Em entrevista à Rádio Morabeza, Manoel Marcondes Neto fala em erros de gestão e falta de investimento.
O Museu Nacional do Rio de Janeiro, que foi consumido por um incêndio na noite de domingo, 2 de Setembro, tinha um dos maiores acervos histórico e científico do país, com cerca de 20 milhões de peças.
“Houve uma continuidade de uma política de baixíssimo investimento, baixíssimo cuidado, como todos os jornais publicaram, a crónica de uma tragédia anunciada. Então é uma coisa que tem no foco central a gestão. Não é a política, a economia, a história nem é o desastre imprevisto, o foco central, na minha opinião, é gestão”, sublinha.
A instituição, criada há 200 anos, foi fundada por D. João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do Brasil. Entre as peças do acervo, estava a colecção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador D.Pedro I, e o mais antigo fóssil humano encontrado no Brasil, baptizado de "Luzia", com cerca de 11.000 anos.
Manoel Marcondes afirma que a sociedade civil brasileira também tem responsabilidades no que chama de perda irreparável na herança histórica do país.
“ A sociedade civil, que é um importante factor a ser analisado, ela também não tem um belo papel nesta história (…) O que faz uma sociedade ser desenvolvida não são só as instituições do estado, é preciso que haja instituições da sociedade civil e nisso somos muito fracos. Não há um histórico de entidades da cidadania que tivessem cobrado, pressionado por melhores gestões no museu A, B ou C. O Brasileiro criou uma cultura de esperar do Estado diferentemente da cultura, por exemplo, dos Estados Unidos”, aponta
O professor universitário acredita que, apesar da destruição do Museu nacional, devido ao incêndio, não haverá uma mudança de postura, sobretudo na ineficiência de gestão dos patrimónios culturais.
“Como ele acontece no auge de uma polémica política, ele está sendo explorado por dois lados. Do lado de quem acha que isso tem um culpado A e o outro lado acha que há um culpado B. Então, não se assume que a culpa é 100% do Brasil. Os que estão à direita e os que estão à esquerda, todos perderam e todos são responsáveis porque o museu vinha tendo uma visitação cada vez menor, a sua capacidade de atracção reduzida, justamente pela falta de cuidado e investimentos. Ninguém gosta de visitar uma museu em frangalhos”, afirma.
A actividade de memória da instituição estava representada sob a forma de acervo bibliográfico, científico e documental.