A InovaBusiness/CVBuy, de Santiago, e a AZ Inovações, de São Vicente, são as duas startups escolhidas para ir ao Rio. “Quisemos escolher startups já com alguma maturidade, numa perspectiva de parceria”, explica ao Expresso das Ilhas o secretário de estado da Economia Digital. “No Web Summit Lisboa, o que fazemos normalmente é darmos exposição, ou seja, vão startups que estão numa fase muito inicial porque queremos expô-las ao mundo. Ao Rio de Janeiro vamos com startups com maior maturidade”, reforça Pedro Lopes.
Com o objetivo de promover a inovação e o desenvolvimento tecnológico, a Web Summit reúne anualmente empreendedores, startups, investidores e líderes de empresas de tecnologia de todo o planeta. Este ano, o evento acontece em duas edições, a primeira no Brasil, no Rio de Janeiro, de 1 a 4 de Maio, em Novembro regressa a Lisboa.
Através do programa “GoGlobal”, operacionalizado pela Cabo Verde Digital, Cabo Verde terá um primeiro contacto com o mercado da América Latina. “Primeiro que tudo”, diz Pedro Lopes, “posiciona Cabo Verde como um país africano que está na liderança da inovação. Não vão existir muitos países africanos presentes. Temos a sorte de o nosso Primeiro-Ministro ser o único líder político africano a ser convidado como orador, e isso é importante para a visibilidade do país exactamente como um país referência no continente na área da inovação”.
“Temos feito um trabalho intenso para posicionar o país. É preciso que as pessoas quando pensam em Cabo Verde não pensem só em praia e mar, mas pensem também na inovação, no talento dos nossos jovens. Queremos ser uma referência e um hub da sub-região, queremos também trabalhar a imagem e é por isso que nos queremos posicionar neste Web Summit”, sublinha o secretário de estado da Economia Digital.
“Fizemos um esforço muito grande, o Estado de Cabo Verde vai financiar a ida destas duas startups, que fazem parte do programa GoGlobal, que é exactamente o programa de internacionalização das nossas startups. Não é só a internacionalização do ponto de vista de mercado – normalmente as pessoas pensam em mercado e o mercado brasileiro é enorme e imensamente competitivo – mas mais do que isso, vamos apresentar-nos como uma porta de entrada no continente africano. Sabemos que muitas empresas brasileiras começam a ter o mercado africano debaixo de olho e queremos ser parceiros”, refere o governante.
“Para além disso”, continua Pedro Lopes, “sabemos que muitos programadores cabo-verdianos já começam a ser contratados por empresas brasileiras, que começam a encontrar aqui um nicho: jovens, talentosos, que falam a mesma língua e que têm um fuso horário não muito diferente do Brasil e isto é uma oportunidade para os nossos jovens – que não precisam de sair das nossas ilhas – poderem receber salários acima da média e trabalhar com empresas do mundo inteiro. Vamos apresentar esta ideia de que temos talento, temos jovens disponíveis, temos a capacidade de estabelecer parcerias, não só para criar mercado para as empresas brasileiras no continente africano, mas também temos esta possibilidade de alojar empresas brasileiras no nosso parque tecnológico”.
O GoGlobal procura promover o ecossistema de inovação cabo-verdiano a nível internacional, apoiando empresas nacionais no processo de expansão dos negócios para além das fronteiras do país. Com um envolvimento de vários players a nível nacional, o programa já financiou mais de 70 empreendedores e cerca de 50 Startups.
Web Summit Rio de Janeiro
Mais de 2.300 startups e mais de 1.200 investidores são esperados na cidade maravilhosa, isto numa altura em que o Brasil já soma 21 unicórnios [empresas que atingem uma valorização de mil milhões de dólares sem ter presença na bolsa]. O valor arrecadado pelas startups brasileiras, dados de 2021, ultrapassou os 9 mil milhões de dólares e no primeiro trimestre do ano de 2022 o sector brasileiro das TIC apresentou um crescimento de 300% quando comparado com o ano anterior.
Os 17 mil bilhetes colocados à venda para o evento esgotaram há duas semanas, segundo a organização – que já abriu a pré-venda dos ingressos para o próximo ano – e a estimativa é que pelas próximas edições, ao longo de 6 anos, o evento injecte cerca de 1,2 mil milhões de reais na economia do Rio de Janeiro [quase 216 milhões de euros]. Entre os principais oradores vão estar Andrew McAfee (MIT); Naomi Gleit (Meta); Catherine Powell (Airbnb); Brad Garlinghouse (Ripple); Nik Storonsky (Revolut); Roger Laughlin (Kavak); ou Meredith Whittaker (Signal).
Alguns dos chefes (e ex-chefes) de estado já deram também palestras ou participaram nos fóruns de discussão no Web Summit. Em 2017, por exemplo, o norte-americano Al Gore e François Hollande, ex-presidente da França, marcaram presença em Lisboa. Noutras edições, o Web Summit recebeu outros nomes, como Tony Blair, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, António Guterres, secretário-geral da ONU, ou Mogens Lykketoft, presidente da assembleia geral das Nações Unidas.
Economia digital em Cabo Verde
O Primeiro-Ministro Ulisses Correia e Silva, que pela primeira vez será orador na conferência, irá apresentar o tema “Transformação digital de uma nação”, no dia 3 de Maio.
“Vamos ter a sorte de ter o senhor Primeiro-ministro como orador”, afirma Pedro Lopes. “Vai ser importante. Queremos garantir encontros do Primeiro-Ministro com empresas importantes no mercado mundial e estão previstas pelo menos duas reuniões com CEOs de grandes empresas tecnológicas. Nós vamos até lá dizer exactamente isto, somos uma porta de entrada no continente e um hub de talento na sub-região. No ano passado, as startups africanas levantaram cerca de cinco mil milhões de euros em capital. E acreditamos que o potencial do mercado não está só nas startups, mas na transformação digital das empresas e também naquilo que é a digitalização de toda a governação pública”.
Ainda no final do mês de Março, o chefe do governo considerou a economia e a transformação digital como prioridades, porque são aceleradores do crescimento económico e do desenvolvimento sustentável. Na abertura da Leadership Summit Cabo Verde, que decorreu na Praia, o Primeiro-Ministro garantiu que “queremos melhorar a eficiência e a qualidade dos serviços públicos em todas as áreas, desde a educação, saúde, energia, transportes, segurança, justiça, serviços consulares, cidades inteligentes” e “promover a reconversão digital do sistema educativo, melhorar a transparência pública e a própria democracia, melhorar o ambiente de negócios e tornar Cabo Verde numa sociedade digital através de políticas de info-inclusão, de coesão territorial e da internet como um bem essencial”.
A intenção do executivo é posicionar Cabo Verde como um Hub Digital em África com capacidade de atrair investidores, atrair nómadas digitais, exportar bens e serviços, criar oportunidades de empreendedorismo e de emprego qualificado para os jovens e potenciar a centralidade da diáspora.
No mesmo evento, Ulisses Correia e Silva enumerou as iniciativas já tomadas na área das TIC, questões que deverão ser abordadas novamente no Rio de Janeiro, como os weblab, o ensino de computação e robótica, a NOSiAkademia, a Bolsa Cabo Verde Digital, os Programas Code for All, Re!nventa, GoGLobal ou o Programa Start jovem.
O processo de transformação digital do país enfrenta desafios assumidos na Agenda Estratégica de Desenvolvimento Sustentável de Cabo Verde 2030, como o desafio da cibersegurança, o desafio da infraestruturação tecnológica, o desafio da eficiência e autonomia energética, o desafio da capacitação, investigação e inovação tecnológica, o desafio do sector privado – a transformação digital das empresas, e o desafio do mercado digital.
Já o ciclo do PEDS II [Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável] deverá ser marcado por realizações como: grandes infraestruturas – cabos submarinos e Tech Park, Zona Económica Especial para Tecnologias – a internet como bem-essencial e a internacionalização e promoção das TIC Made-in-CV.
O objectivo, no horizonte 2030, é fazer de Cabo Verde, através da transformação da Economia Digital, uma economia transformada e digitalizada, um hub regional das telecomunicações, um centro regional da inovação, do empreendedorismo e da excelência e um mercado regional de referência da economia digital.
Cabo Verde no Web Summit 2023
Esta será uma participação menos complexa, comparando com as edições da Web Summit em Lisboa, onde o país esteve representado por 10 startups. A abordagem, diz a Cabo Verde Digital, permitirá ao país recolher elementos para projectar as próximas participações no mercado sul-americano, “tomando sempre o princípio de que o empreendedorismo digital pode ser uma ferramenta poderosa para o desenvolvimento económico e social de comunidades e regiões”, lê-se no comunicado.
Para tirar o maior proveito da posição geográfica do arquipélago, a Cabo Verde Digital, enquanto programa de promoção do Empreendedorismo Digital no país, irá assinar, através do Instituto de Apoio e Promoção Empresarial, Pro-Empresa, memorandos de entendimento com parceiros, com a ambição de fortalecer o ecossistema de empreendedorismo de base tecnológica.
“As nossas startups estão a ser apoiadas, através da Cabo Verde Digital, para que tenham o máximo proveito da nossa estadia lá”, explica o secretário de estado da economia digital, “e depois vamos assinar um memorando de entendimento entre a Pró-Empresa e o Vale do Dendê” [organização que tem como objetivo fomentar ecossistemas de empreendedorismo e impacto social, de Salvador da Bahia].
“Esta experiência só é possível pela relação que Cabo Verde tem com a marca Web Summit. É um trabalho que está a ser desenvolvido há muito tempo. O senhor primeiro-ministro participou no primeiro Web Summit em Lisboa, há alguns anos, depois começamos a participar de forma tímida, com três startups, chegámos às dez no ano passado, depois tivemos o nosso próprio stand. Trouxemos o Paddy Cosgrave a Cabo Verde. Isto é uma maratona, não são 100 metros”, diz Pedro Lopes.
“Acho que foi uma aposta que correu bem. Temos de ser honestos, é difícil para Cabo Verde atrair grandes marcas. Somos um país pequeno, temos objectivos grandes, somos ousados no que fazemos e quando começámos a participar neste tipo de eventos talvez houvesse alguma desconfiança – é um custo grande – mas é um custo que está relacionado com investimento que depois tem o seu retorno”, sublinha o governante.
“Ainda não chegámos onde queríamos chegar, vamos continuar nesta caminhada de posicionar o país. Porque além de nos posicionamos nos mercados globais, tenho visto é a forma como nos conectamos com a nossa diáspora, jovens da terceira geração, que começam a olhar para o país dos seus pais e avós de forma completamente diferente. Vimos em Lisboa, a quantidade de jovens cabo-verdianos que trabalham em startups na Holanda, em França, no Luxemburgo, a virem ter connosco. É importante mostrar à nossa diáspora que os queremos acolher e que estamos a preparar as infraestruturas para os recebermos”, conclui o secretário de estado da economia digital.
A delegação cabo-verdiana parte este domingo, dia 30, para o Rio de Janeiro.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1117 de 26 de Abril de 2023.