Desde sua estreia nos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, Cabo Verde buscava estabelecer-se como uma nação competitiva no cenário internacional. Apesar das limitações de infraestrutura e recursos, o país demonstrou um progresso notável em modalidades como boxe, atletismo e judo. Em Paris 2024, a delegação foi um reflexo dessa evolução, contando com atletas qualificados por quotas continentais e universalidade, além de outros que alcançaram índices de qualificação.
O grande destaque da delegação foi o boxeador David Pina, que competiu na categoria peso mosca (51 kg). Ele fez história ao conquistar a primeira medalha olímpica de Cabo Verde, um bronze. Durante sua campanha, Pina derrotou adversários de peso, incluindo o zambiano Patrick Chinyemba, campeão africano, desafiando todas as probabilidades. Seu desempenho foi marcado pela disciplina e determinação, sendo celebrado como um momento de orgulho nacional. Pina declarou emocionado: “Fiz isso pelo meu país, merecemos isso. Somos pequenos, mas somos fortes”.
Outro representante no boxe foi Nancy Moreira, que competiu na categoria 66 kg. Embora não tenha alcançado o pódio, sua participação destacou o crescente potencial do boxe feminino em Cabo Verde.
No atletismo, Samuel Freire competiu na maratona. Apesar de enfrentar condições desafiadoras, ele completou a prova com uma performance honrosa, representando com dedicação as cores do país em uma das provas mais icónicas dos Jogos.
Na natação, Cabo Verde contou com dois atletas: Jayla Pina, que competiu nos 200 metros medley feminino, marcando sua segunda participação olímpica após estrear em Tóquio 2020.
José Tati, nos 50 metros livres masculino, destacou-se como o atleta mais jovem da delegação e simbolizou o futuro promissor do desporto no arquipélago.
Ambos participaram por meio de vagas de universalidade, uma iniciativa que promove a inclusão de países em desenvolvimento nos Jogos.
Djamila Correia e Silva representou Cabo Verde no judo, competindo na categoria até 52 kg. Qualificada por quota continental, sua participação evidenciou o crescente interesse pela modalidade no país.
Pela primeira vez na história, Cabo Verde teve um representante na esgrima. Victor Alvares competiu na modalidade de florete, um marco importante para a diversidade esportiva da delegação.
Medalha de Bronze
A medalha de bronze conquistada por David Pina foi um marco histórico não apenas para Cabo Verde, mas também para a comunidade lusófona africana. Até então, apenas Moçambique havia conquistado medalhas olímpicas, com Maria Mutola no atletismo (bronze em Atlanta 1996 e ouro em Sydney 2000). O feito de Pina colocou Cabo Verde no mapa do desporto internacional e inspirou uma nova geração de atletas no país.
A participação em Paris 2024 gerou uma onda de entusiasmo em Cabo Verde. O apoio da população e da diáspora cabo-verdiana foi evidente, com celebrações espontâneas após a conquista da medalha. Além disso, a história de David Pina, que superou dificuldades para se tornar um medalhista olímpico, tornou-se um exemplo de perseverança para os jovens atletas do arquipélago.
O governo e as instituições esportivas de Cabo Verde também prometeram aumentar os investimentos no desporto, visando preparar uma geração ainda mais competitiva para os próximos Jogos Olímpicos, em Los Angeles 2028.
Mais medalhas na ginástica
Mas as medalhas não se ficaram pelos Jogos Olímpicos de Paris.
Carolina Matos, do Clube Desportivo Acroart, ficou no terceiro lugar da sua categoria na competição que decorreu no Egipto em Setembro deste ano.
A competir no escalão Age Group, Carolina Matos, de apenas 11 anos, ficou classificada no terceiro lugar.
No escalão Júnior, Stephanie Almeida da Cruz, conquistou a 4ª posição.
“Carolina Matos é BRONZE no 18 Campeonato Africano de Ginástica Aeróbica Cairo 2024 Parabéns campeã! Parabéns às ginastas Stephenie Cruz que consegui um 4 lugar na final e à ginasta Catarina Duarte”, reagiu o clube no Facebook.
Futebol sem sonhos
Depois da participação positiva, no início do ano, na edição da CAN, a selecção nacional de futebol falhou o apuramento para a competição agendada para 2025.
Se na competição em que participou na Costa do Marfim os Tubarões Azuis conseguiram realizar uma primeira fase em que não sofreram qualquer derrota e em que foram eliminados, apenas nos quartos-de-final pela África do Sul, desta feita para a CAN do próximo ano Cabo Verde ficou aquém do desejado.
Num grupo onde, teoricamente, apenas o Egipto se mostrava inacessível, os comandados de Bubista não foram além do terceiro lugar ficando assim fora da competição que se vai realizar, desta vez, em Marrocos.
Resta agora tentar o apuramento para o Campeonato do Mundo que se vai realizar nos EUA, Canadá e México em 2026.
Para já, Cabo Verde está, depois de realizados quatro jogos, na terceira posição do Grupo D com sete pontos, apenas menos um do que a equipa dos Camarões que lidera o grupo.
Ao todo 10 equipas africanas vão participar no Campeonato do Mundo de Futebol. Nove têm apuramento directo sendo que uma pode ser classificada via torneio de repescagem.
Destaque ainda para o Campeonato Nacional de Futebol conquistado pelo Boavista da Praia.
Foi a quinta vez que o Boavista se sagrou campeão de Cabo Verde em futebol sénior masculino, após um jejum de 14 anos, ao triunfar por 2-1 ante o Derby de São Vicente, na final disputada no Estádio Nacional, na cidade da Praia.
Já o Clube Sportivo Mindelense, de São Vicente, conquistou a Taça de Cabo Verde (época 2023-2024) ao vencer o Palmeira por 2-1, no jogo da final disputado no estádio Marcelo Leitão, na cidade de Espargos.
Mas nem só de alegrias se fez o futebol nacional em 2024.
Em Fevereiro deste ano faleceu, na Cidade da Praia, José Maria Lobo, mais conhecido por Djédji, fundador da Escola de Preparação Integral de Futebol (EPIF), responsável pela formação, nas últimas décadas, dos melhores futebolistas cabo-verdianos.
Durante mais de 30 anos, Djédji, que faleceu no Hospital Universitária da Praia, trabalhou com a formação de jovens, com o objectivo de promover a prática do desporto, a capacitação e a reinserção de crianças e de jovens em situação difícil.
Mais medalhas
Em Outbro, a selecção cabo-verdiana de natação conquistou 19 medalhas, das quais nove de ouro, seis de prata e quatro de bronze, no Campeonato Africano de Nação da Zona II, encerrada esta quarta-feira, 09, em Accra (Gana).
Segundo avançou à Inforpress o secretário da Federação Cabo-verdiana de Natação, Enrique Alhinho, a atleta Wilina Moraes conquistou nove medalhas, das quais sete de ouro, uma de prata e outra de bronze, ao passo que Will-Insha Morais conquistou três de prata, uma de bronze e uma de bronze em estafeta.
Nisian Lima e Rafaela Almeida, ainda de acordo com este dirigente federativo, conquistaram uma de bronze, cada.
Tiago Cardoso, Matteo de Carvalho, Mateus Almeida e Pedro Batalha, ainda segundo a fonte, ganharam uma medalha de bronze na prova de estafeta.
Na categoria Master, José Ibañez arrecadou duas medalhas de ouro, uma de prata e uma de bronze.
A delegação cabo-verdiana foi composta por 13 integrantes, sendo 11 atletas e um treinador.
Andebol
A terminar o ano, destaque para a participação da selecção nacional feminina de andebol na CAN ficando em 10º lugar na classificação geral, numa competição que foi ganha pela selecção de Angola pela 16ª vez.
O ano de 2024 foi bastante movimentado para o xadrez crioulo
Sendo ano de Olimpíada, a maior competição mundial de xadrez, logo se adivinhava que 2024 nos traria algumas surpresas, o que efectivamente aconteceu.
Depois de ultrapassadas as dificuldades na obtenção de vistos e outras barreiras que foram colocadas á representação nacional, pela terceira vez consecutiva a bandeira de Cabo Verde, de 11 a 22 de Setembro, foi hasteada em mais uma Olimpíada de xadrez, desta vez em Budapeste (Hungria). A equipa Open, reforçada com a inclusão do Mestre FIDE Diogo Alho, esteve um pouco aquém das espectativas, mas mesmo assim conseguiu a obtenção de um título de Candidato a Mestre. A equipa feminina, muito jovem e que por causa dos vistos jogou desfalcada, sem uma das suas melhores jogadores, sendo impedida de jogar a primeira ronda, superou-se e além dos excelentes 9 pontos conquistados ( 4 vitórias, 1 empate e 5 derrotas), saiu de Budapeste com 3 títulos de Candidata a Mestre Feminina. Como as regras dos títulos foram alteradas relativamente á Olimpíada anterior, a FCX reclamou os títulos condicionais aí obtidos e que passaram a ser definitivos. Assim, em 2024, Cabo Verde passou a ter mais 6 titulados da FIDE (2 Candidatos a Mestre e 4 Candidatas a Mestre Feminina).
Ainda a nível Internacional, falhado o apuramento para os Jogos Africanos, destaca-se a participação do MI Mariano Ortega no Campeonato Continental Africano. Infelizmente, devido a falha na ligação aérea, o nosso Campeão Nacional não pode defender o título de Campeão Africano da Zona 4.2.
A nível interno, além dos diversos campeonatos regionais há a destacar a realização das 2 grandes competições nacionais: o Campeonato Nacional Feminino, que Célia Rodriguez voltou a vencer e o Campeonato Nacional Individual Absoluto que nos trouxe um novo Campeão Nacional: José Carlos Vaz.
Mas 2024 também foi fértil para a nossa arbitragem, principalmente para o nosso Árbitro Internacional Francisco Carapinha que iniciou o ano a Chefiar a Arbitragem do Torneio Online de qualificação para os Jogos Africanos. Em Março, Carapinha foi o único cabo-verdiano a marcar presença nos Jogos Africanos realizados no Gana, sendo o Árbitro Chefe Adjunto de todas as competições de Xadrez dos jogos.
Em Maio, o nosso AI, tomou conhecimento que a FIDE o tinha promovido á Categoria C, passando a ser o árbitro mais categorizado dos PALOP. E foi já com esta categoria que Carapinha foi nomeado para arbitrar a competição feminina da Olimpíada, tendo arbitrado, entre outras, as selecções da Argentina (11.ª classificada), Grécia (17.ª), Hungria B (29.ª), Brasil (62.ª), Portugal (88.ª) e Moçambique (100.ª).
Em finais de Outubro, inicio de Novembro, em Florianópolis (Brasil), a FIDE confiou ao nosso AI a arbitragem do Sector Open 16, nos campeonatos mundiais de Jovens, competição em que foi o único árbitro africano.
Carapinha terminou o ano a arbitrar o Torneio Internacional da Figueira da Foz (Portugal) em Novembro e a final do Campeonato Nacional em Dezembro.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1205 de 31 de Dezembro de 2024.