Falta de chuva e pragas ensombram mais um ano agrícola

PorNuno Andrade Ferreira,24 jul 2021 8:34

Agricultores e criadores de gado não perdem a esperança, mas o cenário não é animador.

A época das chuvas está à porta e a incerteza volta a dominar. Como todos os anos, esta é aquela altura em que agricultores e criadores de gado fitam diariamente o céu, à espera que dele chegue a garantia de um ano sem sobressaltos de maior. Mas é pouco provável que assim seja.

As previsões meteorológicas citadas pelo Ministério da Agricultura e Ambiente sinalizam dois cenários prováveis. O primeiro, com chuvas deficitárias e próximas da média anual. O segundo, com chuvas dentro da média.

Apesar disso, e sem grande alternativa, os trabalhos de preparação das áreas de cultivo já começaram. É isso que explica o presidente da Federação dos Agricultores e Pecuários de Santa Cruz, Cesário Varela.

“Os agricultores começaram a fazer a preparação do campo. Estou a falar da cultura de sequeiro. As pessoas saem de casa, vão para o campo, fazem as podas, a queima e começam a preparar o campo. Tenho ouvido que certos agricultores já fizeram a primeira sementeira”, comenta.

Apesar das perspectivas pouco animadoras, a expectativa é que o ano agrícola possa correr melhor do que em anos recentes.

“Perspectivamos que este ano poderá ser melhor e auguramos que assim seja. A falta de água tem contribuído para a redução da produção agrícola e isto tem consequências, sobretudo, do ponto de vista da segurança alimentar”, assinala.

Pragas

As pragas e, muito em particular, a lagarta-do-cartucho do milho, são um problema adicional e outra dor de cabeça para as gentes do campo. Cesário Varela pede mais empenho no seu combate.

“Quanto menos chove, mais pragas temos. Sobretudo com o problema das alterações climáticas, deparamo-nos com muito calor no campo e têm surgido várias pragas, não só a nível do milho, mas também da bananeira, da papeira. Penso que deve haver um maior empenho, mais dos agricultores do que das próprias autoridades, atempadamente, para mobilizar os meios necessários para atacar essas pragas”, refere.

Também no Fogo, em especial nas zonas altas, o solo foi preparado para mais uma campanha. Manuel Gomes, da Associação dos Agricultores e Criadores de São Filipe e Santa Catarina, espera um ano melhor, mas lamenta a falta de combate à lagarta-do-cartucho.

“No ano passado, poderíamos ter colhido uma boa quantidade de milho, mas a lagarta-do-cartucho deu cabo de tudo. Não se faz nenhum combate, nem nada. Diz-se que foi introduzido um organismo de combate biológico, mas ainda não há esperança de que o efeito seja o desejado, para que as pragas não danifiquem a agricultura”, observa.

Mais a Norte, em Santo Antão, os agricultores começaram os preparativos para as culturas de sequeiro. O presidente da Associação dos Agricultores e Produtores Agro-Industriais, António Carente Pires, deixa o alerta: se o cenário for igual ao ano passado, com produção apenas de pasto, a situação das famílias vai agravar-se.

“Os agricultores estão sempre esperançosos. Já estão a preparar a terra para cultivo, esperando que o ano seja regular”, avança.

“No ano passado, choveu alguma coisa, mas só tivemos produção de pastagem, porque, por causa da praga da lagarta-do-cartucho do milho, não foi possível produção de milho. Também há uma praga que dá cabo do feijão ervilha. A situação é difícil”, recorda.

Ao mesmo tempo que alerta para a redução do caudal das nascentes, António Carente Pires lamenta a falta de estudos que permitam um combate eficaz às pragas.

“Esperávamos que houvesse algum estudo científico sobre a forma de combater as pragas, mas infelizmente, até este momento, não há. Nem sequer as próprias universidades de Cabo Verde têm demonstrado interesse em investigar a origem e a melhor forma de combater essas pragas. Há um certo desânimo dos agricultores e produtores nesse sentido”, desabafa.

A preocupação com a lagarta-do-cartucho é geral a todas as ilhas de tradição agrícola. Carlos Andrade, agricultor e criador de gado em Ribeira Brava, São Nicolau, está apreensivo com a destruição de culturas, como aconteceu há um ano.

“Nós estamos a fazer a sementeira, mas há zonas em que a situação dos agricultores é mesmo preocupante. Há zonas que foram afectadas e onde de certeza ficaram ovos. É uma praga devastadora, principalmente para a cultura do milho. Se não for atacada no início das primeiras folhas, vai ser complicado”.

Perante as previsões traçadas e depois de, no ano passado, a chuva que caiu não ter sido suficiente para recuperar de três anos de seca, o Governo anunciou na semana passado o reforço da resiliência das comunidades rurais e a adaptação do sector face às mudanças climáticas.

A disponibilização de sementes, a mobilização de água, a realização de campanhas de prevenção e combate às pragas, mas também a pesquisa científica, são alguns dos objectivos já anunciados pela tutela.

*com Fretson Rocha

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1025 de 21 de Julho de 2021.

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Autoria:Nuno Andrade Ferreira,24 jul 2021 8:34

Editado pormaria Fortes  em  8 mai 2022 23:20

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