A data celebra o profissional que tem responsabilidades de gerir, organizar e monitorar o tráfego de aeronaves no espaço aéreo, evitando que estas choquem com outras aeronaves ou para dar suporte aos pilotos, caso haja algum problema no voo.
Além disso, também é de responsabilidade do controlador de tráfego aéreo emitir as autorizações de descolagem e aterragem das aeronaves pelos pilotos.
Cabo Verde passou – ainda passa – por um momento de quebra do tráfego aéreo no espaço controlado por si.
Segundo o último boletim de tráfego aéreo publicado pela ASA, empresa pública que gere os aeroportos e controla o espaço aéreo nacional, e que foi publicado em Junho, registou-se “no 1º semestre de 2021, um total de 5.152 movimentos de aeronaves, um decréscimo significativo de 43% (- 3.933 movimentos) em relação a 2020. (- 52% a nível internacional e - 31% a nível doméstico)”.
O decréscimo, aponta o documento, “foi generalizado para aeronaves, passageiros, cargas e correios, quando comparado com o mesmo período do ano anterior, pois nos primeiros três meses de 2020 ainda se registaram movimentos normais para a época, antes da suspensão dos voos comerciais, partir de finais de Março e que durou até meados de Julho”.
“A pandemia de COVID-19 veio afectar negativamente o tráfego quer a nível nacional como internacional e a retoma vem se fazendo de forma muito lenta”.
Durante o primeiro semestre deste ano, “movimentaram-se nos aeroportos de Cabo Verde apenas 213.838 passageiros” o que significava, na altura, “um decréscimo de 67%, comparativamente aos 640.876 transportados no período homólogo de 2020. No período anterior, o primeiro semestre foi muito influenciado pelos primeiros três meses de 2020 que decorreram na normalidade (época alta), sendo que este ano não houve a afluência habitual de turistas devido às restrições impostas para combater a pandemia de COVID-19”.
Durante este primeiro trimestre, a nível internacional, a TAP foi a principal operadora, transportando um total de 64.527 passageiros de e para Cabo Verde, aponta a ASA.
Na rota Lisboa-Praia, a TAP, “transportou cerca de 44 mil passageiros (a única rota que cresceu, + 27%, face a 2020). Na rota Lisboa-São Vicente transportou 15 mil passageiros (-22%) e para o Sal apenas 6 mil passageiros (-75% face a 2020)”.
Já a nível doméstico, os voos agora realizados “pela nova operadora Bestfly (a partir de 17 de Maio) para todas as sete ilhas, tem sido também com menor frequência que os realizados no ano transacto. No total, registaram-se no primeiro semestre de 2021, cerca de 101 mil passageiros domésticos, aquém do período homólogo de 2020, em que se transportaram 165 mil passageiros entre as ilhas, um decréscimo de - 39%. Aguarda-se uma retoma gradual das frequências, o que dependerá da estratégia da nova operadora, da evolução do panorama sanitário de COVID-19 em Cabo Verde e também da procura de voos inter-ilhas”.
O aeroporto internacional da Praia, “bastião do tráfego doméstico”, registou nos primeiros seis meses deste ano “uma diminuição de 22% (- 14.456 passageiros), quando comparado com o mesmo período do ano anterior”. Já o no aeroporto do Sal registou-se “por sua vez -64% nos movimentos domésticos e o AICE -46% face a 2020”.
Paulatinamente, no entanto, o cenário tem-se estado a alterar.
Segundo dados divulgados pela Agência de Aviação Civil (AAC), entidade reguladora do sector da aviação civil em Cabo Verde, em Setembro, registou-se um aumento de 7,3% do número de aeronaves nos aeroportos e aeródromos nacionais. Os dados daquela agência apontam para um crescimento do número de aeronaves movimentadas tanto a nível doméstico como internacional.
No entanto, há ainda uma diminuição do número de passageiros. Em Setembro, ainda segundo os dados disponibilizados pela AAC entre Agosto e Setembro houve uma quebra do número de passageiros na ordem dos 13,9% contabilizando os passageiros transportados em voos domésticos e internacionais.
Controladores e a pandemia
Segundo Paulo Cabral, representante da associação de controladores de tráfego aéreo, as restrições de voo que se verificaram em Cabo Verde e a nível internacional significaram “uma diminuição da carga de trabalho, porque nós continuamos sempre a trabalhar. Não parámos. A carga de trabalho diminuiu consideravelmente, os turnos foram readaptados a fim de prevenir a propagação da COVID-19, mas os controladores mantiveram-se a prestar o serviço de tráfego aéreo. Apenas a carga de trabalho diminuiu”.
Ao contrário do que aconteceu com muitos dos outros sectores de actividade em que os trabalhadores entraram em lay-off ou perderam os seus empregos, os controladores de tráfego aéreo não foram afectados. “Não chegou a haver dispensas de trabalhadores deste serviço. Só houve uma alteração: o serviço foi dividido em duas equipas para que essas equipas se mantivessem ‘limpas’. Durante 15 dias trabalhava uma equipa e, se houvesse algum caso de COVID, essa equipa seria rapidamente substituída pela outra. Estivemos sempre em stand-by, às vezes o stand-by durava 15 dias outras vezes não, durava menos por causa de casos de COVID”.
Recuperação ligeira
O cenário está a começar a se alterar. Já se nota um aumento do tráfego e algumas companhias aéreas internacionais já anunciaram que a retoma das operações para Cabo Verde.
“Desde o início do ano que se notava um pequeno aumento que tem vindo a crescer. Agora já estamos com um tráfego que mostra a retoma. Já temos charters que vêm para o Sal e Boa Vista com turistas, no espaço aéreo já temos uma certa frequência, já não pára, há sempre algum tráfego a passar na nossa rota. Já se vê um ligeiro aumento”, aponta Paulo Cabral em conversa com o Expresso das Ilhas.
Como refere “o tráfego aéreo nunca chegou a parar”. Mesmo com as restrições que estavam em vigor Paulo Cabral explica que “houve sempre voos a cruzarem as rotas que passam sobre Cabo Verde”.
Segundo este representante dos controladores de tráfego aéreo os voos que passavam sobre Cabo Verde eram essencialmente “voos humanitários para o Brasil, para África, também alguns que levavam equipamentos, máscaras. Também tivemos alguns privados, muito poucos”.
A pandemia obrigou a uma redução dos turnos, em termos de elementos “para que pudéssemos fazer essas duas equipas. Isto foi uma recomendação da ICAO e com essa recomendação a AAC fez essa exigência à ASA que disse que nos devíamos dividir em equipas para que pudéssemos garantir o serviço continuo de controlo do tráfego aéreo. Sempre estivemos cá”, conta.
O controlo de tráfego aéreo foi garantido desde o primeiro momento da declaração da pandemia. “Entretanto já voltamos ao normal, mesmo por causa do ligeiro aumento de tráfego. Uma pessoa ou duas já não era suficiente por causa desse aumento de tráfego e por causa do cansaço. Por causa dos riscos é sempre necessário ter duas pessoas ou três”.
Neste período de pandemia houve, reconhece Paulo Cabral, um aumento da procura de Cabo Verde por parte de donos de aviões privados. “Notou-se por várias vezes a escala de aviões privados que acabam por parar aqui e abastecem e acabavam por ficar durante a noite. Houve sempre uma procura de escala mesmo por causa da segurança que o espaço aéreo de Cabo Verde oferece e também pela disponibilidade do aeroporto”.
Melhorias à vista
Quanto ao futuro próximo “definitivamente a procura deverá aumentar”, aponta Paulo Cabral, especialmente o tráfego de rota. “A ASA nessa parte tem essa parte comercial, a venda do serviço de segurança, nós já tivemos muitos feedbacks de pilotos relativamente à prestação dos controladores em termos de segurança. Então, fazendo uso desses feedbacks a ASA tem esse papel comercial de procurar atrair mais aviões de rota. Relativamente aos aviões que procuram Cabo Verde «a procura também é claramente maior. Já há um aumento de um para cinco aeronaves semanais em termos de charters, isso já é um aumento grande. Já estamos a sentir algum tráfego terminal na Boa Vista e no Sal, juntamente com tráfego local de Santiago. Por isso estamos optimistas de que o tráfego que tínhamos em 2018 em muito pouco tempo será retomado. Esperamos também que com a nova dinâmica possamos atrair ainda mais clientes” para o espaço aéreo controlado por Cabo Verde. No entanto, os controladores agora precisam “de algum treino, porque estivemos sem tráfego e isso vai requerer algum treino extra para os controladores de tráfego aéreo a fim de conseguirem dar vazão à demanda que acreditamos que vai haver” num futuro próximo.
As especificidades da profissão fazem com que esta seja considerada como uma das actividades onde o desgaste é mais rápido.
Paulo Cabral confirma que esta é uma profissão de desgaste rápido “por causa do nível de stress que tem”. “Quando o controlador, por algum motivo, está envolvido num incidente, aquela sensação do que podia ter acontecido faz com que o controlador tenha a necessidade de descansar, pensar, reflectir e, por vezes, essa recuperação leva algum tempo a efectivar-se”. A maior parte das aeronaves atravessa o Atlântico durante a noite “então nesse período o trafego aumenta consideravelmente nesse período, logo a atenção é redobrada nessa altura e isso faz com que os controladores tenham a probabilidade de não ter todos os dias a qualidade de sono que precisam e isso afecta consideravelmente a vida do profissional”.
Em Cabo Verde existem actualmente 46 controladores de tráfego aéreo, “a maioria na ilha do Sal, por causa do centro de controlo. No entanto, se queremos ter uma retoma continua e segura deve-se pensar já de agora no recrutamento de mais controladores. Penso que já há um plano para o próximo ano, conforme for a retoma. Com a assinatura do contrato colectivo, os controlares saem da posição aos 57 anos e depois continuam até à idade reforma mas já não exercem a função operacional de controlo de tráfego aéreo”.
*com agências
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1038 de 20 de Outubro de 2021.