Depois de oito anos à frente dos destinos da Câmara de Comércio de Barlavento (CCB), Belarmino Lucas sai de cena dentro de poucas semanas. Em hora de balanço, o jurista afirma que deixa uma organização que ocupa “um papel central” no desenvolvimento do sector privado nacional.
A 4 de Setembro, a agremiação empresarial deverá reunir os associados em assembleia geral electiva, virando a página aos dois mandatos da equipa liderada por Belarmino Lucas.
“Somos uma instituição credível e que, efectivamente, tem uma capacidade grande de fazer a advocacia dos interesses dos empresários do sector privado”, estabelece.
Em plena crise económica, motivada pela pandemia de covid-19, o ainda presidente fala de uma conjuntura difícil, sem perspectivas de melhorias no que resta deste ano, nem em 2021.
“Muitas coisas, como por exemplo a questão do desemprego, vão reflectir-se muito mais em 2021, a partir do momento em que a prorrogação do lay-off simplificado chegue ao fim. Vai ser um ano ainda bastante complicado, ou até o mais complicado para os operadores económicos. Isso significa que tudo o resto que já tornava difícil a vida dos empresários, tendencialmente, ficará ainda mais complicado”, antecipa.
O “tudo o resto” a que se refere o líder associativo inclui os obstáculos no financiamento às empresas e que, apesar dos “passos significativos” que foram dados, “ainda permanecem”.
Lucas pede reformas que eliminem burocracias e disfunções do aparelho do Estado. Mas pede também uma aposta na melhoria da gestão empresarial. Igualmente, a formalização de muitos negócios que continuam a operar à margem de todos os enquadramentos fiscais.
Antes de chegar a presidente, o advogado trazia consigo um historial de vários anos ligado ao movimento associativo e à Câmara, em particular. Liderar a CCB foi “uma honra”.
“Gostaria de ter já em funcionamento a plataforma logística, cuja construção vamos iniciar no Parque Industrial do Lazareto, para impulsionar actividades empresariais e industriais na região. Gostaria que estivéssemos numa situação em que as empresas nascessem e fizessem toda a sua vida dentro da Câmara de Comércio. Que todas as empresas da região fossem sócias. E gostaria, sobretudo, que muito mais daquilo que foram as recomendações, as reivindicações junto dos poderes públicos tivessem tido resposta positiva”, resume, ao avaliar o que ficou por fazer.
A actual direcção da CCB termina o mandato depois de ter conseguido completar a rede de representações da agremiação em todas as ilhas da região. Foi alargado o leque de prestação de serviços, através da transferência de competências ao nível do licenciamento e emissão de certificados e reforçada a oferta formativa.
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Sucessão já mexe
A menos de um mês da data provável para a assembleia geral da CCB, começaram as movimentações para a sucessão de Belarmino Lucas. Para já, há dois candidatos à liderança: Rafael Vasconcelos e Jorge Maurício.
Gestor da Vasconcelos Lopes e CV Capital, Rafael Vasconcelos foi o primeiro a apresentar-se. Avalia a actual conjuntura como “complicada”. Garante que não quer repetir a fórmula de “pedir medidas ao governo”.
“O trabalho profundo da nossa economia tem que ser feito pela partilha, não só, das redes de contacto mas também de todo o know how. Nós estamos cientes que esta lista é uma lista coesa”, sustenta.
Rafael Vasconcelos aposta na cooperação, “por um tecido empresarial dinâmico”, com foco no desenvolvimento económico da região norte. O objectivo passa pelo aumento das empresas associadas, orientando a organização para o apoio ao empreendedorismo, com envolvimento de outros parceiros, nomeadamente as universidades.
“Precisamos, obviamente, de criar tudo o que são ferramentas disponíveis. Criar uma ponte entre a Câmara de Comércio e o empresariado, assessorando as empresas nos processos de gestão”, confirma.
“A única forma de [as empresas] poderem estar no mercado é pela via da sinergia, da cooperação, porque o próprio mercado já é um bocado pequeno. Vamos ter que recorrer ao associativismo, ao mutualismo, que sabemos que não tem funcionado em pleno no nosso país”, acrescenta.
O provável adversário de Vasconcelos é o ex-presidente do conselho de administração da ENAPOR, Jorge Maurício.
O Expresso das Ilhas não conseguiu ouvir o gestor até ao fecho desta edição, mas em declarações na semana passada à Inforpress, Maurício prometeu para os “próximos dias” mais informações sobre a candidatura, com divulgação do manifesto eleitoral e lista completa. Uma “lista forte”, promete.
As eleições para a Câmara de Comércio de Barlavento deverão acontecer na assembleia geral electiva, prevista para 4 de Setembro.
*com Fretson Rocha