Muitos, como Filino Lopes, dirigem-se sem sucesso aos transitários, em busca de novidades.
"Venho aqui há vários dias e a resposta é sempre esperar e esperar. A encomenda chegou há vários dias, já nem sei dizer quando. Venho esta semana e dizem-me para vir na próxima. Deixo de tirar um dia de trabalho para vir aqui e é tempo perdido", diz.
Sentada à porta de um transitário, Ivete Duarte já conhece os problemas que se repetem semanas antes do Natal e do Ano Novo.
"Desta vez, a encomenda está aqui há algum tempo, porque a minha mãe recebeu essa informação no Luxemburgo. Já liguei para a agência várias vezes e dizem sempre que talvez noutra altura. Prometem retornar a chamada e não o fazem. Desde ontem que estou a ligar, mas ninguém atende, por isso estou aqui hoje", aponta.
João Monteiro encontra-se na mesma situação. Sem uma resposta positiva do agente transitário, já sabe que pode não receber o seu volume antes do Natal.
"Eles não têm previsão. Segundo eles, a carga do navio anterior ainda não foi descarregada, o que me leva a crer que, antes do Natal, não vou ter mercadoria", acredita.
Os transitários dependem do processamento na alfândega. Adriano Silva, responsável da agência Logis CV, em São Vicente, fala de uma situação complicada.
"Só para teres uma ideia, temos um navio que chegou no dia 26 de Novembro e ainda não entregámos essa carga. Vão dando os volumes aos poucos e ainda não retirámos 50% da carga desse navio. E temos mais dois que chegaram nos dias 6 e 10 de Dezembro. Temos outro navio previsto para o dia 17. É uma complicação. E nós estamos a viver uma situação complicada, porque somos nós que temos de ouvir toda a reclamação, e com razão, porque a carga passa mais tempo no porto do que no trajecto que faz desde a origem”, refere.
Izete Ramos, da Rangel Logística Cabo Verde, lamenta a falta de melhorias na agilização dos processos de desalfandegamento, apesar da situação ser de conhecimento público.
"É uma situação recorrente. Todos os anos sabem que, nesta altura, há muito movimento, mas a forma de trabalhar tem sido a mesma. Não temos visto melhorias para agilizar os processos. Nós, por exemplo, o barco chega no dia 17 de Dezembro. Não estamos a ver os clientes a tomarem a sua carga antes do Natal, nem do Fim de Ano. Não temos como fazer uma previsão para a entrega da carga”, lamenta.
Alfândega e Enapor anunciam respostas
A Alfândega do Mindelo garante já estar a tomar medidas. O director, António Vezo, aponta o aumento de pessoal a partir deste sábado.
"Estávamos reunidos agora mesmo, justamente para aumentar o número de pessoas e afectar o maior número possível de colaboradores para podermos dar uma resposta mais célere, dada a quantidade de pequenas encomendas neste momento. Também vamos ver se fazemos a parametrização das pequenas encomendas. Em vez de passar todas as encomendas pelos pequenos scanners, ver se os fora de formato conseguimos passar no scanner de grandes contentores. Vamos ainda discutir com a Guarda Fiscal, porque há toda uma questão de segurança que temos de salvaguardar”, afirma.
Do lado da ENAPOR, o administrador-delegado do Porto Grande, Edmar Santos, recorda que, por esta altura do ano, há sempre um aumento exponencial de mercadorias. Além do prolongamento do horário de trabalho a partir de amanhã, o responsável garante a entrada em funcionamento de um segundo scanner.
"Tivemos uma pequena avaria com um dos scanners, mas contamos que volte a estar operacional ainda hoje e assim poderemos contar com os nossos dois scanners. Se as pessoas começarem a antecipar o envio das suas mercadorias e os navios começarem a trazer os contentores mais cedo, facilita", adianta.
Questionado se a realização da FIC, que aconteceu nos armazéns da ENAPOR, poderá ter contribuído para o atraso no processo de desalfandegamento, o responsável responde: "teve um impacto mínimo, mas não foi preponderante para termos esse atraso, pois na última semana de Novembro já tínhamos os armazéns disponíveis para entrega."
A ENAPOR assegura que descarrega uma média de quatro contentores por dia, pelo que está a analisar, com os parceiros, a criação de alternativas aos scanners, de forma a aumentar o fluxo de mercadorias.
Recorde-se que a Direcção Nacional de Receitas do Estado anunciou o aumento da capacidade de inspecção, novos horários e uma maior coordenação entre entidades. A medida visa responder à crescente procura pelos serviços aduaneiros, típica da época festiva.