Os números não são todos maus, mas também já foram melhores. Segundo os dados do Banco de Cabo Verde, sobre os indicadores económicos e financeiros do primeiro trimestre de 2024, a procura interna está ainda fraca, em comparação com o trimestre anterior. O investimento deverá continuar a contrair, embora de forma menos expressiva. Como se chegou a esta conclusão? Há uma redução das importações de materiais de construção e uma desaceleração nas importações de bens de equipamentos.
O consumo, diz o BCV, deverá manter-se moderado, uma vez que se regista também um abrandamento das importações de bens de consumo. Os indicadores mostram ainda uma moderação da procura externa líquida, face ao trimestre anterior, associado ao abrandamento que se espera da procura turística no país.
O PIB, em volume, cresceu 6,6% (em termos homólogos) no quarto trimestre de 2023, o que se compara com um crescimento de 2,6% registado no trimestre anterior. Do lado da procura, esta evolução positiva deveu-se à redução das importações de bens (em 17%) associado à contração da procura interna e ao aumento das exportações de serviços (em 9,3%) beneficiando da dinâmica da procura externa turística no período.
Turismo a travar
Os dados disponíveis, segundo o Banco Central, apontam para uma evolução favorável das contas externas no primeiro trimestre de 2024. Este avanço deverá ser favorecido pelo desempenho positivo – que se espera – das exportações de serviços de turismo devido ao aumento (ainda que moderado) da procura externa turística.
Alguns indicadores, seguidos pelo Banco de Cabo Verde, apontam para um crescimento mais comedido da procura turística no país, no primeiro trimestre de 2024. De acordo com dados da SISP, de Janeiro a Março de 2024, a movimentação na rede vinti4 com cartão internacional cresceu 26,6% em termos homólogos (31,7% entre Janeiro e Março de 2023).
Já de acordo com a AAC, de Janeiro a Março de 2024, o movimento de aeronaves e de passageiros internacionais aumentou em, respectivamente, 20,1% e 21,9% em termos homólogos (33,9% e 46%, entre Janeiro e Março de 2023).
Inflação e contas externas
Com a redução dos preços, no primeiro trimestre deste ano, os bancos centrais dos principais parceiros de Cabo Verde mantiveram inalteradas as suas taxas de juro de referência. O Banco Central Europeu anunciou que poderá considerar a redução do nível de restrição da política monetária, se confiar que a inflação está a mover-se de forma constante em direcção à meta de 2%. No entanto, alertou que as pressões internas sobre os preços permanecem fortes.
Em Cabo Verde, as pressões inflacionistas continuam a diminuir: em Março de 2024, registou-se uma queda das taxas de inflação homóloga e média anual, fixando-se, respectivamente, em 0,3% e 2% (1,3% e 3,7% em Dezembro de 2023). Esta descida reflecte a queda dos preços dos produtos energéticos e o abrandamento dos preços dos produtos alimentares no mercado internacional.
A balança corrente apresentou um superavit de 2.343,5 milhões de escudos (défice de 1.320,9 milhões de escudos em período homólogo do ano anterior), explicado, diz o BCV, pelos aumentos registados nas exportações de serviços de viagens de turismo (em 22,4%), nas reexportações de combustíveis e viveres nos portos e aeroportos nacionais (em 24,5%) e nos rendimentos das reservas internacionais líquidas (em 465,2%), bem como, pela redução das importações de bens e serviços (em 5,1%). Do outro lado, a contribuir negativamente para a evolução da balança corrente, destacam-se a redução das remessas dos emigrantes (em 7,9%), das exportações de serviços de transportes (em 21,6%) e das outras transferências correntes privadas (donativos de individualidades e instituições sem fins lucrativos) em 2,1%.
Contas públicas
As contas públicas registaram, em Março de 2024, uma melhoria, com o défice a fixar-se em 94,2 milhões de escudos (défice de 521,5 milhões de escudos, no período homólogo de 2023) reflectindo o aumento das receitas fiscais e das outras receitas, bem como o abrandamento das despesas correntes e das despesas com activos não financeiros.
As receitas fiscais cresceram 11,2% em termos homólogos, o que é uma moderação face ao crescimento registado no período equivalente (21,8%). Esta evolução das receitas dos impostos traduz também o abrandamento da actividade económica.
O stock da dívida do Estado, incluindo e excluindo os Títulos de Rendimento de Mobilização de Capital (TRMC), a 31 de Março de 2024, abrandou, para os 318,8 e 307,8 mil milhões de escudos, representando, respectivamente, 113,2% e 109,3% do PIB projectado pelo BCV para 2024.
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Classificação de bancos domésticos de acordo com a sua importância sistémica
O Banco de Cabo Verde tem de publicar até ao dia 31 de Maio de cada ano a lista das instituições de crédito classificadas como Bancos Domésticos de Importância Sistémica (Domestic Systemically Important Banks, D-SIBs, na sigla em inglês).
A metodologia determina que a classificação assenta numa pontuação média de quatro indicadores, com pesos distintos:
O BAI (88 pontos), o iiB (88) e o ECOBANK (57), ficaram abaixo dos 95 pontos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1175 de 5 de Junho de 2024.