LBC/FT: O que dizem os jornalistas?

PorSara Almeida,23 jun 2024 13:45

O segundo dia da Sessão do GIABA foi dedicado à formação de cerca de 40 jornalistas dos 15 Estados-membros da CEDEAO. O momento permitiu consolidar conhecimentos, mas também partilhar experiências. Ismaël Ouedraogo, jornalista do Burkina Faso – o país mais afectado pelo terrorismo em 2023 – e Dominic Hlordzi, do Gana – país que lidera rankings das avaliações do GIABA– falam um pouco dos seus países, dos desafios que os jornalistas aí enfrentam na cobertura destas problemáticas e da sua participação neste evento do GIABA.

Ismaël Ouedraogo - Burkina Info

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“Todas as guerras são alimentadas pelo dinheiro”

Ismaël Ouedraogo é jornalista e director-geral da estação de televisão Burkina Info, que emite a partir de Ouagadougou.

O seu país foi, em 2023, o mais afectado pelo terrorismo, de acordo com o Índice Global de Terrorismo (GTI). Aí terão ocorrido, um quarto das mortes relacionadas com o terrorismo, a nível mundial, num total de 2000 mortes em 258 incidentes terroristas.

Assim, para este jornalista burquinabê, o atelier do GIABA constituiu-se um momento importante, não só pela abordagem ao Branqueamento de capitais, que “afecta todos os países do mundo”, mas em particular pela questão do Financiamento do Terrorismo (FT), que massacra o seu país.

“Todos chegaram ao entendimento de que a luta que vai ser travada é a luta efectiva contra o FT. Se conseguirmos cortar as fontes de financiamento dos grupos armados, se conseguirmos limitar o mais possível a circulação de dinheiro sujo, isso ajudará, decisivamente, no quadro da luta contra o terrorismo”, referiu.

Sem acesso a financiamento, os terroristas terão dificuldade nas suas deslocações para atacar as cidades, exemplifica. “Também reduzirá a insegurança desenfreada, porque todas as guerras são alimentadas pelo dinheiro”.

Como jornalista, Ismaël aponta que o maior desafio enfrentado “é ter informação de qualidade a toda a hora”.

“O segundo desafio é o facto de esperarmos muito dos jornalistas”, acrescenta. É-lhes cobrado constante envolvimento e muitas vezes são tratados como se fossem eles próprios os decisores.

Ora, isso prova também “que temos um papel importante a desempenhar, e essa importância tem de se reflectir nos resultados, e no trabalho que é feito”, observa.

Quanto à sessão do GIABA, em concreto, Ismaël avalia-a como muito positiva uma vez que permitiu alargar os conhecimentos sobre LBC/FT, reforçar competências e partilhar experiências.

“É sempre útil quando as pessoas se reúnem sobre um tema relevante para dizer: é assim que os outros países fizeram, é assim que os outros países podem fazer, é assim que as nações são avaliadas”.

São acções, considera, que tornam os jornalistas mais competitivos e mais capacitados para lidar eficazmente com o LBC/FT e uma iniciativa que incentiva um trabalho jornalístico que “mesmo que seja difícil no início, a longo prazo pode-se fazer. Acho que a iniciativa do GIABA insere-se nesta lógica de apoiar e esperar que estes encontros continuem a dar frutos”.

O Burkina Faso é governado por uma junta militar, que tomou o poder em Setembro de 2022 por via de um golpe de Estado. A junta liderada por Ibrahim Traore tinha prometido realizar eleições democráticas em Julho deste ano, mas anunciou em Maio que irá manter-se no poder durante mais cinco anos. Juntamente com o Mali e o Níger, o Burkina Faso comunicou a 28 de Janeiro a sua intenção de abandonar a CEDEAO.

Ismaël Ouedraogo escusou-se comentar esta retirada do seu país, salientando que é “uma decisão puramente política”.

Mas lembra: “toda a África fica a ganhar quando há paz e estabilidade em todo o lado”.

Dominic Hlordzi - Gana

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“É muito difícil fazer reportagens de investigação sobre LCB/FT porque as pessoas envolvidas são poderosas”

O Gana é um dos países “exemplares” da sub-região, bem cotado nos índices de Democracia e que possui, de acordo com a Repórteres sem Fronteiras, “um cenário mediático dinâmico e pluralista”, muito embora haja uma crescente pressão do poder políticos sobre os jornalistas. Em termos de combate à LBC/FT o país também é um dos mais bem colocados nas avaliações mútuas e outros instrumentos de avaliação da temática.

Dominic Hlordzi, jornalista da Ghana Broadcasting Corporation (GBC), emissora pública ganesa, e secretário da Associação de Jornalistas do Gana, considera que cobrir estes temas no seu país pode ser fácil ou difícil, dependendo do tipo de histórias que se pretende transmitir.

“É fácil fazer histórias simples, mas quando são histórias de investigação jornalística torna-se difícil”, refere. Isto porque as pessoas envolvidas nestas práticas têm bastantes recursos e poder, e haverá represálias.

Assim, o melhor, em investigação, é fazer um trabalho em rede, onde o jornalista não é identificado, aconselha. Além disso, ao fazer-se uma investigação clandestina, é mais fácil obter informação. No seu país, garante, já há vários jornalistas de investigação que trabalham em equipa, o que está a melhorar a cobertura destes assuntos.

Apesar dos constrangimentos, Dominic reconhece que o Gana tem um quadro legal favorável ao trabalho jornalístico, por exemplo, no acesso à informação. O país está dotado, desde 2019, da Lei de Direito à Informação cujo objectivo é, precisamente, permitir que os cidadãos, em particular os jornalistas, acessem a informações dos órgãos públicos.

Se por exemplo, “eu pedir determinadas informações a um banco e o banco recusar, ou a qualquer ministério e eles não me derem, com base no que está implicado, posso levar o assunto à Comissão de Direito à Informação”, conta. A Comissão intervirá. Se mesmo assim houver recusa, “vou a tribunal e o tribunal dá-me a informação”, acrescenta.

No que toca à LBC/FT em específico, o Gana é também um país bastante cumpridor em termos dos regulamentos e possui igualmente uma “série de leis em vigor” para suportar essa luta.

O próprio Centro de Inteligência Financeira (semelhante à UIF de Cabo Verde), através do qual o GIABA opera, tem feito um trabalho meritório.

“O GIABA é muito eficaz no Gana porque não se limita a educar ou formar jornalistas. Fazem-no para os estudantes, para os jovens, para os líderes da comunidade”, salienta.

Quanto a esta sessão do GIABA, Dominic considera que foi útil pois chamou a atenção para “uma série de coisas que não sabíamos que aconteciam ou que estavam a acontecer”. Assim, apela à continuidade deste tipo de iniciativas, para abrir “horizontes” no que diz respeito a LBC/FT. 

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Autoria:Sara Almeida,23 jun 2024 13:45

Editado porEdisângela Tavares  em  17 out 2024 23:25

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