, analisasse as partidas em disputa.
A comunicação social foi também um excelente aliado desta primeira Taça de Cabo Verde, fazendo a cobertura mediática da competição, desde a sua apresentação até ao levantar da Taça.
Taça que foi erguida por Éder Pereira, jogador que representa a ODERF (Sal), um brilhante vencedor, que garantiu a sua conquista após a vitória na 3.ª partida (em 4), evidenciando superioridade sobre o seu adversário final, Luís Fernandes, representante do Mindelense (S. Vicente), o centenário clube nacional.
Na luta pelo 3.º lugar, Ivandro Rosa, representando a Casa do Benfica da capital, também só necessitou de 3 partidas para garantir o último lugar do pódio, relegando assim, para 4.º lugar, Diogo Neves, também ele, jogador do Mindelense.
É de referir que o jogador mais novo da competição (17 anos), Lian Fonseca, do Grupo Sportivo da Escola Baltazar Lopes da Silva (S. Nicolau), foi o único que bateu o vencedor Éder Pereira, na 2.ª partida da 1.ª eliminatória, a quem aplicou um belo mate, obrigando à partida de desempate onde, naturalmente, o jovem Lian, claudicou.
Além das partidas da Taça, durante os 4 dias de xadrez na Ribeira Grande, também houve lugar para um Torneio de Partidas Rápidas (5 minutos KO), vencido por Ivandro Rosa, uma simultânea com crianças conduzida por Célia Rodriguez Guevara e uma simultânea aberta a todos, conduzida pelo Mestre Internacional e Director Técnico da FCX, Mariano Ortega.
Aproveitando a estadia do Mestre Ortega, e de Célia Rodriguez, presentes por iniciativa da FCX, os jogadores da taça, e alguns jogadores de Santo Antão, tiveram oportunidade de jogar algumas partidas (essencialmente rápidas) com o Mestre.
Agora, terminada a Taça, esperamos que não murchem a festa e, se isso acontecer, os jogadores de Santo Antão, regressados à competição nesta prova, devem aproveitar a semente que, certamente, a Taça deixou em algum canto do jardim.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1019 de 9 de Junho de 2021.