"A expansão da procura agregada, dadas as restrições da capacidade produtiva, resultou num crescimento significativo das importações e, consequentemente, no agravamento das balanças comercial e corrente", adianta o Banco de Cabo Verde (BCV).
Para satisfazer a procura, as importações de bens, sobretudo de capital, produtos alimentares transformados e combustíveis aumentaram 18,7 por cento (10,1 por cento em 2016).
"O défice da balança corrente quase triplicou, passando de 2,7 para 7,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) sobretudo devido à deterioração do défice comercial de bens e serviços na ordem dos 31 por cento (15 por cento em 2016), determinada pelo aumento das importações de bens e serviços", reforça o BCV.
O alargamento das necessidades de financiamento da economia, que segundo o BCV não foi compensado pelo crescimento das entradas de financiamento, levou a um "comportamento desfavorável" das contas externas, determinando "uma redução das reservas internacionais líquidas do país, na ordem dos 13 milhões de euros, pela primeira vez desde 2011".
Apesar da redução, o BCV assegura que as "reservas do país permaneceram em níveis considerados adequados", permitindo, a 31 de Dezembro garantir 5,9 meses das importações e mais de três vezes as responsabilidades de curto prazo do país.
Em 2016, as reservas internacionais líquidas do país permitiam cobrir 7,1 meses de importações, mais de seis vezes as responsabilidades de curto prazo do país.
Em 2016, o "stock" das reservas internacionais líquidas cresceu 19 por cento para o valor histórico de 59,7 mil milhões de escudos.
Globalmente, e segundo o BCV, a economia cabo-verdiana reforçou, em 2017, "o dinamismo evidenciado em 2016", tendo registado um crescimento de 3,9 por cento (3,8 por cento em 2016).
De acordo com o BCV, o crescimento "foi favorecido pelo fortalecimento do ciclo de recuperação das economias parceiras, bem como por impulsos orçamentais e monetários".
A execução de investimentos públicos, o efeito multiplicador do aumento das despesas com pessoal e o reforço de medidas de "afrouxamento" da política monetária, com redução das taxas de juro de referência em Junho, foram, segundo o BCV, determinantes para o comportamento da economia.
Do lado da procura, o crescimento contou com os "contributos positivos" do consumo privado e dos investimentos privado e público e, do lado da oferta, com o "incremento dos valores da indústria transformadora, da administração pública, da electricidade e água, do alojamento e restauração e do comércio".
O BCV assinalou uma conjuntura de aumento de empregos nos sectores da construção, da administração pública, do alojamento e restauração e da indústria transformadora, de crescimento contido da inflação (0,8 por cento em termos médios anuais) e de aumento do crédito ao sector privado (6,8 por cento, ritmo mais acelerado desde 2011).
"A performance da economia em 2017 sugere que esta estará reforçando o seu ciclo de retoma. Não obstante, o fortalecimento da capacidade produtiva e de resiliência a choques exógenos interpela as autoridades de política ao desenho adequado e implementação eficiente de um quadro de reformas estruturais", defende o BCV.
Reformas que, segundo o banco central, devem visar "a consolidação orçamental, a expansão do potencial de crescimento da economia, o reforço da solidez e desenvolvimento do sistema financeiro, bem como adequação de competências académicas e profissionais para a maximização da empregabilidade e produtividade total".
As necessidades de financiamento do Estado determinaram o aumento da dívida pública em 1,8 por cento para 215,1 mil milhões de escudos, situando-se em 125,3 por cento do PIB.
As finanças públicas registaram um comportamento menos desfavorável em 2017, tendo o défice orçamental reduzido de 3,5 para 3,1 por cento do PIB.
As receitas públicas aumentaram 14 por cento em resultado sobretudo do crescimento das receitas de impostos e dos donativos, enquanto as despesas cresceram 11,7 por cento.