“Em 2019, aquando da realização da primeira edição, Cabo Verde vinha conhecendo um crescimento económico robusto, baixa inflação, tendência para a consolidação orçamental, redução do desemprego e da pobreza”, lembrou Ulisses Correia e Silva, no seu discurso de abertura da quarta edição do Cabo Verde Investment Forum que decorre entre hoje e amanhã no Sal.
Entretanto, frisou, esta edição do Fórum de Investimento é realizada ainda num ambiente marcado pela pandemia da COVID 19 e “sofrendo os brutais impactos económicos e sociais da guerra na Ucrânia. Cabo Verde é dos 15 países do mundo mais impactados na economia pela pandemia. A guerra na Ucrânia, apesar de acontecer a mais de 6 mil km de Cabo Verde, produz impactos brutais a nível dos preços da energia e dos produtos alimentares, num país fortemente dependente de importações”.
Para Ulisses Correia e Silva, apesar das crises, “há uma variável que se mantém forte: a confiança no país”.
“Cabo Verde oferece estabilidade política e social, baixos riscos reputacionais, baixa corrupção e instituições credíveis. Cabo Verde é uma democracia liberal, de referência em África e bem posicionada no mundo. Cabo Verde é uma nação com uma vasta diáspora, aberta ao mundo e um país com uma economia liberalizada. São bem-vindos aqueles que querem visitar Cabo Verde, investir em Cabo Verde e residir em Cabo Verde”.
“Sairemos destas crises e emergências com um sentido estratégico claro de tornar o país mais resiliente, menos vulnerável a choques externos e com uma economia mais diversificada”, acrescentou o primeiro-ministro durante o seu discurso.
Falando do sector turístico, o primeiro-ministro lembrou que, “associado à cultura e às indústrias criativas, continuará a ser o sector mais dinâmico da economia. Queremos oferecer ao turismo uma envolvente de maior qualidade e com a marca e diversidade de Cabo Verde”.
Quanto à concessão da gestão dos aeroportos, defendeu, “vai impulsionar o hub aéreo do Sal e modernizar os aeroportos com impactos positivos no turismo. A atracção de companhias aéreas low-cost abre alternativas de ofertas para tornar o destino Cabo Verde mais competitivo”.
Também a economia azul “é de grande potencial”, reconheceu o primeiro-ministro enquanto lembrava que Cabo Verde “é 99% mar, dez ilhas num enorme oceano. Criamos a ZEEM_SV como um instrumento vantajoso de atracção de investimentos privados no desenvolvimento portuário, reparação naval, bunkering, energias limpas, pescas, aquacultura e turismo marítimo”.
A economia digital é outros dos sectores que o governo vê como motor da economia nacional. De uma contribuição actual de 6% do PIB, pretende-se que aumente para “25% do PIB até 2030”, anunciou.
“O objetivo do Governo é posicionar Cabo Verde como um hub digital com capacidade de atrair investidores, exportar serviços, atrair nómadas digitais, criar oportunidades de empreendedorismo e de emprego qualificado para os jovens e aumentar significativamente a contribuição da economia digital no PIB”, elencou ainda.
Combater a burocracia
Jorge Spencer Lima, Presidente da Câmara de Turismo, lembrou durante a cerimónia de abertura que “Cabo Verde precisa de decisores que queiram fazer” e criticou o que diz ser a excessiva burocracia existente no sector empresarial cabo-verdiano. “Não podemos continuar nesta troca constante de papéis. Um dia é preciso um papel, no dia seguinte é preciso outro”.
"Após praticamente dois anos de inactividade" por causa da pandemia de COVID-19 "temos presentes vários sectores muito importantes para o desenvolvimento da economia nacional".
Para Spencer Lima durante a pandemia "verificamos um grande retrocesso. Em 2020 tivemos um crescimento negativo de 14%, em 2021 7% e temos uma previsão de 4% para 2022. Analisando estes números vemos que ainda estamos longe dos valores de 2019. Há um grande trabalho a fazer para que essa retoma da economia esteja no seu verdadeiro caminho".
O presidente da Câmara de Comércio, que é também Presidente do Conselho Superior das Câmaras do Comércio e do Turismo de Cabo Verde, defendeu que a retoma da economia deve ter por base "a consolidação das empresas do sector privado existente, porque não podemos pensar no amanhã se não consolidarmos o hoje para projectarmos o futuro".
As medidas anunciadas pelo governo, tendo em vista a retoma da economia, "são bem vindas e de aplaudir", defendeu Spencer Lima.
"Há uma necessidade de eliminar burocracias no caminho, fazer com que as coisas funcionem e que essas medidas do governo, na prática, possam corresponder a essa verdadeira retoma, ao apoio à economia, ao sector privado e às empresas", concluiu.