Fitch revê classificação de Cabo Verde de Estável para Positivo

PorJorge Montezinho,11 jun 2023 10:57

Cabo Verde, apesar da melhoria, continua a ser considerado país com um risco altamente especulativo. Ou seja, apresenta presentemente condições para cumprir o serviço da dívida, mas está muito vulnerável a alterações adversas na conjuntura empresarial, financeira e económica.

A correcção da Fitch reflecte a perspectiva de crescimento económico, “que esperamos que continue a impulsionar melhorias nas métricas externas e de finanças públicas”, refere a agência em comunicado.

O crescimento real do PIB de Cabo Verde acelerou para 17,7% em 2022 – foi de 6,8% em 2021 – impulsionado pela procura interna robusta e pela recuperação do sector do turismo, com repercussões positivas na economia real. As chegadas de turistas quase quadruplicaram em relação a 2021 e atingiram 102% do nível de 2019, um novo recorde para o país.

O consumo real das famílias aumentou 28% e superou os níveis de 2019. O PIB real do país também superou o nível pré-pandémico.

Este ano, os números já serão diferentes. A Fitch espera que o crescimento real do PIB desacelere para 4,1% em 2023 e 5,3% em 2024, mas permaneça em linha com a tendência pré-pandémica do país e acima da previsão média de 3%, a anterior feita pela agência para ambos os anos. Este menor crescimento terá como reflexo condições monetárias mais apertadas. “Esperamos que o banco central aumente sua taxa básica de juros em mais 150 pb até 2024 (após o aumento de 100 pb para 1% até agora em 2023), com o objectivo de reduzir o diferencial em relação ao Banco Central Europeu”, refere a Fitch.

O crescimento económico continuará a ser suportado pela plena recuperação do turismo (as dormidas no final de 2022 permaneceram 20% abaixo do nível de 2019) e dos transportes (com a adição de novas infraestruturas), bem como das entradas líquidas de Investimento Directo Estrangeiro.

Dívida desce

A Fitch prevê que o défice da conta corrente diminua para 1,9% do PIB em 2024, após uma redução para 3,3% em 2022 (era 11,9% em 2021). A melhoria do ano passado foi impulsionada pelo turismo. “Esperamos que a redução do défice da conta corrente continue a ser impulsionada por uma melhoria nas receitas do turismo e será ainda apoiada por um forte investimento no sector”, diz a Agência de Rating.

As entradas líquidas por meio da conta secundária (impulsionadas por remessas) cairão para 16,2% do PIB em 2024 (foram 20,6% em 2020), mas permanecerão bem acima dos 13,9% de 2019.

Este forte crescimento, explica a Fitch, vai estimular a redução da dívida: “a dívida de Cabo Verde caiu significativamente para 120,9% em 2022, de uma alta histórica de 143,7% em 2021, impulsionada por um forte crescimento nominal do PIB de 25%. Prevemos que a proporção caia ainda mais ao longo do nosso horizonte de projecção, para 111,9% do PIB em 2024, impulsionada pelo crescimento nominal do PIB de 15,5% em relação a 2022”.

A taxa média ponderada de juros do stock total da dívida é de 1,9%, e de 1,0% para a dívida pública externa. Além disso, 88,1% do stock da dívida tem taxa de juros fixa (83,5% para a dívida externa e 100% para a dívida interna), o que alivia os riscos de subida das taxas de juros globais. Enquanto isso, o prazo médio da dívida total é de 16 anos, subindo para 21 anos para a dívida externa. “Acreditamos que o risco cambial, com 70% do total da dívida externa, é mitigado pela peg de Cabo Verde ao euro”, sublinha a Fitch.

Já os passivos contingentes, continuam expressivos: “os passivos contingentes do governo diminuíram em 2022, mas permaneceram significativos e representam um risco importante para o balanço do governo soberano. O passivo total das empresas estatais totalizou 38% do PIB no final de 2022 (48% do PIB se a dívida do governo for incluída”, refere a agência.

A Fitch prevê que as reservas internacionais de Cabo Verde aumentem para os 764 milhões de dólares em 2024, (705 milhões de dólares em 2022. A cobertura dos pagamentos externos correntes pelas reservas internacionais permanecerá bem acima dos pares, apesar de um declínio devido a importações mais fortes. A cobertura será de 5,4 meses em 2024.

A Fitch espera que as necessidades brutas de financiamento de Cabo Verde atinjam 11,6% do PIB em 2023 e 9,5% em 2024. “Reflectirá os défices fiscais, os gastos abaixo da média e as amortizações totais de 7,6% e 6,3% do PIB em 2023 e 2024. Cabo Verde fará face a estas necessidades de financiamento através de desembolsos externos do sector oficial, incluindo o FMI, o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento. O restante será atendido através da emissão no mercado doméstico de títulos”.

Os custos de financiamento deverão permanecer contidos devido ao carácter concessional dos desembolsos externos e às condições favoráveis do mercado interno.

São os próprios países que convidam a agência para avaliar o ambiente político e económico e a situação financeira para determinar uma nota. Países em desenvolvimento procuram atingir a melhor nota possível, para obter investidores, levantar fundos e aquecer a economia. 

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O rating é uma medida da capacidade de um emitente (empresa ou país, por exemplo) de fazer face ao serviço de uma dívida (capital e juros), dentro do prazo estabelecido.

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Escala de classificação de risco Fitch Ratings

AAA - Mais alta qualidade

AA - Qualidade muito alta

A - Qualidade alta

BBB - Boa qualidade

BB - Especulativo

B - Altamente especulativo

CCC - Risco substancial

CC - Risco muito alto

C - Risco excepcionalmente alto. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1123 de 7 de Junho de 2023.

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Autoria:Jorge Montezinho,11 jun 2023 10:57

Editado porAntónio Monteiro  em  6 mar 2024 23:28

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