Não há duas sem três, após os pacotes de 2005 e 2012, há mais um financiamento da agência norte-americana a caminho do arquipélago. Depois dos apoios para aumentar o crescimento económico do país e reduzir a pobreza – o primeiro – e para melhorar infra-estruturas e fazer reformas políticas e institucionais para fortalecer os direitos de propriedade e aumentar o acesso à água potável e ao saneamento – o segundo – este terceiro compacto tem por objectivo a integração económica regional.
“Ainda não há montantes, no momento próprio serão definidos, agora teremos de fazer as fases que são necessárias para podermos identificar bons projectos de âmbito nacional e regional africano, termos uma boa equipa e depois iniciar as negociações”, disse o Primeiro-ministro, quando se soube que o país tinha sido escolhido para receber mais um compacto da Millennium Challenge Corporation (MCC), agência independente, criada pelo Congresso dos EUA em 2004 e separada do Departamento de Estado.
E os Pequenos Estados Insulares Africanos – Cabo Verde, Comores, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Madagáscar, Maurícias, São Tomé e Príncipe, Seicheles e Zanzibar – exigiram acesso a financiamento para combater as alterações climáticas.
Os SIDS africanos estão a pressionar para ter acesso ao financiamento de adaptação para combater os impactos das alterações climáticas que ameaçam os meios de subsistência e a sobrevivência futura, como ficou claro durante o evento paralelo à COP28, no Dubai, realizado pela Comissão Climática dos Estados Insulares Africanos (AISCC) com o tema “Transição para um Futuro Resiliente ao Clima”.
TIC
Em Novembro, Cabo Verde esteve na Web Summit, em Lisboa, com uma delegação de mais de 50 pessoas, incluindo dez startups de base tecnológica. A Health 360 (Santiago), Hidro Energy (São Vicente), The Best of CV (Santiago), Ocean Vision (São Vicente), LESS (São Vicente), Nha Kretxeu (Santiago), NosERP (Santiago), YA (Santiago), OutSorcing (Santiago) e Come In CV (São Vicente), foram as dez startup cabo-verdianas seleccionadas para participar na maior feira de tecnologia do mundo.
Já o Índex Global de Inovação concluiu Cabo Verde produz pouca inovação para o nível de investimento feito. O arquipélago é o 91º país entre as 132 economias analisadas. Na África Subsaariana, apenas Maurícias (57ª) e África do Sul (59ª) classificam-se nas 60 primeiras economias mais inovadoras. Entre as outras economias da região, seis classificam-se entre as 100 primeiras do mundo: Botswana (85ª), Cabo Verde (91ª) – que regressou ao IGI em 2023 –, Senegal (93ª), Namíbia (96ª), Gana (99ª) e Quénia (100ª).
Entretanto, o presidente do conselho de administração do Parque Tecnológico de Cabo Verde, Carlos Monteiro, disse que nove empresas com contratos assinados com o Parque Tecnológico de Cabo Verde (Techpark CV) iam começar a operar em Novembro.
O Parque Tecnológico, localizado na zona de Achada Grande Frente, nas imediações do Aeroporto Internacional da Praia, tem capacidade para acolher 40 empresas, dependendo do espaço ou área solicitado, do sector público e privado, ligadas às tecnologias de informação.
E se África está a atrair cada vez mais nómadas digitais, Cabo Verde está também na corrida para aliciar os trabalhadores remotos. O primeiro objectivo é ser um país modelo a nível da sub-região e depois subir para o escalão global. Há duas cidades que se destacam entre os melhores destinos do continente: Praia e São Vicente, segundo a listagem da NomadList, uma das plataformas de referência para trabalhadores remotos. A lista é liderada por Nairobi (Quénia), Marraquexe (Marrocos) e Cidade do Cabo (África do Sul), aliás, nos 10 primeiros lugares, Marrocos e África do Sul têm três cidades cada um.
Cada cidade foi pontuada segundo uma série de critérios. Praia, por exemplo, teve óptimas classificações nos custos, na diversão, na temperatura e na capacidade de bem receber estrangeiros, notas médias na segurança, acessibilidades, locais para trabalhar, Internet e no item cidade amiga das mulheres e má pontuação em questões como a qualidade do ar, racismo, nível de educação formal, segurança rodoviária, start-ups, na capacidade de falar inglês e foi considerada uma cidade pouco amiga da comunidade LGBTQ+.
São Vicente também teve óptimas classificações nos custos, na diversão, na temperatura e na capacidade de bem receber estrangeiros e em itens como as acessibilidades e cidade amiga das mulheres. Teve notas médias na segurança, racismo, locais para trabalhar e cidade LGBTQ+ friendly e más pontuações no nível de educação formal, start-ups e na capacidade de falar inglês.
“Nós temos esta vontade de posicionar o país como um local para onde os nómadas podem vir”, disse ao Expresso das Ilhas o Secretário de Estado da Economia Digital, Pedro Lopes, “mas vamos aprendendo também o que são as necessidades. O nomadismo digital é algo recente. O país tem de perceber exactamente o que é que os nómadas digitais precisam”.
Cerca de 35 milhões de nómadas digitais cruzam actualmente o mundo, destes, mais de 70 mil estão em África. Dos 70.479 nómadas digitais que vivem no continente, 22.411 estão em Marrocos e 20.402 na África do Sul. Tanzânia (4482), Quénia (4328) e Namíbia (3091) fecham o top5.
Em Cabo Verde, no ano passado, e tendo como base apenas números de pessoas que têm participado no programa de remote working do Ministério do Turismo, passaram pelo país entre 300 e 400 nómadas digitais. A maioria veio da Europa, alguns dos Estados Unidos e o tempo de permanência estimou-se entre 3 e 6 meses.
Dados que podem mudar, para melhor, porque Cabo Verde está entre os 10 destinos que os nómadas digitais mais querem conhecer.
Custos, Sol, segurança, qualidade do Wi-Fi e cuidados de saúde, por esta ordem, são os factores que mais influenciam a escolha dos destinos por parte dos trabalhadores remotos, e segundo um relatório da Flatio – uma plataforma de alojamento para nómadas digitais – Cabo Verde está entre os destinos onde os nómadas querem experimentar viver (o país surge em 7º lugar; o Brasil, em 2º, a Madeira, em 3º, e Portugal, em 6º, são os outros destinos lusófonos presentes no ranking).
“A chegada de nómadas digitais a Cabo Verde pode ser considerada como uma evolução positiva”, disse ao Expresso das Ilhas Nicolas Gassner, um dos fundadores da CaboWork, uma plataforma digital lançada pelo operador turístico alemão Reiseträume Kapverden em 2022.
Economia nacional
Três objectivos, cinco prioridades, quase 86 milhões de contos – são estas as principais directrizes do Orçamento de Estado para o próximo ano. Durante a apresentação do documento, em conferência de imprensa, o ministro das finanças, Olavo Correia, garantiu a subida do ordenado mínimo, a descida da dívida pública, a queda da inflação, o aumento do número de beneficiários da pensão social, mais dinheiro para os municípios e subsídio de desemprego para os trabalhadores domésticos.
“Quando se começa a elaborar o Orçamento do Estado, temos de ter a perspectiva que ninguém tem todas as soluções para todos os desafios”, disse depois ao Expresso das Ilhas o Ministro das Finanças. “O Orçamento, mais do que um instrumento anual, um exercício de escolhas anuais, é parte de um objectivo maior, no tempo, mas também na profundidade, que tem a ver com a nossa ambição. A ambição de desenvolver Cabo Verde”, sublinhou Olavo Correia.
E Cabo Verde foi uma das economias que mais cresceu, este ano, na África subsaariana, mas para o resto da região as perspectivas continuaram sombrias. A crescente instabilidade, o fraco crescimento das maiores economias da região e a incerteza persistente na economia global afectaram negativamente as projecções, de acordo com o Africa’s Pulse do Banco Mundial. Segundo o relatório, há mesmo o risco dos anos 2015-2025 se transformarem numa “década perdida”.
Na banca nacional, o IIB Group Holdings, assim como a Coris Holding e o First Atlantic Bank, foram os investidores seleccionados pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) para disputarem a compra da sua participação maioritária no Banco Comercial do Atlântico (BCA). Esta shortlist foi aprovada pelo governo português, em Conselho de Ministros, para a aquisição da participação directa de 54,41% e indirecta de 5,4% (através do Banco Interatlântico) da CGD no BCA – segundo a Resolução do Conselho de Ministros, a CGD recebeu três intenções de aquisição de entre um conjunto de 46 potenciais investidores.
Como explicou ao Expresso das Ilhas, em entrevista, o presidente do conselho de administração do International Investment Bank (IIB), Sohail Sultan, o foco é continuar a fazer crescer a franquia africana, porque acredita que existem enormes oportunidades para construir uma instituição financeira regional focada em facilitar e financiar o comércio regional. O responsável disse esperar que o processo de venda do BCA fique concluído no primeiro trimestre do próximo ano, ou, o mais tardar, no primeiro semestre de 2024.
E em Julho, a Vinci recebeu os certificados que transferiram a gestão dos aeroportos e aeródromos de Cabo Verde, da ASA para a empresa Cabo Verde Airports. Por esta concessão, o Estado cabo-verdiano vai receber 80 milhões de euros e a operadora terá ainda de pagar, anualmente, uma percentagem das receitas brutas, de 2,5% nos primeiros 20 anos, subindo para até 7,0% nos últimos 10 anos.
Turismo
Instituto do Turismo previu que no próximo ano mais de um milhão de turistas poderão visitar o país. Número que deverá duplicar até 2030. Segundo os dados projectados pelo Instituto do Turismo, e a que o Expresso das Ilhas teve acesso, 2023 deverá terminar com um total de mais 911 mil turistas em Cabo Verde.
Também o número de empregos gerados pelo Turismo deverá duplicar até 2030. Segundo os mesmos dados, daqui por sete anos, o sector do Turismo será capaz de gerar mais de 43 mil empregos sendo que, actualmente, são cerca de 20 mil pessoas que estão a trabalhar na área turística.
Já em 2022, o turismo em Cabo Verde cresceu 481,5%, fixando-se nos 785.272 visitantes, num desempenho considerado “bastante favorável” e que atingiu níveis pré-pandémicos, conforme o relatório do banco central, publicado de Agosto.
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Modelo esgotado
Em Julho, um relatório do Banco Mundial agitou as águas económicas do arquipélago, ao considerar que o modelo de desenvolvimento de Cabo Verde apresenta sinais de esgotamento desde 2008.
O documento comparou também o desempenho de Cabo Verde com outros Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento e concluiu que o país tem uma produtividade muito baixa em relação aos outos.
Em geral, nas últimas três décadas, o crescimento abrandou e é muito mais volátil do que em países comparáveis. A taxa de crescimento anual de Cabo Verde caiu de uma média de 10,1% na década de 1990 para 7,2% na década de 2000, e para 1,2% na década de 2010.
O choque resultante da pandemia provocou a maior contracção económica registada e expôs as vulnerabilidades do modelo de crescimento. Como resultado, o PIB caiu 14,8% em 2020, a segunda maior descida na África subsaariana.
O impacto da guerra na Ucrânia piorou a inflação, aumentou a insegurança alimentar dos mais vulneráveis e agravou a desigualdade.
E em Cabo Verde, o sector informal continua responsável por mais de metade dos empregos, segundo as estatísticas do mercado de trabalho do Inquérito Multiobjectivo Contínuo (IMC), publicado pelo Instituto Nacional de Estatística. No entanto, números têm baixado nos últimos sete anos.
95.708 pessoas estavam empregados no sector informal, no ano passado, uma taxa de 53,8 por cento do total de empregos no arquipélago. A Praia, com 29.747 pessoas, é o concelho onde se regista maior número de empregados informais, seguido de São Vicente, com 15.744 e Santa Catarina, com 8.951.
Terminamos com a economia para o próximo ano, segundo os dados do OE2024, a previsão para o crescimento económico está à volta dos 5% e a inflação deverá situar-se em cerca de 2,8%. O desemprego, espera-se, que fique na fasquia dos 8,2%. O défice público deve situar-se à volta dos 2,9% e aponta-se a dívida pública para os 110% do PIB.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1152 de 27 de Dezembro de 2023.