"O Estado pode melhorar as condições que ajudam a facilitar e incrementar a relação entre os emigrantes e suas famílias, pode criar condições que permitam aumentar a apetência dos emigrantes para colocar parte das suas poupanças em Cabo Verde, quer através de formas de depósito bancário, quer de facilidades de acesso na aquisição de títulos do Estado e de participação no mercado de capitais cabo-verdiano, e pode incentivar a opção pela realização de investimentos no país", respondeu o economista do Instituto Superior de Economia e Gestão de Lisboa.
Em entrevista à Lusa a propósito do Dia Internacional das Remessas Familiares, que se assinalou na semana passada, o economista cabo-verdiano apontou que "como o envio de remessas é um resultado de decisões individuais e o seu valor global é um somatório de fluxos também decididos individualmente, a ação do Estado tem de ser direcionada para criar o máximo de estímulos às tomadas de decisão individuais dos emigrantes".
As remessas, argumentou, continuam a ser importantes para a economia deste arquipélago africano lusófono, já que são "uma importante fonte de rendimentos das famílias e uma importante fonte de divisas externas e, por isso, um contribuinte fundamental para a gestão das reservas do país".
A ajuda pública ao desenvolvimento e as remessas foram muito importantes nos primeiros anos da independência do país, mas a partir dos primeiros anos da década de 2000 "o funcionamento da economia, em grande parte como consequência do crescimento das exportações de serviços (basicamente turismo) e do declínio da ajuda pública que recebe".
Isto fez com que a a economia se tenha começado a "apoiar mais em fluxos de mercado (exportações e investimento direto estrangeiro), contudo, a importância das remessas de emigrantes não caiu, porque delas depende grande parte das famílias cabo-verdianas", apontou João Estêvão.
As remessas dos emigrantes cabo-verdianos passaram de 128,9 milhões de euros em 2011 para 156,5 em 2015 e 180,5 milhões em 2019, representando, em média, cerca de 10,8% do PIB.
"O que é interessante verificar é que as remessas cresceram em plena pandemia, tendo subido para 188,5 milhões de euros em 2020, ou seja, um aumento de 4,5% em relação ao valor de 2019, o que faz com que pareça aceitável pensar que este aumento se deve à crise que se vive no arquipélago, o que fez aumentar a solidariedade dos emigrantes em relação aos seus familiares nas ilhas", concluiu o economista.