Investimento em pesquisa e desenvolvimento resulta em industrialização sustentável e diversificação económica, defendeu António Pedro, Secretário Executivo Interino da Comissão Económica para África (UNECA). Só assim o continente vai conseguir aproveitar a tecnologia para ter uma África verde, inclusiva e resiliente.
António Pedro falou na abertura do Quinto Fórum Africano de Ciência, Tecnologia e Inovação 2023, que decorreu em Niemey, Níger.
“Para desenvolver o espírito inovador, precisamos de fortalecer o ambiente favorável através de políticas informadas, aumentar o investimento em pesquisa e desenvolvimento e aproveitar o apoio do sector privado de forma mais eficaz”, sublinhou o secretário executivo da ECA.
“O maior desafio para a ciência, tecnologia e inovação (CTI) em África é a falta de capacidade humana e tecnológica. Os países precisam fortalecer sua capacidade no campo da ciência, tecnologia e inovação”, disse Habi Mahamadou, Ministro do Ensino Secundário e Superior, Pesquisa e Tecnologia do Níger.
Segundo Mahamadou, embora a CTI seja fundamental para alcançar a agenda de desenvolvimento África 2063 e a agenda ODS 2030, os governos africanos ainda estão atrasados no seu compromisso com a CTI.
Hidrogénio verde
“O desafio actual é fazer com que os chefes de Estado adoptem uma política conjunta e verde de hidrogénio até o final deste ano”, disse Francis Sempore, Director Executivo do Centro da CEDEAO para Energia Renovável e Eficiência Energética.
“O hidrogénio verde na África Ocidental pode parecer utópico agora, mas também o parecia a decisão dos líderes da CEDEAO de adoptar uma política regional de energia renovável em 2013. No entanto, tornou-se impensável para um país não ter energia solar em sua matriz energética,” referiu ainda.
A Alemanha – através da empresa Syntech Fuels GmbH – está interessada em produzir hidrogénio verde em Cabo Verde a partir de resíduos.
“Entre outros, a iniciativa prevê a construção de duas centrais escaláveis de produção de hidrogénio verde, nas ilhas de Santiago e Boa Vista, com capacidade para produção de combustíveis sintécticos e empreendimentos económicos derivados, nomeadamente nos campos da agricultura biológica, água potável e de irrigação, aquacultura, fertilizantes e produtos químicos de alta pureza”, anunciou, em Dezembro do ano passado, o vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo Correia.
No continente, dados da ONU, a energia de hidrogénio exigirá investimentos em infraestrutura para transporte (oleodutos e terminais portuários), armazenamento (tanques de hidrogénio líquido) e uso e venda (estações de abastecimento de hidrogénio e compressores), bem como em capacidades que, entre outras coisas, são necessários para a utilização segura do hidrogénio e para a manutenção de mercados competitivos. A maioria dos países africanos não tem gasodutos extensos nem serviços de apoio relacionados ou indústrias que possam ser facilmente reaproveitadas.
Por exemplo, o projecto de produção de hidrogénio verde na Namíbia, com uma produção anual estimada de 300.000 toneladas de hidrogénio quando totalmente operacional, exigirá um investimento de 10 mil milhões de dólares, mais do que todo o investimento directo estrangeiro da última década e quase o valor do PIB do país, de cerca 12,2 mil milhões de dólares, em 2022.
Para responder a esta necessidade de investimento, a Namíbia está a criar parcerias com empresas de tecnologia.
Necessidades energéticas
Em Cabo Verde, dados do INE, cerca de 95% das famílias têm electricidade, mas a realidade no resto do continente é outra, com mais de metade da população ainda sem acesso, como refere o relatório sobre o progresso africano na consecução dos objetivos da Agenda 2030.
Actualmente, as necessidades de energia em África são atendidas em grande parte por biomassa (cerca de 50 por cento), combustíveis fósseis (22 por cento), carvão (14 por cento) e gás natural (14 por cento), e esta mistura de energia consumida não mudou nas últimas três décadas.
Em relação ao potencial de energia renovável – segundo o relatório de referência sobre o papel das tecnologias emergentes no avanço sustentável da segurança energética na África – o continente possui recursos abundantes, com uma capacidade de energia solar de 10 TW, uma capacidade hidroelétrica de 350 GW, uma capacidade de energia eólica de 110 GW e uma capacidade de energia geotérmica de 15 GW.
O grande desafio que muitos países enfrentam é a questão de como converter esses imensos recursos energéticos em formas de energia para abastecer casas, transportes, empresas, propriedades agrícolas e comunidades sociais de maneira económica, segura e confiável.
Aumento de conhecimento
Uma área significativa de intervenção será o reforço de recursos humanos qualificados. “Muitos dos nossos países investem substancialmente em educação, no sistema universitário, mas quando se trata de extrair recursos energéticos nacionais, os governos ainda trazem profissionais do exterior”, disse, no fórum, o presidente do Africa Development Futures Group, Nkem Khumbah, que pediu um diálogo tripartido entre os governos, as universidades e as grandes empresas para garantir que os programas universitários se tornem estimuladores das aspirações do continente.
Já o responsável sénior para os Assuntos Ambientais da UNECA, Linus Mofor, incitou África a colmatar as suas lacunas tecnológicas, iniciando um diálogo entre os países nas áreas prioritárias de intervenção e reforçando a investigação científica e tecnológica.
O quinto Fórum Africano de Ciência, Tecnologia e Inovação teve como tema: “Acelerar o desenvolvimento e difusão de tecnologias emergentes para uma África verde, inclusiva e resiliente”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1109 de 1 de Março de 2023.